Quase 2,7 mil empresas de todo o Brasil travam uma briga para receber os valores referentes a vendas feitas em agosto de 2024, pagas pela máquina de cartões da Inovepay, que ficaram em posse da intermediadora das transações, a Adiq Pagamentos, plataforma do grupo BS2. A estimativa é de que R$ 450 milhões em vendas em cartões de crédito e débito deixaram de ser pagas às empresas que contratavam o serviço.

Das 2.697 empresas lesadas em todos os segmentos comerciais no país, 336 são postos de combustíveis e lojas de conveniência no Paraná, o que teria resultado em um prejuízo de R$ 80,5 milhões. A denúncia foi feita pelo Paranapetro, sindicato que representa os empresários do setor no Estado. Outros estabelecimentos, de outros ramos, e até mesmo postos que não são associados à entidade também devem estar no bolo. Em Londrina, cerca de 20 postos associados foram lesados.

Com sede em Campinas (SP), a Inovepay Soluções em Pagamentos e Serviços Ltda. fornece máquinas de cartão de crédito e débito aos comerciantes. As transações entre o dispositivo e as bandeiras de cartões eram feitas pela Adiq, que recebia os valores e repassava para a Inovepay que, então, transferia o dinheiro aos donos dos estabelecimentos comerciais. O prazo para pagamentos era de um dia para compras no débito e 30 dias no crédito.

Entretanto, no final do último mês de agosto, a empresa foi alvo da Operação Concierge, deflagrada pela Polícia Federal para investigar um suposto esquema de lavagem de dinheiro. A ação resultou em 17 prisões e bloqueios de contas de 200 pessoas físicas e jurídicas. A Justiça Federal determinou a suspensão das atividades empresariais e o sequestro de ativos financeiros nas contas bancárias da Inovepay.

Em seu site, há uma nota de esclarecimento referente à ordem judicial emitida em 28 de agosto de 2024, na qual a empresa alega que a decisão afetou todos os valores provenientes dos pagamentos realizados por meio de maquininhas de cartão, o que a impossibilitou de "honrar com suas obrigações e deveres". A empresa disse que sempre atuou conforme a regulamentação legal e que tenta reverter a medida.

A Adiq afirmou ter liquidado à Inovepay todos os valores transacionados via credenciadora.

Proprietário de dois postos de combustíveis em Japira e Pinhalão (Norte Pioneiro), Fábio Araújo Gomes conta que contratou a Inovepy por conta da taxa, “muito competitiva tanto para crédito quanto para débito”.

Começou a operar com a nova máquina em seus estabelecimentos de menor movimento 15 dias antes do bloqueio das contas da empresa pela Justiça Federal. “Mesmo assim, é um prejuízo de R$ 30 mil. Não recebi metade do que vendi no crédito em agosto e nada das vendas em débito do dia anterior [ao fechamento da empresa]”, conta. “Eu sou pequeno neste ramo, mas, por sorte, não coloquei na maquininha da matriz, mas estamos vendo aí pessoas falando de milhões de reais. Perde o fluxo de caixa, perde tudo.”

Gomes afirmou que tenta, por meio do Paranapetro, auxílio no Bacen (Banco Central), mas, segundo ele, a autoridade monetária afirma não ter como fiscalizar os adquirentes dos direitos das transações. Também reclamou do posicionamento da Adiq, que teria se esquivado da responsabilidade, alegando a antecipação do pagamento dos valores à Inovepay. “Em nenhum momento eu dei autorização para antecipar o meu crédito, então, esse dinheiro tem de estar em algum lugar”, reforçou.

Procurados pela reportagem, o BS2 e a Adiq repudiaram as denúncias feitas pelo Paranapetro. Em nota encaminhada pela assessoria de imprensa, o grupo ressaltou que fez todos os repasses das transações à Inovepay. “E todas essas operações foram comprovadas ao juízo”, salientou.

A empresa considerou “completamente infundadas” as acusações feitas pelo Paranapetro e informou que o BS2 e a Adiq tomarão as medidas judiciais cabíveis para que haja a retratação por parte do sindicato.

A Inovepay não respondeu aos questionamentos feitos pela FOLHA até o fechamento desta edição. Na plataforma on-line Reclame Aqui, que registra as queixas dos consumidores referentes a produtos e serviços, quase 300 reclamações foram feitas contra a empresa nos últimos seis meses. A última delas foi realizada na manhã desta terça-feira (26). Na plataforma, a reputação da Inovepay aparece como "não recomendada".

O Bacen também foi procurado, mas disse que não comenta o fato.