São Paulo - Analistas de ações veem com bons olhos as perspectivas para as ações da Copel (Companhia Paranaense de Energia) na Bolsa de Valores.

O processo em curso de desestatização, avaliam, deve trazer ganhos de eficiência e reduzir o risco político, fatores que tendem a potencializar os resultados futuros da empresa de energia do Paraná.

Analista da Guide Investimentos, Eduardo Siqueira diz que a Copel já vem ao longo dos últimos anos em uma trajetória de ganho de eficiência operacional, com redução de despesas com pessoal e aumento no nível de rentabilidade das operações.

Com a desestatização, a expectativa é que as melhorias operacionais prossigam e ganhem ainda mais tração, afirma Siqueira, acrescentando que também pesa a favor da empresa o fato de se tratar de um negócio de alta previsibilidade no longo prazo.

Ele lembra que uma notícia positiva para que a desestatização avançasse veio no último dia 2 de agosto, quando o TCU (Tribunal de Contas da União) tirou uma incerteza do radar dos investidores ao aprovar o valor de R$ 3,72 bilhões a ser pago pela elétrica paranaense pela renovação das concessões de três usinas hidrelétricas.

Ao lançar a oferta de ações no final de julho, a própria empresa havia alertado que uma decisão contrária do TCU poderia inviabilizar o andamento da operação.

"A renovação das concessões no prazo de 30 anos representa cerca de 60% da capacidade de geração da companhia e isso passa muita confiança para o investidor", afirma Siqueira.

Desestatizada, a expectativa do analista da Guide é que a Copel passe por uma renovação da infraestrutura na área de distribuição de energia, com redução das despesas e novos investimentos para revitalização de ativos depreciados.

Comum em empresas que deixam de ser de controle estatal e passam a operar sob o modelo privado, uma redução de pessoal costuma trazer impactos já no curto prazo para os níveis de rentabilidade da operação e é uma iniciativa também esperada para a Copel, afirma Siqueira.

"A gente gosta da empresa e acha que vale a pena entrar na oferta", acrescenta o analista da Guide.

Sócio e analista de ações da Nord Research, Guilherme Tiglia diz que um ponto de atenção é referente ao preço por ação a ser definido na oferta, que será conhecido no próximo dia 8.

A companhia estima que o "follow on", ou oferta subsequente, pode movimentar até R$ 4,96 bilhões, considerando a colocação de um lote suplementar de 15% do total de ações e com base no preço de R$ 7,85 da ação no fechamento do dia 24 de julho.

No acumulado de 2023, até 4 de agosto, as ações da Copel acumulam ganhos de 8,5%, contra a alta de 8,9% do Ibovespa no mesmo período.

Tiglia afirma que, com a redução da fatia do Estado, a tendência é que o desconto que os investidores geralmente atribuem a uma estatal pelo risco de interferência política também diminua, abrindo espaço para a valorização das ações.

"Nós temos recomendação de compra para as ações da Copel neste momento. É um ativo que historicamente teve uma performance acima do Ibovespa e do CDI e acreditamos que isso deve continuar acontecendo no médio e longo prazo", afirma João Abdouni, analista da empresa de recomendação de investimentos Levante.

Segundo Abdouni, as ações da elétrica representam uma boa alternativa para aquele investidor que tem o foco em dividendos. A remuneração média esperada é de ao menos 8% ao ano em forma de pagamento de dividendos para as ações da Copel, estima o especialista.

"Embora seja difícil afirmar qual vai ser o movimento das ações em uma janela determinada de tempo, a empresa deve ganhar eficiência com a capitalização e a saída do governo do controle", diz o analista da Levante.

Ele ressalta, contudo, que, em um recorte de curto prazo, não se pode descartar que as ações tenham um desempenho abaixo da média de mercado, frente ao aumento no volume de papéis em circulação na mão dos investidores como resultado da oferta.

Siqueira, da Guide, diz que, além da questão relativa à renovação das concessões, que ele julga como de baixo risco, o principal ponto de atenção relativo à tese de investimento em Copel diz respeito ao clima. Como a empresa tem uma matriz majoritariamente hidrelétrica, um período de pouca chuva pode impactar negativamente o preço de energia, e, consequentemente, as receitas da empresa.

OPOSIÇÃO
O processo de vendas de ações da companhia é alvo de críticas de parlamentares da oposição ao governador Ratinho Junior (PSD). Em julho, o diretório nacional do PT entrou com uma ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade) no STF (Supremo Tribunal Federal) contra trechos da lei do Paraná que permite que a Copel (Companhia Paranaense de Energia) seja transformada em uma empresa de capital disperso e sem acionista controlador.

A ação é assinada pela presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann. Na ação, o PT reclama que houve supressão do debate parlamentar durante a aprovação do projeto de lei e que a privatização da Copel representa "grave lesão causada ao patrimônio e ao interesse público".

Também aponta violação ao pacto federativo, já que o BNDES, através do BNDESPar, detém 24% do capital social da Copel. A ação aponta "interferência, por parte do Estado Paraná, em direito de propriedade da União, por meio da vedação de que acionista ou grupo de acionistas exerça votos em número superior a 10% da quantidade de ações em que se dividir o capital votante da Copel".