Desigualdade se mantém em mínima histórica sob efeito do Bolsa Família
Máxima da série ocorreu em 2018, antes da pandemia. Índice é calculado a partir dos dados de rendimento médio domiciliar per capita
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sexta-feira, 19 de abril de 2024
Máxima da série ocorreu em 2018, antes da pandemia. Índice é calculado a partir dos dados de rendimento médio domiciliar per capita
Leonardo Vieceli - Folhapress
Rio de Janeiro - A desigualdade da renda medida pelo índice de Gini permaneceu em 2023 no menor nível de uma série histórica iniciada em 2012 no Brasil, de acordo com dados divulgados nesta sexta-feira (19) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O indicador ficou em 0,518 no ano passado, o primeiro do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Assim, repetiu o patamar mínimo da série, que já havia sido registrado em 2022 (0,518), ainda no mandato do então presidente Jair Bolsonaro (PL).
O Gini reflete a concentração de renda, variando de zero (igualdade máxima) a um (desigualdade máxima). Quanto menor o resultado, mais baixa é a disparidade entre os extremos da população.
A máxima da série ocorreu em 2018 (0,545), antes da pandemia. O índice é calculado a partir dos dados de rendimento médio domiciliar per capita (por pessoa).
Os números integram a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua: Rendimento de Todas as Fontes 2023.
O levantamento vai além do mercado de trabalho e também traz informações de recursos obtidos pela população por meio de iniciativas como aposentadorias, pensões, benefícios sociais e aluguel.
Gustavo Geaquinto Fontes, analista da pesquisa do IBGE, afirma que a ampliação de programas como o Bolsa Família ajudou a segurar a desigualdade na mínima da série no ano passado.
Segundo ele, as transferências funcionaram como uma espécie de contrapeso à elevação mais intensa da renda do trabalho verificada entre os mais ricos.
Na passagem de 2022 para 2023, enquanto o rendimento médio do trabalho cresceu 10,4% entre os 10% do topo da distribuição, a alta foi menor, de 1,8%, entre os 10% mais pobres. A elevação na média geral foi de 7,2%.
De acordo com a pesquisa, o índice de Gini específico do trabalho subiu de 0,486 em 2022 para 0,494 em 2023.
"Teve um efeito que contrabalançou isso, dos rendimentos de programas sociais, particularmente o Bolsa Família. Foi um efeito contrário, beneficiando sobretudo os domicílios de menor renda", afirma Fontes.
O Bolsa Família voltou a ser chamado dessa forma ao ser relançado em março de 2023 pelo governo Lula. Com a decisão, o programa abandonou o nome de Auxílio Brasil, uma das apostas da gestão Bolsonaro.
O IBGE destacou que o Bolsa Família manteve a quantia mínima de R$ 600 em 2023, com a inclusão de novos benefícios de acordo com a composição familiar, o que aumentou o valor médio dos repasses.
Ainda de acordo com o instituto, as transferências do programa chegaram a 19% dos domicílios do país no ano passado -quase um em cada cinco lares. É o maior percentual da série iniciada em 2012.
NORDESTE
Na região Nordeste, o índice de Gini do rendimento domiciliar per capita recuou de 0,517 em 2022 para 0,509 em 2023. O patamar mais recente é o menor da série local.
Mesmo com a redução, a desigualdade registrada no Nordeste ainda é a maior do país. A região agora é seguida de perto pelo Sudeste, onde o Gini subiu de 0,505 para 0,508. O Sul teve novamente o menor índice -o indicador local recuou de 0,458 para 0,454.
"Entre 2022 e 2023, a desigualdade medida pelo Gini apresentou maiores variações nas regiões Norte (de 0,509 para 0,500) e Nordeste (de 0,517 para 0,509), ambas apresentando queda desse indicador", diz o IBGE.
"Ressalta-se que essas duas regiões possuem as maiores proporções de domicílios beneficiados pelo programa Bolsa Família, e essa melhora na distribuição de renda pode ter sido favorecida pelo aumento do valor do benefício médio e pela ampliação da população abrangida pelo programa", acrescenta o órgão.
Os avanços do Gini no Sudeste (de 0,505 para 0,508) e no Centro-Oeste (de 0,493 para 0,498) refletem, em parte, o aumento da desigualdade do rendimento do trabalho, segundo o IBGE.
A renda do trabalho é o componente de maior peso na determinação da massa de rendimentos domiciliares no país.
10% mais ricos ganham 14,4 vezes a renda dos 40% mais pobres no Brasil
Os 10% mais ricos da população brasileira receberam, em média, 14,4 vezes a renda dos 40% mais pobres em 2023, segundo dados divulgados nesta sexta-feira (19) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O levantamento vai além do mercado de trabalho e também traz informações de recursos obtidos pela população por meio de iniciativas como programas sociais, aposentadorias, pensões e aluguel.
Em 2023, a renda média domiciliar per capita (por pessoa) alcançou o recorde de R$ 7.580 por mês entre os 10% mais ricos. A alta foi de 12,4% ante 2022.
Enquanto isso, a renda per capita dos 40% mais pobres chegou a R$ 527 no ano passado, outra máxima da série histórica. O crescimento foi de 12,6% na comparação com o ano anterior.
Segundo o instituto, o ganho de renda verificado em 2023 ocorreu em meio a um cenário de ampliação do Bolsa Família, que substituiu o Auxílio Brasil, melhoria do mercado de trabalho e aumento real do salário mínimo.
Esses fatores, contudo, não foram capazes de eliminar as disparidades que aparecem desde o início da série histórica.
Em 2023, a massa de rendimento domiciliar per capita, que é a soma dos recursos obtidos pela população, bateu recorde no Brasil, segundo o IBGE.
O indicador chegou a R$ 398,3 bilhões, o que corresponde a um aumento de 12,2% ante 2022. Na comparação com 2019, período pré-pandemia, a expansão foi de 9,1%.
Outra forma de medir a desigualdade, diz o IBGE, é por meio da fatia da massa de rendimento que cada segmento da população recebe.
Em 2023, os 10% com a menor renda ficaram com apenas 1,1% da massa. Já os 10% mais ricos receberam 41% do total.
Esse grupo de maior renda, aponta o IBGE, registrou uma parcela da massa quase equivalente à dos 80% da população com os menores rendimentos em 2023 -41% e 43,3%, respectivamente.