A indústria queijeira, alvo das fusões e aquisições no início de 1990, teme que as sobreviventes ao processo fechem as portas por falta de capital de giro. ‘‘Foi uma onda que teve início há dez anos e ainda não terminou. As empresas que não estavam em dificuldades financeiras na época estão entrando no neste ciclo’’, afirma Fábio Scarcelli, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Queijos (Abiq).
O setor produziu no ano passado 455 mil toneladas de queijo e gerou uma receita da ordem de R$ 2,1 bilhões. ‘‘Para 2000 a projeção é manter o crescimento de 3% na produção e faturamento’’, prevê.
Segundo Scarcelli, o que ocorre hoje é que os laticínios não estão conseguindo financiar a produção sendo obrigados a buscar créditos bancários. ‘‘Os bancos cobram taxas estratosféricas que chegam a 4% ao mês enquanto a Europa oferece financiamentos com taxas em torno de 4,5% ao ano’’, afirma.
Pelas suas contas, só no ano passado, a entidade contabilizou o fechamento de mais de 20 indústrias. ‘‘Algumas foram vendidas, outras fechadas e os pedidos de falência são muitos’’, conta. Ele cita como exemplo a São Vito, com seis unidades e há mais de 25 anos no mercado, que decretou falência no final do ano passado. Quatro das seis unidades foram adquiridas pela Laticom Comércio de Alimentos. e as outras duas tiveram as portas fechadas. ‘‘Estamos de olho em novas oportunidades’’, garante Sidney Zanasi, gerente de vendas.
A Laticom faz um caminho contrário à crise. Com 10 unidades fabris nos Estados do Mato Grosso, São Paulo e Minas Gerais, dona das marcas Skandia, Polenghi, Quatá, é a 2ª no ranking nacional. De acordo com Zanasi, as vendas vêm crescendo a cada ano. ‘‘A produção deverá ficar 48% acima do ano passado e o faturamento terá créscimo de 42%’’, estima.
Além da falta de capital, a defasagem nos preços, segundo Scarcelli, é outro problema que aflige os produtores. ‘‘Hoje existe uma defasagem de preço de 10% que não será repassada’’, reclama. Segundo ele, o mercado não está comprador, impedindo o repasse total dos custos. ‘‘Neste ano não conseguimos reajustar as tabelas acima de de 5%’’, diz. O leite, matéria-prima, acrescenta, teve aumento de 31% em 1999, e representa custos de 55% no produto final. ‘‘Estamos arcando com os custos há tempos’’, se queixa.
Estratégia - Para tentar minimizar os problermas do setor, os fabricantes de queijos de todo país estão agendando a primeira reunião, que deverá acontecer em São Paulo, para discutir estratégias de redução de custos. Um pool de distribução formado por indústrias nacionais será um dos pontos debatidos entre os empresários. ‘‘O abastecimento não será possível se as empresas não se juntarem melhorando a logística e barateando custos’’, afirma Scarcelli.
Se a fusão na entrega do produtos vingar ele acredita que os custos podem cair até 10%. ‘‘As despesas com frete são altas e se houver otimização da frota todos serão beneficiados’’ afirma.
Outra frente que os fabricantes pretendem atacar em breve será junto ao governo, deste vez, do estado de Minas Gerais, pleiteando a redução do ICMS, nos mesmos moldes de São Paulo.
Os queijos tipo mussarela, prato e Minas, tiveram as
alíquotas reduzidas de 18% para 7% no Estado de São Paulo. ‘‘Se Minas seguir a mesma prática aumenta os nossos ganhos’’, diz.
A próxima investida será contra os supermercadistas. ‘‘Vamos tentar negociar com os supermercadistas a queda na margem de lucro que hoje oscila entre 50% e 80%. Será uma forma de aumentar nossas margens’’, conta o presidente da Abiq. Cícero de Alencar Hegg, diretor da Laticínios Tirolez Ltda., diz que neste quadrimestre houve queda de 50% na rentabilidade da empresa.