Eram 19h30 desta quinta-feira (3) e a loja estava completamente vazia. Com roupas e a acessórios a partir de 25,99, a gerente da unidade, Carla Yasmim Barbosa assegura que a cliente encontra o look completo num dos pontos mais tradicionais do Calçadão de Londrina. "Temos uma expectativa que os próximos dias sejam bem melhores. Talvez esse vazio seja porque choveu à tarde e o clima mudou, então muitas pessoas não se animaram neste primeiro dia", expõe Barbosa. Com uma equipe formada por cinco profissionais, a gerente considera o número suficiente para dar conta da demanda de fim de ano. "Nosso espaço físico é pequeno e somos bem agilizados. Não contratamos nenhum trabalhador extra e no máximo o que podemos precisar, é um estoquista", diz.

Imagem ilustrativa da imagem Estreia do horário especial do comércio é tímida
| Foto: Gustavo Carneiro

Como um bom cavalheiro, o vendedor de livros e pintor Valdecir da Silva aguarda a esposa e a filha do lado de fora de uma loja. Cuidando das três sacolas delas, ele conta que é morador de Cambé e sempre foi paciente nessas horas. "Estão comprando roupa e sapato para elas. Ainda não é presente para ninguém, não", comenta. Silva explica que fez questão de prestigiar o primeiro dia de funcionamento do comércio em horário especial de Londrina. "Eu gosto de comprar só em Londrina. A gente acostuma, tem mais opção e preço melhor".

O ambulante Feliphe Duarte também decidiu dar uma esticada na jornada de trabalho. Com a fruta da estação fresquinha, a lichia, Duarte programa-se para seguir firme juntamente com o comércio até a véspera do Natal. "O carro-chefe é o moranguinho e as pessoas acabam comprando presentes e também uma frutinha, que é saudável", vende. Moradora de um apartamento da avenida Paraná, a cabeleireira Maria Costa observava o movimento de um dos bancos do passeio. "O que eu preciso comprar, resolvo durante o dia, mas vim hoje pra fazer hora e ver o movimento. Gosto muito dessa época, de ver as pessoas circular, a cidade mais iluminada e isso me anima", afirma.

A vendedora Carolina Dias se diz frustrada com o dia inaugural do horário estendido. "Fraquíssimo. Assim não gosto", reclama. Mas Dias acredita em dias e noites melhores de vendas no comércio de rua. "Quero agito, acho que a chuva espantou". Das 9 às 22 horas, Carol, como é conhecida por muitos clientes, diz que tem pique de sobra para o atendimento. Na loja de variedades que comercializa acessórios femininos como bijuterias, bolsas, eletrônicos, maquiagem e adornos para a casa, Carol cuidava da entrada de clientes e do uso de álcool em gel. "Estou acostumada a trabalhar até de noite. Tomara que bombe o comércio com fila nos caixas, reposição de mercadorias e até reforço na segurança. Estou preparada", confirma.

Ainda comemorando o aniversário, que foi em 25 de novembro, a aposentada Zenaide Vicente negocia a compra de uma máquina de lavar roupas. "Vai valer como presente de aniversário, Natal e comemoração de Ano Novo", alegra-se. O modelo que suporta até 12 quilos de roupa já é visto pela aposentada bem do ladinho do tanque. "A outra não é velha, mas tá lerda e roupa limpa e cheirosa é uma grande alegria. Sem contar que com essa posso lavar até edredom", celebra.

Vendedor de uma loja de departamentos, Carlos Eduardo Bongiovani se diz insatisfeito com o horário ampliado. "Minha escala agora é das 8 às 19 horas, mas não enxergo essa uma decisão assertiva. Ficamos desgastados, o movimento não está bom faz tempo e sem contar que isso reflete muito na nossa rotina pessoal, no horário de comer, de pagar as próprias contas, de organizar a casa e ter vida social". O horário habitual de Bongiovani é das 10 às 19 horas. "Totalmente desnecessário", reforça. Em uma loja de departamentos em que a semana passada havia promoção os preços estavam renovados. O sabão líquido de 3 litros passou de R$15,99 para R$19,99, o chocolate com sete unidades agora entrega 6 por R$10 reais e a bebida láctea que era comercializada a R$ 2,49 passou a R$4,99.

O consultor de vendas Luiz Ricardo Vieira tem a mesma linha de pensamento e uma dúvida que o deixa inseguro. "Estamos na pandemia. Passamos a oferecer tantas formas de compra e acessibilidade que aumentar o tempo de trabalho na loja física é um erro. A decisão vai contra os riscos do Covid-19, deixa os comerciários mais expostos e chega a ser uma incoerência ficar aberto até as 22 horas, sendo que há um decreto estadual com toque de recolher às 23 horas. Até fecharmos e sairmos para ir pra casa, tem até o risco de sermos multados", reflete. Viera afirma que um cliente seu que é médico se mostrou bastante preocupado com essa prolongamento do atendimento ao público. "Ele trabalha no Hospital Evangélico e ficou indignado, pois a pandemia está aí", alerta. O consultor também comenta que as vendas da Black Friday já mostraram que o comportamento do consumidor está arredio. "As pessoas estão inseguras, aqui nas várias quadras do Calçadão sabemos que nenhuma loja atingiu os percentuais almejados e além de ser desgastante para a equipe, aumenta o consumo energia, principalmente por causa do ar-condicionado", argumenta. "É um desperdício de energia, em todos os sentidos, mais o risco do Covid-19", acrescenta.