Imagem ilustrativa da imagem Como compensar a falta de experiência na busca pelo primeiro emprego
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O momento de dar o primeiro passo para ingressar no mercado de trabalho é sempre marcado por muitas expectativas para os jovens. Conseguir controlar a ansiedade, angústias e a insegurança é fundamental na hora de redigir um currículo ou se preparar para uma entrevista de emprego.

Consultor empresarial e colunista da FOLHA, Wellington Moreira lista uma série de dicas para quem vai começar sua vida profissional, mas faz questão de ressaltar uma das mais importantes: “É preciso lembrar que esse momento é só o início de uma jornada, não é um momento decisivo. Mesmo que passe vexame, é só uma entrevista. Virão outras adiante. O importante é aprender com cada evento, com cada passo”, encoraja.

O consultor menciona algumas das principais dificuldades enfrentadas pelos jovens quando vão montar o primeiro currículo, e como podem afetar a impressão que as empresas terão do candidato. “Muitas vezes, o jovem tem um currículo empobrecido, porque não tem experiências profissionais e, para preencher uma página, fica ‘enchendo linguiça’”, exemplifica.

Uma saída para aqueles que ainda não têm experiências profissionais, segundo ele, é contar as realizações acadêmicas. “Às vezes algum prêmio que ganhou na universidade vai fazer uma diferença, uma bolsa de estudos que ganhou por causa de artigo científico, isso tem que entrar”, ensina. “É importante indicar cursos complementares também. Às vezes a pessoa fez um curso de 16 horas, coloque lá, isso é válido”, complementa.

Moreira cita uma mudança de mentalidade no mercado de trabalho. “Antigamente, as empresas queriam comprovação de experiência na carteira. Hoje, a preocupação não é essa não, a preocupação é saber: ‘você sabe fazer?’. ‘Sei’. ‘Então me mostre’. E isso aparece, então, nas entrevistas”.

Moreira explica que, se o jovem tiver realizações de fora da vida acadêmica que possam ter alguma relação com a carreira que está buscando, essas podem também ser mencionadas no currículo. “Por exemplo, se já foi líder de grupo de igreja, de jovens, já fez um trabalho de voluntariado, um sucesso que teve ou tem num determinado esporte que pratica. Porque quem não tem experiência profissional como jovem, precisa mostrar que tem experiências de vida, o que também é importante”, recomenda. “Se não tiver nem experiências de vida para colocar, fica complicado, a pessoa está ‘dormindo no ponto’. Eu orientaria, nesse caso, para alguém que está fazendo faculdade, buscar algum estágio, algum voluntariado, para adquirir experiências que, se não estão na carteira, pelo menos trazem aprendizados”, orienta.

Como fazer um currículo atraente

Mesmo que o candidato não tenha experiência para a vaga, o currículo pode trazer alguns diferenciais. Design atraente e boa ortografia são fundamentais. “Muitas vezes o design do currículo é pouco atrativo. Tem gente que comete erros de português. Falta formatar melhor, colocar uma fonte bacana. Assim, dá para ver que a pessoa foi pouco cuidadosa”, revela.

“Só para se ter noção, recrutadores pegam o currículo de alguém durante 15, 20 segundos. Se não atrair os olhos, eles não continuam lendo, porque ele recebeu mais 30, 40 currículos. Então, não pode ser também uma fonte muito ‘alegrinha’, que fique difícil a visualização, mas o design tem que ser atrativo, porque é um material publicitário, e precisa saltar aos olhos”, alerta.

Concisão é fundamental. “Um bom currículo deve ter uma página. No máximo duas, mas isso quando o profissional tem lá 20 anos de carreira. No caso de alguém jovem, tem que ter uma página”, afirma o consultor. “E não enviar o currículo no formato Word né? É para acabar!”, expressa. “Tem que mandar em pdf, arquivo fechado. Senão alguém vai abrir o Word lá do outro lado, já mudou. Mandar um currículo no corpo do e-mail também mostra que a pessoa é pouco zelosa com as informações dela, então tem que ter um documento bem acabado, com o nome da pessoa no documento”, adverte.

Para montar um currículo que cause boa impressão, o especialista dá algumas dicas. “Primeiro, é preciso colocar os dados pessoais no topo, o nome de um jeito que seja visível. Toda essa questão do layout, do design, tem que chamar a atenção na mão do recrutador, e uma boa distribuição das informações é uma coisa que chama a atenção”, reforça. “Então, lá no topo, dados pessoais, e-mail e, principalmente, telefone, tanto o celular quanto o residencial. Não precisa colocar data de nascimento, coloque só a idade: 21 anos, por exemplo”, aconselha. O consultor aponta que, para candidatos jovens, não é imprescindível indicar o estado civil. “Ele vai ser fundamental se a pessoa já é casada desde jovem e se já tem filhos, daí é importante citar. Para um jovem, se é solteiro ou casado, nem sempre a empresa espera essa informação, mas, na dúvida, coloque”, sugere.

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“Logo abaixo, deve estar o objetivo profissional: o que a pessoa quer? ‘Ah, eu quero uma vaga de estágio na área administrativo-financeira’, por exemplo. Então tem que escrever isso”, afirma. Ele ressalta a importância de especificar esses objetivos, para que o recrutador não fique com a impressão de que o candidato está “perdido”. “Tem que tomar esse cuidado, dizer exatamente aquilo que quer. Parece que estamos diminuindo as possibilidades, mas não. Na verdade, você foca mais e fica mais claro para quem está recrutando se é o candidato que a empresa precisa ou não”, explica.

“Depois, deve-se indicar um campo de experiências”, diz Moreira. Ele ressalta que, se o jovem não tem experiências profissionais, deve sempre indicar as realizações acadêmicas ou da vida extra-acadêmica que tenham relação com a área. “E, também, por fim, a questão da formação acadêmica, se está fazendo faculdade, indicar logo no topo desse item: ‘Formação Acadêmica: Ensino Superior, Graduação em tal coisa, conclusão em 2022’, por exemplo. E citar também os cursos complementares, desde que tenham relação com a vaga, é claro. Não adianta ficar colocando cursos só para ‘encher linguiça’, também não é o caso.”, orienta.

“E indicar nível de fluência em idiomas, às vezes uma formação que tenha tecnologia, se domina um programa, um software. Por exemplo, alguém que vai trabalhar com design tem que indicar softwares gráficos com que tenha facilidade, o CorelDraw, Photoshop, ou alguma outra coisa a mais. Se a vaga que a pessoa está buscando também exige isso, vale a pena indicar”, informa.

Moreira ressalta também que, além do tradicional currículo no papel ou por e-mail, atualmente é necessário dar muita atenção às redes sociais de trabalho, como o LinkedIn.

E na hora da entrevista?

“A primeira coisa que eu acho crucial é sempre estar bem informado sobre a empresa. O que deixa um recrutador horrorizado é a pessoa chegar lá para uma entrevista, seja presencial ou on-line, e não saber nada sobre a empresa na qual diz querer trabalhar”, destaca o consultor. “Tem que visitar o site, conversar com gente que trabalha lá, saber que tipo de produto a empresa fabrica, se é uma indústria, ou se são serviços, que tipo de serviços oferece, fazer de tudo para descobrir o que eles fazem. Tem candidato que não sabe nem pronunciar o nome da empresa direito, então isso já na entrevista começa muito mal”, exemplifica. Moreira salienta que, atualmente, não é difícil encontrar informações sobre as empresas na internet, e muitas tem redes sociais e canais no YouTube. “Os entrevistadores têm o costume de perguntar: ‘Você sabe o que a gente faz?’. Quando o candidato sabe responder com segurança, já ganha pontos”, ressalta.

O especialista aponta que, no momento atual, muitas das entrevistas têm sido feitas de forma remota, mas que, mesmo assim, é importante que os candidatos busquem passar uma boa impressão. “A roupa deve estar adequada ao tipo de empresa, ao tipo de trabalho que se tem. Não adianta usar um terno ou um tailleur para uma empresa mais despojada. Então, tudo isso de saber qual é o tipo de empresa, ajuda”, recomenda. “E qual é a vaga também. Por exemplo, uma vaga para trabalhar no departamento jurídico, usar um blazer, por exemplo, não seria ruim. Seria adequado, inclusive”, demonstra. “Então, tem que entender qual é o código de vestimenta da empresa, buscar esse tipo de informação, o que não é difícil conseguir hoje, tem muito material publicado das empresas nas redes sociais, é só dar uma olhada”, indica.

“Além disso, para as entrevistas on-line, tem que cuidar do cenário, ter uma boa conexão à web. Há candidatos que às vezes não conseguem ser entrevistados porque não estão num lugar que possa ter uma boa conexão”, relata. “E eu recomendo tentar participar da entrevista por meio de um computador pessoal, não de um smartphone. Porque a pessoa fica numa tela maior, ela consegue passar um pouco mais de expressão do que conseguiria num celular. São detalhes importantes.”, pontua.

Moreira destaca também algumas perguntas de viés mais pessoal que os entrevistadores fazem aos candidatos, e para as quais é bom se preparar. “É necessário buscar ter autoconsciência. Muitas empresas perguntam: ‘Qual é o seu ponto mais forte? Seu ponto mais fraco?’. E aí fugir de respostas clichê, como: ‘Perfeccionismo’, que é a pessoa tentando ‘dourar a pílula’”, adverte. “Não, a pessoa tem que dizer: ‘Olha, meu ponto fraco é esse, eu estou trabalhando para melhorar’, ‘eu não sou disciplinado’, ou ‘tenho dificuldade de organização’”, exemplifica. “Ah, mas não ‘queima o filme’? O que ‘queima o filme’ é a pessoa não ter noção de qual é o ponto fraco dela. Agora, se ela tem essa consciência e consegue dar exemplos do que ela está fazendo para aprimorar esses pontos, isso conta porque mostra que a pessoa tem autoconsciência, tem noção de quem é”, revela.

“Uma outra pergunta bem comum é: ‘Quais são seus objetivos de vida?’. E é comum a pessoa dizer: ‘ah, nunca pensei nisso’, ou não ter a resposta na ponta da língua, isso é preocupante”, afirma. “Outra coisa é: ‘Quais são as suas principais realizações pessoais ou profissionais até o momento?’. Ou: ‘Indique duas realizações que você teve nos últimos 12 meses’. Tem que saber! Porque isso mostra que a pessoa tem refletido sobre a vida dela, tem refletido já sobre a carreira, mesmo que inicial. Então isso traz uma segurança para o entrevistador de que: ‘Nossa, vale a pena. Esse é um jovem já mais centrado’, e é nisso que as empresas procuram focar”, enfatiza.

Moreira reforça também que é importante, durante a entrevista, fazer perguntas sobre o trabalho. “Não é só a empresa que pergunta, o candidato também tem que se mostrar interessado”, indica. “Perguntar: ‘Olha, eu queria saber como é o horário de trabalho? Como vai funcionar? Tem outros estagiários também? O que tenho que fazer? O que não tem que fazer?’. Isso não é ruim”, ressalta o consultor. “Tem entrevistado que fica assim: ‘ah, não perguntei’. E ele perde a chance de se mostrar interessado. Tem empresa que entende isso, quando o candidato não faz perguntas. Afinal de contas, a empresa está escolhendo a pessoa, mas ela também está escolhendo a empresa”, enfatiza.

Além das dicas, o consultor lembra que as entrevistas são experiências iniciais, e que é importante ter consciência de que, se cometerem erros, isso não vai definir a carreira do jovem para sempre. “Com relação ao nervosismo, isso vai acontecer no início. Só tem que tomar cuidado para não falar muita bobeira, no sentido de tentar se mostrar muito inteligente. E lembrar que assim, vamos participar de muitas entrevistas, principalmente um profissional muito jovem”, tranquiliza. “Então, tem que pensar: ‘Se eu não passar, pelo menos eu tenho que aprender’. Não é para estar ‘nem aí’, mas lembrar que esse é um evento que, no início de carreira, talvez seja extraordinário e inédito, ou pelo qual a pessoa tenha passado poucas vezes, mas durante a vida dela, vai ser muito natural participar de outras entrevistas”, salienta. O consultor recomenda que, caso não seja contratado, o jovem procure sempre saber o que pode fazer para melhorar numa próxima oportunidade. “Muitas vezes a empresa dá essa devolutiva, e isso ajuda demais”, aconselha.

Supervisão: Celso Felizardo, editor de Economia