Apesar das dificuldades no setor das franquias tradicionais, os modelos de micros e nanofranquias aumentaram no último ano
Apesar das dificuldades no setor das franquias tradicionais, os modelos de micros e nanofranquias aumentaram no último ano | Foto: iStock

Dados da ABF (Associação Brasileira de Franchising) publicados em março de 2021 mostram que em 2020, ano do início da pandemia de Covid-19, 250 franqueadoras (donas de marcas) faliram. Além disso, quase 100 mil postos de trabalho de franquias foram perdidos e houve uma queda de 10,5% no faturamento anual de franquias no país. Porém, apesar das dificuldades no setor das franquias tradicionais, os modelos de micros e nanofranquias aumentaram no último ano.

“Acredito que a queda nas franquias tradicionais em 2020 pode ser justamente pela pandemia”, considera a economista e empreendedora Angelina Nunes Santos. “Os comércios precisaram passar bastante tempo fechados, muitos precisaram enxugar o quadro de funcionários. Mesmo os que não vieram à falência tiveram queda no faturamento”, pontua.

Santos comenta que os custos para manter negócios grandes tornaram-se, nesse contexto, muito elevados. “As pessoas resolveram investir em empresas menores, que têm um custo menor, no caso das nanos e das microfranquias”, aponta. “Com a pandemia, houve um aumento da taxa de desemprego e as pessoas precisaram procurar novas opções, e viram nas micros e nanofranquias uma oportunidade para iniciar uma nova carreira e investir nisso”, demonstra.

O professor de Economia na Unopar (Universidade Norte do Paraná, Kroton Educacional) e consultor da Norte Econômico Consultoria, Renan Luquini, que é também professor na Especialização em Economia Empresarial da UEL (Universidade Estadual de Londrina), explica sobre o conceito de franquia. “Podemos dizer que a franquia significa uma estratégia de comercialização do direito de uso de uma determinada marca, infraestrutura, know-how, patentes e distribuição”, informa. “É um arranjo comercial no qual a rede franqueadora concede ao franqueado uma parcela do seu negócio”, completa ele.

O professor explica que outra forma de entender o modelo é que ele pode ser classificado como uma espécie de clonagem de um negócio. “Isso propicia que, por meio desse modelo, o serviço, a imagem e o conceito da marca sejam replicados em diferentes localidades, nas diversas unidades espalhadas pelas regiões de atuação.”

“O franchising brasileiro é dividido em alguns segmentos, sendo eles Alimentação, Saúde, Beleza e Bem-Estar, Serviços e Outros Negócios, Moeda, Hotelaria e Turismo, Serviços Educacionais, Casa e Construção, Serviços Automotivos, Comunicação, Informática e Eletrônicos, Entretenimento e Lazer e Limpeza e Conservação”, lista Luquini.

“Basicamente, o que difere as nanos e microfranquias são os valores do investimento”, descreve o professor. “Enquanto as microfranquias possuem valor mínimo correspondente a R$ 80 mil, nos últimos três anos tem se observado a proliferação de um grande número de franquias com investimento muito menor que o ‘teto’ das microfranquias. Essas são chamadas de nanofranquias, com investimento de até R$ 25 mil”, conta. “O que difere esses modelos dos tradicionais são basicamente os valores do investimento e também em alguns casos o tamanho da cidade à qual se destina a franquia”, observa.

Segundo o Portal do Franchising, um dos maiores sites de franquias do mundo em visitação, 40% das páginas mais visitadas do portal entre maio e julho do primeiro ano da pandemia foram sobre micro franquias, 14% a mais que nos primeiros meses de 2020.

Há quase um ano, Angelina Santos tem uma microfranquia do setor financeiro. “Fazemos empréstimos, financiamentos, seguros, consórcios. Optamos por esse modelo justamente pelo apoio que temos da franqueadora”, conta. “Eu entendo que cresceu a procura pelas micros e nanofranquias por terem uma taxa de adesão mais barata, e o investimento para montar uma também é menor”, avalia Santos. “No meu caso, escolhi uma franquia pois já tenho o ‘know-how’ no serviço, além de prestar suporte nas operações. Por ser uma microfranquia, demanda menos investimentos e contratação de pouca mão-de-obra”, revela.

POR ONDE COMEÇAR?

A economista e empresária dá algumas dicas para quem pensa em aderir a uma franquia. “Deve-se observar o desempenho da mesma no mercado, além de consultar alguns franqueados que já aderiram à franquia. Procurar saber o grau de satisfação dos mesmos, faturamento, entre outros aspectos”, alerta. “Se a franquia for comercial, o ponto onde será estabelecida conta muito para o sucesso do negócio. Geralmente as franqueadoras orientam o franqueado na escolha do local”, previne.

Santos recomenda também que, no cenário atual de pandemia, deve-se prestar muita atenção a que tipo de produto ou serviço será ofertado. “Nesse momento, as franquias que oferecem produtos ou serviços essenciais são as mais indicadas”, aconselha. “É importante também procurar saber junto à franqueadora, quais os percentuais oferecidos e sobre qual índice do franqueado é aplicada a remuneração, qual a divisão do território (quantos franqueados na mesma área de atuação)”, informa.

“Caso o franqueador seja o abastecedor de matéria-prima, recomendo procurar saber como e com que frequência os pedidos serão feitos e qual prazo para entrega”, sugere. “Caso a franqueadora não seja o fornecedor, o franqueado terá que desenvolver sua própria rede de fornecedores.”

A economista indica também que os interessados em aderir a uma franquia busquem saber quais as regras de sucessão e repasse. “É importante saber isso para caso o franqueado queira vender a franquia”, comenta. “É preciso ter muito claro o papel de cada uma das partes. Esse é um ponto-chave para uma relação madura e transparente”, afirma. “Além disso, é importante buscar saber quais suportes a franqueadora oferece.”

Santos indica também que os interessados perguntem aos franqueados que já estão no negócio sobre como está sendo o retorno dos investimentos e em que prazo esse retorno ocorreu. “Também sugiro buscar saber quais são as condições do contrato, como prazo de contrato, condições de renovação e rescisão, tanto por parte do franqueado quanto franqueador. É preciso analisar a lucratividade, rentabilidade e tempo de retorno do investimento. Também é interessante analisar a saúde financeira da franqueadora, através das demonstrações contábeis”, conclui.

* Supervisão: Claudemir Scalone (editor interino)

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