Destinos regionais são apostas para retomada do turismo
Atrativos próximos e em áreas naturais serão preferidos pelos turistas em função do temor do coronavírus; municípios retomam atividades seguindo protocolos
PUBLICAÇÃO
segunda-feira, 24 de agosto de 2020
Atrativos próximos e em áreas naturais serão preferidos pelos turistas em função do temor do coronavírus; municípios retomam atividades seguindo protocolos
Mie Francine Chiba - Grupo Folha
Com a restrição da circulação de pessoas, o turismo foi um dos setores econômicos mais impactados pela pandemia do coronavírus. Cinco meses após o aparecimento dos primeiros casos, municípios começam a retomar as atividades turísticas seguindo protocolos de segurança sanitária.
Segundo Aldo de Carvalho, diretor de Marketing do Paraná Turismo, autarquia vinculada à Secretaria de Estado do Desenvolvimento Sustentável e do Turismo, a decisão de liberação das atividades do turismo é dos municípios. Em Londrina, onde o setor é impulsionado principalmente pelo turismo de negócios e eventos, a atividade ainda está restrita. Mas cidades da região onde é forte o ecoturismo e o turismo de aventura, as atividades já estão retomando aos poucos.
O Paraná Turismo aposta nas viagens de curta distância – dentro de um raio de 200 km de cidades “emissoras” - e em ambientes naturais para dar o pontapé inicial no plano de retomada do setor. A autarquia se baseia em experiências de países que já passaram pelo auge da pandemia. “A gente se baseou muito no modelo de Portugal, que trabalhou muito com o turismo externo e nunca deu muita importância para o turismo interno”, comenta o diretor.
O turismo regional e em áreas naturais é a aposta mais confiável em um momento em que as pessoas ainda estão com medo frequentar ambientes fechados e de fazer viagens de longa distância, ou têm pouco dinheiro e preferem usar veículo próprio para se deslocar, afirma Carvalho.
Por isso, nas áreas rurais, a retomada do turismo “já está acontecendo”, diz a presidente da Adetur Norte do Paraná (Agência de Desenvolvimento Turístico do Norte do Paraná), Denise Fertonani de Araújo. “As pessoas não vão fazer longas viagens e, por questão de segurança, vão querer pegar o carro e conhecer o entorno. Agora cabe aos destinos turísticos conseguirem se organizar para receber o novo turista.”
SAPOPEMA LIVRE DE COVID
No dia 16 de julho, a Prefeitura de Sapopema (Região Norte) publicou um decreto (138/2020) que estabelece protocolos de segurança sanitária para a retomada das atividades turísticas durante a pandemia. O documento se baseia em recomendações dos governos estadual e federal e de organizações mundiais das áreas de turismo e saúde.
A prefeitura também realizou uma capacitação com empresas e profissionais que atuam no turismo da cidade e concedeu aos participantes um selo - “Sapopema Livre de Covid” -, que serve para os turistas como uma prova de que o estabelecimento tem conhecimento das regras sanitárias necessárias para a reabertura em meio à pandemia. Cerca de 30 empresas e profissionais participaram da capacitação.
Entre as medidas estabelecidas pelo decreto do município estão a obrigatoriedade do uso de máscara de proteção entre colaboradores e turistas, venda on-line de ingressos e diárias, filas com distanciamento mínimo de dois metros, desinfecção de objetos e equipamentos de uso coletivo e higienização das mãos.
O documento também limita o número de pessoas nos estabelecimentos e atrações turísticas. Meios de hospedagem, por exemplo, podem retomar as atividades com apenas 50% da capacidade de atendimento. O Pico Agudo e o Salto das Orquídeas, dois dos principais atrativos da região, deveriam trabalhar, inicialmente, com o limite de 60 pessoas - 30 no período da manhã e 30 no período da tarde - com agendamento prévio.
Após queixa dos atrativos, um novo decreto foi publicado aumentando o número de pessoas permitidas nos locais. O Pico Agudo foi autorizado a receber mais 15 turistas por período, desde que estejam hospedados na cidade, e o Salto das Orquídeas pode agora ter 60 pessoas hospedadas no camping. Os demais atrativos devem receber no máximo 30 visitantes - 15 no período da manhã e 15 no período da tarde, por ordem de chegada ou agendamento de grupos.
RECEITA BAIXA
Nesse período de transição, os atrativos turísticos lutam para equilibrar os custos da reabertura e a receita, que ficou limitada ao número de turistas por dia. Silvana Thomaz Amaral, administradora do Pico Agudo, em Sapopema, diz que a agenda do atrativo está lotada até dezembro, devido à limitação do número de pessoas que o local está autorizado a receber.
Por causa da alta demanda, ela precisou investir em um sistema on-line de agendamento. “Agora temos mais despesas por conta da pandemia, tivemos que providenciar uma série de coisas. Gerou muito mais trabalho, porque temos que estar atendendo rede social, telefone, e a divisa é bem menor.”
O Salto das Orquídeas retoma as atividades no final do mês. Para Thiago Busquete, gestor do atrativo, o novo número de visitantes fixado no último decreto é o “mínimo necessário” para que haja viabilidade econômica para reabrir.
Como o Salto das Orquídeas não cobra entrada, a receita está condicionada ao consumo das pessoas na lanchonete e ao valor do seguro obrigatório. Caso o número de visitantes seja muito reduzido, a receita não cobre a remuneração dos funcionários e outras despesas necessárias para funcionar. “Tem custo maior reabrir do que manter fechado. Tem um número ‘x’ de pessoas que dá viabilidade econômica para reabrir, mantendo o mesmo risco de contágio.”
ALENTO PARA A ECONOMIA
O secretário municipal de Turismo e Meio Ambiente de Sapopema, Miguel Golono, afirma que o decreto foi um “alento” para a economia da região, que possui mais de 40 atrativos turísticos, entre cachoeiras, grutas, hospedagens em grandes altitudes, restaurantes rurais, turismo de aventura, etc. O dinheiro gasto pelos turistas circula em mercados, postos de gasolina, farmácias e outros estabelecimentos da cidade. “Cada real que entra na cidade circula sete vezes antes de sair.”
Durante o período de fechamento, empreendedores que vivem do turismo passaram por dificuldades e toda a economia da região foi afetada. O secretário estima que haja 14 meios de hospedagem e 50 estabelecimentos de alimentação na cidade de cerca de 7 mil habitantes.
“Tinha uma pressão para voltar o turismo, já que o comércio das cidades já tinha voltado. Ainda aguardamos um mês”, conta Golono. De acordo com ele, o retorno das atividades do turismo foi justificado pelo número de casos de coronavírus que, na época, “não estava em ascensão” no Estado e nas cidades emissoras de turistas, como Londrina. Sapopema tem 49 casos confirmados e três mortes decorrentes da doença, conforme o último boletim divulgado pela prefeitura, no último dia 19.
O secretário lembra, no entanto, que o decreto pode ser alterado ou suspenso a qualquer momento, a depender dos indicadores da pandemia.