São Paulo - O KC-390, da brasileira Embraer, derrotou o americano Lockheed Martin C-130J Super Hércules na disputa para ser o novo avião de transporte da Força Aérea da Holanda. Serão cinco aviões, a serem entregues a partir de 2026.

É o terceiro contrato de exportação do modelo, todos eles no estratégico mercado europeu da Otan (aliança militar liderada pelos EUA). Antes, Portugal havia adquirido cinco unidades e a Hungria, duas.

Segundo o secretário de Defesa holandês, Christophe van der Maat, a ideia inicial era a de comprar quatro aviões, mas os desafios da evacuação do Afeganistão e a situação de segurança na Europa com a Guerra da Ucrânia mudaram o cenário.

Diversos países do continente têm refeito suas contas militares desde que Vladimir Putin invadiu o vizinho, em 24 de fevereiro. Este é o primeiro negócio que a Embraer fecha sob essa nova realidade, que até aqui vinha favorecendo basicamente fabricantes norte-americanos -a mesma Lockheed derrotada na Holanda fornece o moderníssimo caça de quinta geração F-35, que a guerra fez virar item de compra da Alemanha.

Não há valores divulgados, mas Van der Maat disse ao Parlamento holandês nesta quinta que a previsão com a ampliação das horas de voo estimadas para os aviões é de algo entre EUR 1 bilhão (R$ 5,3 bilhões) e EUR 2,5 bilhões (R$ 13,36 bilhões).

É um volume bastante polpudo, mas que inclui gastos futuros de manutenção. No negócio húngaro, de menor escala, o pacote com dois aviões e apoio tecnológico saiu por US$ 300 milhões (R$ 1,5 bilhão no câmbio atual).

"A Embraer está honrada com a decisão. Reconhecendo que ainda há muito trabalho a ser feito nos próximos meses, estamos comprometidos com o sucesso desta nova fase de cooperação. Neste processo, a Embraer tem o compromisso de aprofundar ainda mais a colaboração com a indústria local e os centros de pesquisa", disse a fabricante brasileira em nota.

A vitória também é estratégica por ter sido sobre a mais recente versão do Hércules, o mais venerando avião de transporte militar do mundo, que voa desde os anos 1950.

O modelo J está tentando ganhar concorrências para substituir os 137 aviões de versões anteriores operados pelos países europeus da Otan -por óbvio, a disputa é bastante mais difícil, para não dizer impossível, no suculento mercado norte-americano, o maior do mundo.

Além disso, os contratos no exterior dão um ânimo extra ao programa do KC-390, que em sua versão sem capacidade de reabastecer outros aviões é chamado de C-390, após a turbulência do seu contrato de origem com a FAB (Força Aérea Brasileira).

O negócio de R$ 7,2 bilhões (R$ 12 bilhões corrigidos), fechado em 2014, previa a entrega de 28 aviões até 2027. A FAB refez sua programação operacional e financeira, reduzindo a compra pelo mesmo valor para 22 unidades até 2034, mas seu comandante, Carlos de Almeida Baptista Junior, afirmou recentemente que o número final deverá ser de 15 aeronaves.

A relação de mais de 50 entre Força e Embraer, que foi criada pelos militares e privatizada em 1994 para grande sucesso comercial no mercado, ficou abalada. Em entrevista à Folha, Baptista Junior enfatizou que a empresa agora deve tratar a FAB "como uma cliente". Do outro lado, pessoas ligadas à Embraer se queixam do que veem como paternalismo dos fardados no relacionamento.

Até aqui, cinco KC-390 já foram entregues à FAB, que anunciou prioridade para os caças suecos Gripen, aumentando a encomenda inicial de 36 para 40 unidades e negociando mais 26 aviões em um segundo lote. O modelo será feito em conjunto com a própria Embraer no Brasil.