As relações comerciais entre Brasil e EUA representam US$ 110 bilhões em estoque mútuo de investimentos e cerca de US$ 80 bilhões em trocas anuais de bens e serviços. Também há um número elevado de empresas brasileiras nos EUA e norte-americanas no Brasil, afirma Abrão Neto, vice-presidente executivo da Amcham Brasil, câmara norte-americana de comércio.

Imagem ilustrativa da imagem Expectativa de comércio Brasil-EUA com eleição de Biden é positiva
| Foto: Arquivo Folha

Com as eleições norte-americanas, a expectativa é que os EUA continuem a olhar para o Brasil como um parceiro econômico e político importante na América Latina, opina Neto. “Por outro lado, com a eleição de Biden, o sucesso do aprofundamento da integração comercial passará pela capacidade dos dois governos de construir um relacionamento pragmático e construir resultados positivos para ambos os países”, ele completa.

Embora as trocas comerciais entre os países tenha caído 25% entre janeiro e outubro de 2020 na comparação com o mesmo período de 2019, muito em função da crise econômica causada pela pandemia, pela queda do preço do petróleo e, em menor escala, das restrições comerciais em setores como o siderúrgico, o vice-presidente enumera avanços importantes na relação comercial entre Brasil e EUA nos últimos dois anos.

Um deles é a conclusão do Acordo de Salvaguardas Tecnológicas, que permite ao Brasil explorar, a partir do Centro de Alcântara, no Maranhão, o lançamento comercial de satélites, que representa um mercado mundial de US$ 5 bilhões por ano. Neto cita ainda a assinatura recente de acordos para a facilitação do comércio e transparência nos negócios bilaterais e a cooperação em áreas como energia, indústria da defesa e financiamento.

No Paraná, as exportações para os EUA chegaram a US$ 830 milhões em 2020, o equivalente a 6% de tudo o que o Brasil exporta para o País. Entre os principais bens exportados estão produtos da indústria de madeira, alimentos, cerâmica, máquinas e equipamentos, móveis, entre outros, afirma Neto.

As importações paranaenses dos EUA em 2020 são da ordem dos US$ 1,4 bilhão, ou 16% do total importado pelo Brasil do país norte-americano. O vice-presidente da Amcham destaque combustíveis, químicos, fertilizantes, farmacêuticos e automóveis como os principais produtos importados dos Estados Unidos pelo Paraná.

Os EUA são o País mais procurado pelas empresas que buscam a ajuda do WTC (World Trade Center) South Brazil para fazer negócios com o exterior, afirma Hiago Tavares, gerente de Negócios Internacionais da entidade. Segundo ele, a facilidade de fazer negócios - com poucas barreiras comerciais e sistema tributário mais simples - e o fato de os EUA serem um grande mercado consumidor são alguns motivos que justificam o interesse brasileiro por negócios com o País. “O brasileiro tem cultura de gostar dos EUA. É facil fazer negócio com o país comparado a fazer negócio com o Brasil. É o maior mercado consumidor e de lá tem muita facilidade de ir para o Canadá ou então outros países.”

Apesar de ser um grande mercado consumidor, o Brasil por outro lado, perde credibilidade frente aos negócios internacionais devido à complexidade do seu sistema jurídico e tributário, diz Tavares.

PRAGMATISMO

Com a eleição de Biden, o gerente opina que a questão ideológica deverá ser deixada de lado e Brasil e EUA passarão a fazer negócios pura e simplesmente. Mesmo com um presidente “trumpista”, a expectativa é que forças internas aconselhem o líder a deixar as preferências de lado e a fazer alianças como tem que ser feito. Políticas ambientais também podem interferir nos negócios, mas de forma geral, Tavares diz acreditar que as relações entre os dois países tendem a melhorar. Um dos motivos é a política protecionista de Trump, que com a entrada de um democrata deve acabar. “Trump tinha uma política muito protecionista, chegou a tarifar o aço brasileiro e outros itens brasileiros, fazendo com que perdêssemos parcela de mercado.”

Sobre as perspectivas para a relação comercial entre os dois países nos próximos anos, o vice-presidente da Amcham diz esperar que os países “trabalhem de maneira pragmática”. “Há muitos temas em que os dois países possuem interesses complementares e que podem ser o caminho inicial para uma relação construtiva, como energia renovável, bioeconomia, eficiência agrícola, agtech, infraestrutura, entre outros. Havendo boa vontade e esforço conjunto, haverá ganhos para os dois países.”