O ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, esteve em Londrina nesta quarta-feira (23) para participar da 38ª Reunião de Pesquisa de Soja, que é promovida pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) Soja. Rodrigues ministrou a palestra “Cenário atual e futuro da cadeia de produção de soja” na abertura do evento.

O ex-ministro disse, em entrevista coletiva, que o Brasil precisa de uma estratégia ampla para continuar tendo protagonismo no mercado da soja. Um dos principais aspectos é manter a evolução da tecnologia, ponto em que o agro nacional é pioneiro.

“Mas não pode parar. A tecnologia é um processo de evolução permanente que, se você parar, a concorrência atravessa”, afirma.

Manter uma visão comercial de longo prazo, buscando acordos comerciais com grandes mercados consumidores, também deve ser uma preocupação do país. Para Rodrigues, “a abundância é muito mais grave que a escassez”, no sentido de que não é bom ter estoques cheios e que cabe aos acordos comerciais abrirem novos mercados.

O ex-ministro também destaca que o investimento em logística não pode ser deixado de lado. Ele diz que “o Brasil conquistou o Centro-Oeste nos anos de 1970 e 1980 com inteligência e renda”, mas sem estradas e ferrovias, por exemplo. A logística desempenha papel central nessa estratégia econômica.

Um outro ponto citado por Rodrigues é o cooperativismo, que pode ajudar a organizar a produção rural em meio à globalização da economia.

“São pontos de um pacote essencial que tem a renda como ponto de partida, e uma renda que considera o Seguro Rural, bancos com crédito funcionando adequadamente, funcionamento muito forte das estruturas de comercialização. Esses pontos, eu diria que estão dentro de um pacote vital, mas o que embrulha esse pacote é a sustentabilidade”, explica.

Inclusive, para o ex-ministro, a sustentabilidade também implica em acabar com o que é ilegal no país. Não é segredo que a imagem do agronegócio brasileiro ainda está arranhada no exterior, sobretudo quando o tema do desmatamento entra em pauta.

No entanto, Rodrigues é enfático ao dizer que as críticas se devem ou à desinformação, ou a interesses comerciais e ideologia. Para recuperar a imagem de um agro sustentável, ele aponta que é preciso “tirar da frente os elementos que perturbam a imagem da gente”.

O fato de o Brasil ter ganhado mercado nas últimas décadas - em 2000, as exportações do agronegócio eram da ordem de US$ 20 bilhões; no ano passado, chegou a US$ 159 bilhões - é apontado pelo ex-ministro como um dos motivos dessas críticas. “Alguém perdeu mercado, e quem perde mercado não está feliz, então vai criar qualquer argumento, vai usar argumento para desmerecer. O argumento é que desmata a Amazônia, tem que acabar com isso. Quem desmata a Amazônia é madeireiro, é invasor”.

Para solucionar esse problema, Rodrigues acredita ser necessário acabar com as ilegalidades e criar uma normativa que limpe a imagem do país no exterior.

‘CAMINHO IRREVOGÁVEL’

O ex-ministro também ressaltou que o mundo caminha para uma mudança da economia tradicional para uma economia verde, cuja descarbonização é ponto central. Os processos tecnológicos para redução da emissão de carbono, por isso, são importantes do ponto de vista sustentável no agronegócio.

No país, uma das iniciativas nesse sentido é a criação do PSBC (Programa Soja Baixo Carbono), que está elaborando uma certificação nacional para os produtores que adotam práticas sustentáveis no campo.

“A soja, o milho, está todo mundo no Brasil em busca disso, de mecanismos de descarbonização que permitam o acesso a mercados no cenário em que esse tema é essencial. É o que estamos fazendo. É um caminho irrevogável, inequívoco, e temos que caminhar para isso. Quem não fizer, vai ficar fora do mercado”, completa.

EVENTO

A 38ª Reunião de Pesquisa de Soja começou na quarta-feira e segue nesta quinta-feira (24), a partir das 8h, no buffet Planalto (avenida Tiradentes, 6429). A programação conta com palestras e painéis técnicos voltados à produção agrícola. Ao mesmo tempo, ocorre o evento Produção sustentável de grãos no Paraná.