Dólar sobe 5,53% em janeiro, maior alta mensal desde o início da pandemia
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sexta-feira, 29 de janeiro de 2021
JÚLIA MOURA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O dólar acumulou alta de 5,53% em janeiro, a maior valorização mensal desde março de 2020, quando foram tomadas no Brasil as primeiras medidas de isolamento social em razão da pandemia de Covid-19, o que levou a moeda a subir 16% na época.
Entre as divisas de países emergentes, o real teve o pior desempenho no primeiro mês de 2021.
O movimento vem após dois meses de queda da moeda, que recuou 6,81% em novembro e 2,97% em dezembro.
O coronavírus segue como um dos principais fatores para a subida da moeda americana. A alta nos novos casos e a vacinação incipiente estão entre as principais preocupações de investidores.
"A aversão ao risco ganha força, diante de incertezas com o ritmo de vacinação contra Covid-19", disseram analistas do Bradesco em nota nesta sexta-feira (29). Na sessão, o dólar fechou em alta de 0,73%, a R$ 5,4760. O turismo está a R$ 5,653.
Com a piora da pandemia, o estado de São Paulo, que responde por um terço do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil, endureceu na semana passada restrições ao funcionamento de estabelecimentos como bares, restaurantes e shoppings.
Serviços não essenciais deixam de funcionar no período noturno, das 20h às 6h, e aos fins de semana e feriados. Bares e restaurantes podem operar apenas por delivery, o que gerou protestos da categoria.
O risco fiscal brasileiro, com a discussão sobre a volta do auxílio emergencial, é outro fator negativo para o mercado financeiro, pois a criação de mais despesas ameaça o teto de gastos, visto pelo mercado como âncora fiscal do país.
A Bolsa brasileira acumulou queda de 3,32% no mês, a maior desde setembro de 2020, que teve queda de 4,80%.
Nesta sexta, o Ibovespa cedeu 3,21%, a 115.067 pontos. A queda foi impulsionada por temores quanto à paralisação dos caminhoneiros marcada para a próxima segunda-feira (1º), em reposta ao reajuste de 4,4% no preço do diesel nas refinarias.
"Em vista dos efeitos desastrosos das paralisações de 2018, --durante a qual a mobilização da categoria gerou impacto de R$ 15 bilhões (equivalente a 0,2 do PIB)-- a intensificação das articulações por um protesto tem gerado temor no mercado", afirma a equipe da Guide Investimentos em relatório a clientes.
Segundo a corretora, o movimento não representa um risco latente no curto prazo, mas a insatisfação dos caminhoneiros deve continuar pairando sobre a economia brasileira no médio e longo prazo, com a recuperação dos preços de petróleo.
"A inevitável valorização do preço do barril de petróleo -uma consequência da retomada da economia global- deve intensificar sensação de frustração entre os condutores de carga", disse a Guide.
Em sua estreia na Bolsa, a Vamos disparou 19,42% nesta sexta. O IPO (oferta inicial de ações, na sigla em inglês) movimentou R$ 890 milhões. A empresa de locação disse que planeja usar os recursos para comprar novos caminhões.
O viés negativo em Wall Street também pesou sobre ativos brasileiros. Por lá, os índices acionários tiveram a pior semana desde outubro, com investidores avaliando os resultados de testes da vacina da Johnson & Johnson contra a Covid-19, enquanto um impasse entre grandes fundos e pequenos investidores de varejo adicionou volatilidade ao mercado.
As ações da Johnson & Johnson recuaram 3,56% e exerceram uma das maiores influências negativas tanto no Dow Jones quanto no S&P 500, depois que a farmacêutica disse que sua vacina de dose única tinha eficácia de 72% na prevenção à Covid-19 nos Estados Unidos, com um taxa inferior, de 66%, em âmbito global.
O resultado se compara desfavoravelmente ao alto nível de eficácia registrado pelas duas vacinas autorizadas da Pfizer em parceria com a BioNTech e da Moderna, que foram cerca de 95% eficazes na prevenção de doenças sintomáticas em ensaios principais quando administradas em duas doses. As ações da Moderna subiram 8,53%, enquanto as ações da Pfizer subiram 0,11%.
O Dow Jones caiu 2,03% e o S&P 500 perdeu 1,93%. Nasdaq teve queda de 2%.
Apesar do otimismo com a posse do presidente democrata Joe Biden, com esperanças de mais estímulos para a economia, o S&P 500 caiu 1,1% no mês e o DowJones, 2%. Nasdaq subiu 1,42% em janeiro.
Ações da GameStop sobem quase 70% , enquanto IRB recua 6% Após corretoras digitais, como Robinhood e a Interactive Brokers, reduzirem as restrições de compras a ações da GameStop, os papéis subiram 67,87%, a US$ 325, nesta sexta.
Na véspera, quando restrições foram impostas dado o grande volume de compras, os papéis caíram 44,29%.
A cadeia de lojas de videogames é um alvos do fórum WallStreetBets no Reddit, com quase 6 milhões de membros. Nele, pequenos investidores se organizam para provocar prejuízos a grandes fundos que apostavam contra a valorização de determinadas empresas, começando pela GameStop.
O confronto entre investidores individuais e profissionais afetou todo o mercado, à medida que os fundos foram forçados a vender algumas de suas ações de melhor desempenho, incluindo da Apple, para cobrir bilhões de dólares em perdas.
A SEC (Comissão de Valores Mobiliários dos EUA) disse que estava monitorando de perto qualquer delito em potencial, tanto para corretoras quanto para traders de redes sociais.
"O efeito GameStop ainda pesa no fluxo estrangeiro de curtíssimo prazo, uma vez que os fundos afetados pelo short squeeze estão precisando zerar posições para cobrir os prejuízos e nada melhor que o último pregão do mês para fazer o rebalanceamento da carteira", diz Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora.
Segundo ele, a forte queda das siderúrgicas brasileiras no pregão é um exemplo deste movimento, já que elas tiveram fortes ganhos no começo do mês, com a alta do minério de ferro. A CSN despencou 8,24% na sessão.
Já o IRB Brasil RE caiu 6,13% nesta sexta, após salto de 17,82% na véspera, com a atuação de pequenos investidores, inspirados no caso GameStop.
A CVM (Comissão de Valores Mobiliários) alertou nesta sexta que penalizará atuações para influenciar de forma deliberada os mercados no Brasil, na esteira de movimentos de investidores em redes sociais para replicar as estratégias adotadas nos EUA.
"A atuação com o objetivo deliberado de influir no regular funcionamento do mercado pode caracterizar ilícitos administrativos e penais", afirmou a autarquia em comunicado, acrescentando que tem monitorado os movimentos no mercado e as comunicações nas redes sociais.
Já o bitcoin fechou em alta de 4,2% na sexta, a US$ 34.641, após disparar 16,2% na manhã desta sexta, depois de o presidente da Tesla, Elon Musk, colocar a criptomoeda em sua biografia no Twitter.
Musk escreveu simplesmente "#bitcoin" em sua biografia na rede social.