O desemprego nas seis maiores regiões metropolitanas do País voltou a subir, atingindo 6,5% em março, de acordo com pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Em fevereiro, a taxa havia sido de 5,7%. Desde novembro do ano passado, a taxa mensal de desemprego não ficava acima do patamar de 6%.
Para Shyrlene Ramos de Souza, economista responsável pela pesquisa de emprego do IBGE, a alta em março é explicada pela sazonalidade. Em fevereiro, mês de Carnaval e de menos dias úteis, um menor número de pessoas procurou emprego. Em março, cresceu a procura por trabalho. A taxa é medida pelo número de pessoas que declaram estar procurando emprego no dia da pesquisa.
O número de pessoas buscando emprego em março subiu 14,7% em relação ao mês anterior. O economista da FGV (Fundação Getúlio Vargas) Marcelo Neri, especializado em mercado de trabalho, concorda com a influência do efeito sazonal sobre a taxa de março.
Neri disse, no entanto, que a partir do próximo mês, com o impacto do reajuste do salário mínimo começando a aparecer na pesquisa, podem acontecer dois movimentos distintos: a elevação do rendimento do trabalhador, que está em queda, e um possível aumento do desemprego. Para ele, o mínimo maior – reajuste de R$ 151 para R$ 180 no dia 1º de abril – pode inibir novas contratações
O salário médio nominal caiu em fevereiro, em relação a janeiro, tanto para os trabalhadores com carteira assinada como para os sem registro – 1% e 2,2%, respectivamente. Shyrlene Ramos, a economista do IBGE, destaca que em março se consolidou o movimento de queda das contratações sem carteira assinada, que tiveram redução de 1,8% em relação ao mesmo mês de 2000, e ampliação dos contratos com registro em carteira – alta de 5,6%. ‘‘Isso mostra a melhora do mercado de trabalho e o retorno da formalidade.’’ Em São Paulo, o trabalho com carteira cresceu 7,3%, em relação a março do ano passado.
Apesar da alta do desemprego, Neri afirmou que ainda não foi detectada a influência da elevação da taxa de juros e da disparada do dólar. ‘‘Ainda é muito cedo para se verificar algum impacto.’’ Para o economista da FGV, ainda há dúvida sobre como a instabilidade vai contaminar o emprego. Ele acredita, porém, que o possível impacto negativo da atual turbulência financeira sobre o mercado de trabalho deve ser menor do que na época da crise asiática, em 1997, quando o desemprego saltou de 4,8% em dezembro para 7,3% em janeiro de 98.
Neri avaliou que o regime de câmbio flutuante impede uma maior pressão de choques externos e que agora os fundamentos da economia estão melhores. Com o câmbio fixo, o único mecanismo de proteção era a elevação dos juros, o que restringe a demanda, afetando a produção e o emprego.