O valor recebido de volta pode ser usado para novas compras na rede de parceiros da plataforma ou transferido para a conta bancária do cliente
O valor recebido de volta pode ser usado para novas compras na rede de parceiros da plataforma ou transferido para a conta bancária do cliente | Foto: Gustavo Carneiro

Pagar por uma compra e receber parte do valor de volta - quem não gostaria? O cashback é uma estratégia utilizada já há um tempo por estabelecimentos e lojas virtuais de países da Europa e nos EUA para atrair consumidores, e que também começa a ganhar espaço no Brasil.

Em vez de descontos, os consumidores recebem parte do dinheiro de volta em compras realizadas por meio de plataformas de cashback como Méliuz, BeBlue ou Ame, para citar alguns nomes. O valor recebido de volta pode ser usado para novas compras na rede de parceiros da plataforma ou transferido para a conta bancária do cliente, dependendo das regras de cada empresa. O cashback já pode ser utilizado tanto em compras na internet quanto em lojas físicas, onde o pagamento é feito em máquinas específicas do serviço.

O valor do cashback varia de estabelecimento para estabelecimento. A maior parte oferece valores menores, como de 1% a 5% do valor da compra de volta. Mas a reportagem já chegou a encontrar uma promoção com devolução de 100% do preço de um hambúrguer em uma lanchonete da cidade. O valor integral do lanche voltava para a conta do usuário no aplicativo e podia ser usado para novas compras nesse ou em outros estabelecimentos parceiros da ferramenta

Maurício Ribeiro, proprietário de uma franquia de temakis em Londrina, conta que as campanhas realizadas no aplicativo de cashback, com percentuais maiores de devolução para o consumidor, acabam levando novos clientes para o estabelecimento. “As pessoas veem no aplicativo e acham interessante. Quando não conhecem e vêm, acabam retornando por terem gostado do produto.” Segundo ele, nos dias de campanha, o estabelecimento recebe cerca de dez consumidores atraídos pelas campanhas de cashback.

“Já distribuímos mais de R$ 130 milhões para os nossos usuários desde o início da operação”, diz Murilo Silvério, CEO da Beblue. A startup foi adquirida no ano passado pela Omni Financeira. O motivo para a aquisição, segundo Silvério, foi o potencial que a financeira enxergou na plataforma de cashback. De acordo com ele, as promoções via cashback ainda são pequenas na comparação com outros países, mas existe um potencial muito grande no mercado brasileiro. “O Brasil é um dos países que tem um dos maiores volumes de venda promocionada no mundo. O brasileiro é um povo que gosta de promoções, benefícios na hora de comprar.”

Para Silvério, o consumidor brasileiro está mais acostumado aos descontos direto nos produtos. “Mas o que acredito é que quando se trabalha a alavanca do cashback, evita-se a depreciação do preço do produto. É um jeito mais inteligente de fazer campanha com o cliente. Em vez de dar o desconto no produto, o estabelecimento devolve em cashback para o cliente.” Segundo o CEO, quando o desconto é dado diretamente no produto, o cliente pode entrar no estabelecimento só para fazer aquela compra e nunca mais voltar. No entanto, ao fazer a compra por meio do aplicativo de cashback, as chances dele voltar para a plataforma para fazer outras compras na rede credenciada são maiores.

A rede credenciada do aplicativo cresce 10% ao mês, afirma Silvério. “Os varejistas que aderem à ferramenta sentem incremento nas vendas, fidelização do cliente.”

Trabalhando com marketing digital, o empreendedor Fabrício Oliveira, de Maringá viu que o mercado de cashback ainda tinha bastante espaço para crescer. “Atualmente, no mercado on-line, só 2% das vendas passam por um canal de cashback”, afirma. Ao considerar esse um mercado promissor, lançou junto a um sócio uma plataforma do gênero, a Dinvo. Segundo ele, a estratégia ainda é pouco utilizada porque há muita desconfiança por parte dos usuários.

Oliveira explica que o dinheiro dado de volta ao consumidor vem da comissão que a plataforma ganha por ter levado o usuário a realizar a compra no site parceiro. Parte do valor fica com o serviço e parte é repassada ao consumidor. No caso da Dinvo, o dinheiro que o consumidor recebe de volta pode ser transferido para a sua conta bancária a partir dos R$ 20.

Segundo o sócio-fundador da Dinvo, quando o cashback é dobrado em campanhas realizadas pelas plataformas, os sites têm cerca de 20% de aumento no seu faturamento total.

Compensação
Usuário das plataformas de cashback, o médico Dirceu Amilton Müller enxerga a estratégia como mais uma forma de desconto. “Em vez de desconto no preço, a devolução de parte do valor pago.” Além disso, para ele, é uma maneira de recuperar parte de um custo que costuma ser pago às plataformas de pagamento. “Todas as plataformas de pagamento cobram uma taxa pela intermediação. Isso está embutido no preço do produto. Na competição entre essas empresas, em algum momento alguém teve a ideia de atrair os clientes para a sua própria plataforma distribuindo parte dessa taxa de volta para o cliente, com a intenção de fidelizar. Como essa taxa é cobrada de qualquer forma, havendo a oportunidade de recuperar parte desse custo, eu optei por aderir ao sistema.”


Consultor alerta para compras por impulso
Antes de realizar uma compra com cashback, o médico Dirceu Müller diz avaliar se o negócio vale mesmo a pena. “Quando vou decidir entre dois vendedores com o mesmo produto, um com, e o outro sem o cashback, escolho aquele que terá o preço final melhor, e nem sempre será o do cashback.” O recurso é utilizado pelo médico somente para compras realmente necessárias. “O grande diferencial é o de ser um desconto alternativo na comparação de preços de algo que eu estou realmente interessado em comprar.”


Consultor de finanças pessoais e empresarias, Charles Vezozzo orienta os consumidores a tomarem cuidado com as compras por impulso ao usar as plataformas de cashback. Muitos podem se sentir tentados a realizar uma compra nessas plataformas só por causa da vantagem oferecida. Por isso, ele recomenda sempre lembrar dos três “Ps” antes de realizar uma compra: por que estou comprando isso? Eu posso agora? Eu preciso disso agora?


“A regra básica é comprar somente quando precisa, principalmente nessa época de endividamento. Nenhum desconto compensa um produto estragando no armário.” O consultor também orienta sempre a verificar a credibilidade da empresa de cashback e a analisar bem as regras antes de realizar compras pela plataforma.


Apesar do valor devolvido nas plataformas de cashback não ser tão alto, o médico Dirceu Müller avalia que vale a pena somar os valores à economia do dia a dia. “Considerando tudo que se gasta ao longo do mês, pode não parecer muito, mas as pequenas economias se somam ao longo do tempo, e permitem que você disponha de algum conforto ou desejo que não teria sem juntar aqueles vários pouquinhos.”