SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Alguns dos maiores empresários do Brasil montaram um fundo inicial de R$ 5 milhões para fazer chegar cestas básicas a cerca de 60 mil pessoas em 52 favelas e comunidades pobres durante a crise do novo coronavírus.

Entre as regiões atendidas na primeira fase do projeto estão, entre outras, o Capão Redondo e a Vila Nova Cachoeirinha, na capital paulista, cidades do interior como São José do Rio Preto (SP), o Complexo do Alemão, no Rio, e outras capitais, como Belo Horizonte, Vitória e Maceió.

A iniciativa é do Instituto Gerando Falcões, organização social sem fins lucrativos, e a ideia é que ela seja ampliada com doações de mais empresas e de pessoas físicas.

Os chamados "puxadores" da ação são os empresários Jorge Paulo Lemann (AB InBev), Abilio Diniz (Península), Pedro Bueno (Dasa), Olavo Setubal Jr. (Itaú), David Feffer (Suzano) e os sócios da 3G Capital Alexandre Behring, Mario Cunha Campos e Pedro Batista.

A Accenture, empresa de tecnologia e gestão, participa com a criação de um aplicativo que permitirá a líderes comunitários cadastrarem as famílias mais vulneráveis que receberão um vale para as cestas básicas e outros itens, como frascos de álcool em gel.

O laboratório Dasa e a GSC, empresa do grupo, também ajudarão a treinar, a partir desta terça (24), as pessoas que participarão da entrega das cestas em pontos predeterminados. O objetivo é tentar reduzir o risco de eventual contaminação pela Covid-19 dos envolvidos no projeto.

Além dos primeiros R$ 5 milhões, a ideia é desencadear uma campanha nacional para arrecadar e ampliar os fundos. Eles serão organizados e distribuídos para além das 52 comunidades iniciais pelo Instituto Gerando Falcões.

A entidade --com gestão certificada pela Ambev e auditada pela KPMG-- é uma ONG sem fins lucrativos para a promoção social de crianças e adolescentes e capacitação profissional.

Segundo Edu Lyra, fundador da Gerando Falcões, algumas personalidades, como o ex-jogador Ronaldo Fenômeno e a apresentadora Ana Paula Padrão, já se comprometeram a divulgar a iniciativa.

"A ideia é arrecadar, nas próximas semanas, pelo menos 1 milhão de cestas básicas e ajudar no combate à fome e à Covid-19. Precisamos que os líderes liderem. Não é hora de covardia", diz Lyra.

Segundo ele, as primeiras cestas básicas devem ser entregues no começo de abril.

Lyra também já conversa com o governo de São Paulo para disponibilizar a tecnologia do aplicativo para um eventual programa oficial --o mesmo será feito em relação ao governo federal.

Outros empresários que participam da iniciativa são Nizan Guanaes e Donata Meirelles, a família Hawilla, Thiago Oliveira, Bernardo Paiva, Claudio Carvalho, João Paulo Coelho e Bruno Setubal, além da startup ZUP.

Um dos maiores problemas do isolamento humano provocado pela epidemia no Brasil é como prover renda para os 38,3 milhões de trabalhadores informais no país, cujo rendimento médio pode cair de cerca de R$ 1.400 mensais para quase nada.

Os R$ 200 que o governo agora promete fazer chegar até eles equivalem a um sétimo disso. E haverá dificuldades em encontrá-los por meio do Cadastro Único da Caixa Economia Federal, devido a inconsistências nos endereços da lista.

Em relação às favelas, o último Censo do IBGE mostrou que o Brasil tinha aproximadamente 12 milhões de pessoas (cerca de 6% da população) morando em 6.329 "aglomerados subnormais" em 323 municípios.

Metade dessas moradias fica no Sudeste --sendo 23% em São Paulo e 19% no Rio de Janeiro. Belém era a capital brasileira com a maior proporção de pessoas residindo em favelas: 54,5%, ou mais da metade da população. Salvador (33%), São Luís (23%) Recife (23%) e o Rio (22%) vinham a seguir.

Considerando-se apenas a população carioca, praticamente um em cada cinco era morador de favelas.

Além de figurar entre as moradias que menos têm serviços básicos, as favelas brasileiras também concentram a maior parte da pobreza extrema no país.

Outros dados do IBGE, do ano passado, mostram que cerca de 13,5 milhões de brasileiros vivem com menos de R$ 145 por mês, o maior contingente da série histórica, iniciada em 2012.

Desde o início da crise econômica, em 2014, 4,5 milhões de brasileiros passaram a integrar essa parcela da população em situação miserável.

Em quatro anos, até 2018, o aumento foi de 50% no número de miseráveis. No mesmo período, a renda dos 5% mais pobres no Brasil caiu 39%, segundos a FGV Social.

A crise também provocou um aumento da desigualdade de renda por mais de quatro anos consecutivos. No período, os mais pobres não só foram os mais afetados pelo desemprego como perderam mais rendimentos.

Entre o fim de 2014 e o ano passado, a renda per capita do trabalho dos 50% mais pobres no país despencou 17,1% enquanto a dos 10% mais ricos subiu 2,5% em termos reais (acima da inflação). Já o 1% mais rico foi quem mais ganhou: 10,1%.