A taxa Selic (Sistema Especial de Liquidação de Custódia), que representa os juros básicos da economia brasileira, está em alta. Atualmente, está em 5,25% ao ano, sendo que começou 2021 em seu menor nível, a 2%, e deve terminar acima de 7%. Essa alta da taxa tem levado investidores a questionar se devem ter mais cautela com aplicações de renda variável, que são aquelas que não apresentam um índice de rentabilidade fixo no momento da contratação. “A renda fixa fica mais atrativa porque vai acompanhar a evolução da Selic”, explica a economista e empresária Angelina Nunes Santos. “Ou seja, a Selic é usada como referência da renda fixa. Investimentos atrelados ao CDI (Certificado de Depósito Interbancário) podem ser uma boa alternativa. Como a renda variável é imprevisível e a taxa Selic está em alta, acaba que a renda fixa passa a ser mais atrativa”, afirma.

Imagem ilustrativa da imagem Especialistas e investidores dão dicas sobre como aproveitar a alta da Selic
| Foto: Arquivo EBC

“Isso acontece não somente pela cautela do investidor, mas principalmente pela melhor remuneração nos investimentos de renda fixa”, esclarece o economista da Norte Econômico Consultoria e professor de Economia da Kroton Educacional Renan Luquini. “Quando a taxa de juros básica da economia aumenta, os investimentos pré e pós fixados passam a ter remunerações maiores e mais atrativas”. Luquini explica que os investimentos pré-fixados tem sua remuneração atrelada à Selic. “Se esta aumenta, a remuneração aumenta também. Já os investimentos pós-fixados podem ter também sua remuneração indexada à taxa Selic, ao IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) ou à taxa DI, ou seja, também terão seu rendimento maior em um contexto de aumento da taxa de juros. Cabe destacar que a taxa DI é uma taxa de juros interbancário, quando bancos emprestam dinheiro entre si”, aponta. “O IPCA é o indicador oficial da inflação brasileira. Sendo assim, em um contexto de alta dos juros, esses indicadores também apresentarão resultados de alta”, demonstra.

Aplicação de renda fixa é o nome dado aos investimentos que têm uma taxa de retorno definida. “Ao investir nessa modalidade, uma pessoa consegue ter uma previsão real sobre os ganhos, levando em consideração o tempo de aplicação, os índices e taxas de rendimento e o valor investido”, afirma Luquini. O economista diferencia os três tipos de investimento em renda fixa: a pré-fixada, a pós-fixada e a híbrida. “Na primeira, o rendimento é definido na hora da contratação e as condições não serão alteradas”, informa. “Na pós-fixada, toda a rentabilidade é calculada com base em um indicador ou índice de mercado, como a Selic, CDI, IPCA, dentre outros. Já os títulos híbridos apresentam características dos dois outros tipos”, pontua.

A economista Angelina Santos dá alguns exemplos de aplicações consideradas de renda fixa. “Podem ser o CDB (Certificado de Depósito Bancário), Letras de Crédito Imobiliário/do Agronegócio, Certificados de Recebíveis Imobiliários/Agrícolas, Letras de Câmbio, Debêntures, Tesouro Direto e caderneta de poupança”, informa.

“Já na renda variável a rentabilidade é menos previsível e depende de muitas variáveis de mercado”, ressalta Santos. “Por esse motivo, apresentam uma volatilidade maior que renda fixa. Ou seja, o retorno pode se alterar constantemente”. Ela comenta que alguns exemplos de renda variável são ações, fundos imobiliários, moedas e commodities.

“A Selic influencia todas as taxas de juros praticadas no Brasil, sejam as taxas de um banco ao conceder empréstimo, ou as taxas de aplicação financeira”, pontua a economista. O assessor de investimentos Heron Semensato, que trabalha com o mercado financeiro há 10 anos, acrescenta que a Selic funciona como instrumento para controlar a economia nacional. “Com ela é possível equilibrar a inflação, atrair investimento estrangeiro e estimular a indústria. Mudanças na Selic funcionam como gatilhos que, ao serem puxados, vão impactar toda a cadeia econômica.”, afirma.

O professor Renan Luquini alerta, porém, que é importante manter a carteira de investimentos diversificada. “Além disso, as aplicações dependem do perfil do investidor. Se determinado investidor possui perfil mais arrojado, terá uma sensibilidade menor para essas altas de juros”, aponta. Ele explica que é preciso observar o prazo do produto de investimento que se quer adquirir. “Se investir em um produto de renda fixa atrelado à Selic com prazo de 2 anos, por exemplo, somente porque a taxa de juros atual subiu, mas a taxa de juros de longo prazo apresentar uma tendência de queda, o investidor poderá não estar fazendo um bom negócio”, indica.

Perspectivas de investidores e oportunidades do cenário atual

O engenheiro de produção Marcio Borges, que já faz aplicações financeiras desde 2014, conta que, por enquanto, não pretende mudar seus hábitos de investimento. “Acredito que ainda tem bastante espaço para a Selic seguir crescendo”, afirma. “Penso que para o ano que vem, é bem provável que chegue a estar acima de 8%, mais próximo de 10%. Acho que, então, vão surgir algumas oportunidades que talvez me façam sim mudar os hábitos de investimento”, prevê.

O engenheiro mecânico Douglas Miglioli também não chegou a mudar a forma como investe. “Apesar de a alta da Selic favorecer o investimento em renda fixa, eu já tenho minha carteira consolidada com um percentual em renda fixa e outra parte em variável”, conta. “E, no cenário atual, não julgo necessário mudar isso. A renda variável também está muito interessante, tem muitas empresas abrindo IPO (Oferta Pública Inicial, na sigla em inglês - Initial Public Offering), a Bolsa também tem boas oportunidades. Então, eu acredito que a variação do cenário ainda é muito pouca para eu mexer nesse ‘mix’ que eu tenho na minha carteira”, revela.

Semensato relembra que, no início de 2021, as taxas de juros estavam mais baixas que o comum. “Aos poucos voltaremos aos mesmos patamares pré Covid-19. A Selic na época (antes da pandemia) era de cerca de 4,5%”, destaca. “O investidor pode aproveitar esse momento atual com aplicações atreladas à inflação e pós-fixados, e a renda variável também oferece oportunidades. Tudo depende do nível de risco que cada um aceita”, indica. Ele aconselha que, tanto para quem já investe quanto para quem pensa em começar em meio a esse cenário, é recomendado sempre estudar sobre o mercado financeiro e, se necessário, buscar um assessor de investimentos.

“Eu acho que tem bastante gente sem saber que decisão tomar nesse momento”, comenta Marcio Borges. “Você começa a ver novos ativos de renda fixa surgindo com rentabilidades atrativas, que até então não tinha. E tem também o contexto da educação financeira no Brasil, em especial sobre investimentos, que ainda é muito restrita”. O engenheiro avalia que o conhecimento sobre o assunto é necessário para que as pessoas possam tomar suas próprias decisões em momentos de alta da Selic.

Ele confirma, porém, que o perfil do investidor também deve ser levado em conta. “Os investidores que já aplicavam em renda variável, que já conhecem sobre o tema, já investem nisso há bastante tempo e que tem foco no longo prazo, eu acho que esses ainda vão seguir encontrando boas oportunidades na renda variável”, avalia. “Naturalmente, devem estar sempre mais atentos. Mas momentos de alta da Selic em geral desvalorizam ativos de renda variável, e o investidor de longo prazo quer comprar barato para poder carregar esse ativo por algum tempo e ter a valorização desse ativo, sem necessariamente pagar caro. Então, para o investidor em renda variável, acaba até sendo um cenário interessante”, acredita.

Douglas Miglioli também comenta sobre a necessidade de conhecer sobre o assunto e sempre analisar o mercado. “Eu acho que as pessoas devem investir de uma forma com que se sintam seguras”, recomenda. “O dinheiro para ser investido é um dinheiro do qual você não vai precisar a curto prazo, ou seja, não pode ser um capital de giro ou um valor que você tem para pagar suas dívidas. E, com esse dinheiro, você precisa ver o seu apetite para risco e arriscar menos ou mais, claro que com uma avaliação de mercado”. Ele conclui que, para 2022, pode ser que os hábitos de investimento precisem mudar um pouco. “Será ano eleitoral, que é muito conturbado sempre. Então vale muito a pena você olhar com mais atenção as rendas fixas a curto prazo, pois no ano que vem vamos estar mais sujeitos aos riscos”, destaca.

O professor de Economia Renan Luquini também recomenda estudar sobre o mercado para fazer decisões conscientes. “Todo esse contexto, sem sombra de dúvidas, favorece os investimentos pós-fixados e em dólar. Todavia, reforço, isso varia de investidor para investidor e de quais são os seus objetivos financeiros. Busque estudar a sua carteira e seus objetivos e também um especialista, se for o caso, para lhe ajudar”, sugere.

Revisão: Celso Felizardo, editor de Economia