Se o valor do dólar tem atingido patamares históricos esta semana – acima dos R$ 4 – gerando temor e preocupação acerca da estabilidade política e econômica do País, por outro lado a alta da moeda norte-americana tem sido peça-chave para a veloz comercialização de grãos no Paraná pelos produtores, que buscam fazer o melhor negócio, principalmente quando se trata da soja.
Os números de contratos no mercado futuro no mês de setembro estão bem superiores aos do ano passado. Enquanto em setembro de 2014 apenas 5% da soja havia sido comercializada, quando se refere à safra 2015/16 da oleaginosa que começou a ser plantada a partir do dia 16 de setembro a comercialização chega aos 28%. No caso da última safra colhida (segunda safra 2014/15), a comercialização já passa dos 90%, enquanto no ano passado o número era pouco maior de 70% no mesmo período.
A animação, para a soja, é tanto para o preço de lousa (atual), que está na casa dos R$ 70 a saca no Estado (veja o quadro), como no valor do mercado futuro, que paga melhor devido ao maior risco, e pode chegar à marca dos R$ 80. Em Chicago, esta semana, o bushel da commodity estava na casa dos US$ 8,60. Os números são do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Agricultura do Estado do Paraná (Seab).
Ontem, o Deral divulgou também números atualizados da safra de soja 2015/16. A área de plantio paranaense deve ter um leve incremento de 2%, atingindo 5,22 milhões de hectares. Já a produção pode chegar a 17,9 milhões de toneladas, alta de 6% frente aos 16,9 milhões da safra 2014/15. A produtividade esperada é de 3.439 kg/ha.
O analista de mercado da Scot Consultoria, o zootecnista Rafael Ribeiro de Lima Filho, relata que a comercialização futura da soja começou em julho, já diretamente ligada às altas do dólar. "Muitos produtores estão aguardando que o preço da commodity suba ainda mais, fundamentados nos relatórios da USDA, com a expectativa de revisão para baixo da safra norte-americana. Mas a nossa recomendação é que o produtor aproveite o momento e realize o lucro agora", explica.
Na Integrada Cooperativa Industrial, de Londrina, a venda de soja no mercado futuro está intensa. O gerente de comercialização da cooperativa, Alcir Chiari, relata que o produtor já fez volumes de permuta (troca da produção por insumos) e realizou vários contratos, que iniciaram na casa dos R$ 60 a saca e agora já atingem patamares de R$ 73. "O mercado está aquecido e neste momento as vendas começaram a ficar proporcionais às do ano passado, podendo ultrapassar em negociações. Vale dizer que estamos trabalhando num mercado especulativo, ligado às oscilações do câmbio em que tudo é tangível. Todos estão se perguntando se o dólar vai subir ainda mais, ou vai cair. Isso cria toda uma situação na comercialização", salienta ele. A expectativa da cooperativa para a safra 2015/16 é de um recebimento que pode atingir 900 mil toneladas de soja.

Milho


No caso do milho, a comercialização também é maior, mas não de forma tão impactante quanto a da soja. Até o momento, 51% da safra 2014/15 foi vendida, enquanto no mesmo período do ano passado, o número era próximo a 40%. Já o preço está entre R$ 23 e R$ 24 para a saca de 60 quilos, ou seja, em leve evolução. "Não é comum a elevação do preço em plena safra, como está acontecendo agora. Isso está atrelado diretamente à variação cambial do momento, com a alta do dólar", explica o técnico do Deral, Edmar Gervásio.