O DH (Departamento Hidroviário) do Estado de São Paulo, órgão ligado à Secretaria de Logística e Transportes que administra as hidrovias, recebeu um alerta do CMSE (Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico) informando que a hidrovia Tietê-Paraná poderá ser paralisada em virtude da crise do sistema elétrico.

Imagem ilustrativa da imagem Fechamento da hidrovia Tietê-Paraná representaria golpe no sistema logístico
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O anúncio traz preocupação, já que a hidrovia se consolidou como um dos mais importantes meios de transporte do setor agrícola da economia brasileira. O fechamento representaria um golpe no escoamento de produtos agrícolas, principalmente soja e milho.

“Neste momento, a Hidrovia Tietê-Paraná tem transportado os níveis recordes da safra de soja e milho. No ano de 2020, por exemplo, a hidrovia somou 2,1 millhões de toneladas de cargas transportadas, mesmo com a pandemia. Isso reflete em muitos ganhos para o sistema logístico”, destaca o Departamento Hidroviário, por meio de nota.

Em 2019, a movimentação pela hidrovia foi de 2,5 milhões de toneladas no trecho do Estado de São Paulo. Em 2021, nos cinco primeiros meses, foram transportadas 958 mil toneladas.

Ao todo, a Hidrovia Tietê-Paraná conta com 2,4 mil km de extensão, sendo 800 km no Estado de São Paulo. Conecta os Estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná e São Paulo.

Sobre a crise do setor elétrico, a Secretaria de Logística e Transportes do Estado de São Paulo reforça que o problema afeta diretamente o transporte da produção agrícola do Brasil.

“É por isso que a secretaria entende que é importantíssimo mudar a matriz energética do país para diminuir a dependência das hidrelétricas. A secretaria acredita que tem faltado uma ação mais firme de planejamento para atenuar o problema, que é recorrente e vem se agravando em períodos mais recentes.”

OBRAS

O gerente de Assuntos Estratégicos da Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná), João Arthur Mohr, explica que hoje, na prática, a Hidrovia Tietê-Paraná não atende às indústrias do Paraná.

“Estudos para que esta hidrovia chegue ao Paraná no futuro passam pela derrocagem (retirada de rochas do fundo do Rio Paraná via detonação), na região de Guaíra, para aumentar o calado (profundidade do rio para permitir a navegação)”, explica.

Segundo Mohr, somente após ser feito esse processo que no futuro seria possível a hidrovia chegar do Sul de Goiás com produtos como soja e milho, por exemplo, a Guaíra (PR).

“Em Guaíra poderá haver uma conexão intermodal entre a hidrovia e a Nova Ferroeste, servindo para abrir um canal de exportação hidroferroviário via portos de Paranaguá ou de São Francisco do Sul (SC).”

Além disso, Mohr acrescenta que seria possível, em Guaíra, os produtos serem descarregados e levados via ferrovia ou por caminhões para abastecer com matéria-prima as indústrias de transformação da proteína animal, que transformariam a soja e o milho em ração.

“Essa ração serviria para alimentar pintinhos e suínos, beneficiando a indústria frigorífica, muito forte no Oeste e no Sudoeste do Paraná e também no Oeste de Santa Catarina”, projeta.

INTERRUPÇÃO

O ministro de Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, chegou a declarar recentemente que, em agosto, a hidrovia Tietê-Paraná deveria ter a movimentação de cargas interrompida em função da necessidade de reservar recursos hídricos para a geração de energia elétrica.

À reportagem da FOLHA, porém, a assessoria de imprensa do Ministério da Infraestrutura afirmou que a declaração ocorreu em cima de um cenário possível de continuidade da seca hídrica e seus desdobramentos.

“Ainda não há certeza nem deliberação sobre a movimentação de cargas na hidrovia Tietê-Paraná. Ou seja, sem qualquer informação, no momento, de restrições de transporte e, muito menos, por qual período”, pontuou.

Ainda segundo a nota enviada pela assessoria, o Ministério da Infraestrutura trata o assunto de forma estratégica junto à Agência Nacional de Águas e ao Operador Nacional do Sistema Elétrico.

“Na tentativa de minimizar ao máximo os impactos, estão alinhadas a operação da hidrovia com a necessidade de poupar água nos reservatórios, inclusive com a realização de reuniões técnicas semanais e acompanhamento da Casa Civil da Presidência da República”, conclui.