Finanças pessoais na palma da mão
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sexta-feira, 22 de dezembro de 2017
Magaléa Mazziotti<br>Reportagem Local

Dar um presente de aniversário prejudicaria minhas finanças no mês. Por causa da minha situação financeira, eu sinto que nunca terei as coisas que quero na vida. Estou deixando a desejar no cuidado com a minhas finanças. Dependendo dos apontamentos que o usuário faz em relação a essas afirmações, o SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito) dá uma nota para ele, por meio do aplicativo SPC Consumidor, disponível gratuitamente nas lojas de aplicativos para Android e iOS. Assim, o usuário poderá calcular o nível de bem-estar financeiro e se comparar à média nacional, bem como receber orientações.
A ferramenta calcula uma nota, em escala que vai de zero a cem. O aplicativo passa a encaminhar orientações personalizadas ao usuário e o convida a refazer o teste periodicamente, avaliando as possíveis mudanças em seu comportamento. "Essa reavaliação cumpre o papel de acompanhamento, uma vez que, assim como em uma reeducação alimentar, o processo é contínuo e passível de recaídas que podem e devem ser corrigidas", compara a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.
O aplicativo faz parte do programa Indicador de Bem-Estar Financeiro, desenvolvido pela SPC Brasil, com apoio da CVM (Comissão de Valores Mobiliários). De acordo com pesquisas realizadas pelo programa, 63% da população brasileira reconhece não estar preparada para imprevistos financeiros. A metodologia de notas segue os preceitos desenvolvidos pelo CFPM (Consumer Financial Protection Bureau), órgão americano de proteção ao consumidor que tem como objetivo medir, periodicamente, o nível de bem-estar financeiro da população.
A mensuração é feita através de entrevistas aplicadas periodicamente a uma amostra representativa dos brasileiros, com um questionário composto de dez questões. De acordo com as respostas, os usuários recebem uma nota. Quanto mais próximo de 100, maior será o nível de bem-estar financeiro. O Indicador é obtido pela média da amostra e pode ser acessado pelo link www.spcbrasil.org.br/imprensa/indices-economicos.
Para a formação da avaliação brasileira, foram ouvidos 808 consumidores de todas as regiões do País e níveis de renda. "O score médio dos norte-americanos, país de origem da metodologia, é de 54, que também fica longe do ideal, mas demonstra que o nível de desenvolvimento de um país interfere no comportamento da população em relação à gestão financeira, por conta de fatores como a qualidade da educação básica, por exemplo", aponta.
A economista explica que o aplicativo tem como propósito a mesma efetividade que uma dieta acompanhada por um nutricionista. "Assim como dá diferença em nosso comprometimento em seguir a dieta quando subimos na balança do consultório, esse aplicativo também visa aumentar a responsabilidade do usuário em mudar seu comportamento, seja pela comparação com o comportamentos dos demais, seja por refazer as perguntas de tempos em tempos e trazer diagnósticos atualizados além das orientações personalizadas", conta.
A "proteção contra imprevistos" é um dos quatro pilares que sustentam o indicador, ao lado do "controle sobre as finanças", dos "objetivos financeiros" e da "liberdade para fazer escolhas". Um dado preocupante apontado pelo SPC é que apenas 12% dos consumidores disseram ter a capacidade de lidar com despesas inesperadas.
"Nossa cultura nos leva a um comportamento arriscado do tipo, 'o que a gente ganha, a gente gasta'. E isso se reflete até mesmo na cultura de algumas empresas e empresários. Precisamos evoluir como sociedade, entender os limites do nosso orçamento para agir de forma consciente e com maturidade", observa o economista da ACP (Associação Comercial do Paraná) e conselheiro do Corecon-PR (Conselho Regional de Economia do Paraná), Claudio Shimoyama. "A palavra de ordem é maturidade financeira. Não se pode mais gastar tudo em dezembro, sem pensar na série de compromissos que chegam no mês seguinte. E isso não está relacionado com o quanto se ganha, mas como se gasta", orienta.
O pontapé inicial para uma mudança de comportamento é colocar no papel ou nos aplicativos a renda e as despesas. "É uma recomendação básica, repetida à exaustão, mas que as pessoas relutam em fazer, embora não tenham como fugir disso", diz Shimoyama. "É preciso puxar a responsabilidade da mudança para si mesmo. Com a planilha, a pessoa tem a visão geral das contas do dia a dia, do que ganha, e pode fazer escolhas e uma gestão de todo o orçamento, planejando uma reserva e ciente de que ninguém está livre de imprevistos", completa.

LUZ AMARELA
A crise econômica prolongada no Brasil acendeu a luz de alerta para a vida financeira do casal Maialu Barros e Mauro Jourdani, sócios-proprietários do Maia Box, no Mercado Municipal de Curitiba. A empresa tem 17 anos e, há mais de um ano, tem encontrado dificuldade de fechar as contas no zero a zero. "Já passamos por altos e baixos , mas essa crise se estendeu muito e ainda não vimos reação", comenta Maialu. "Para manter as portas abertas, cortamos despesas da vida pessoal para reinvestir em nosso negócio, além de achatar as margens, já que o nosso cliente também perdeu renda por conta da crise", conta Mauro.
O casal sentiu necessidade de mudar a forma de gerenciar as finanças tanto do empreendimento, quanto da vida familiar. "Cortamos refeições fora de casa e todos os extras. Hoje entendemos a urgência de separar as contas do nosso negócio das contas de casa. Contratamos um consultor financeiro para fazermos um planejamento em busca de um fôlego financeiro", revela o comerciante.

