A pauta ESG - ambiental, social e de governança, do inglês environmental, social, and governance - embora não seja uma novidade, está mais presente na rotina de lideranças empresariais no Brasil e no mundo. Isso se deve, informa a advogada especialista em Direito Ambiental, Laurine Martins, à crescente preocupação com as mudanças climáticas e principalmente com os interesses das partes interessadas (stakeholders).

Imagem ilustrativa da imagem Descomplicando o ESG
| Foto: iStock

A sigla ESG foi utilizada, pela primeira vez, em 2004, quando o então secretário das Nações Unidas, Kofi Annan, convocou 55 CEOs de algumas das maiores empresas do mundo e as provocou a incorporarem essas três letras nos seus resultados. Um levantamento no Google Trends, no entanto, revela que a busca pelo assunto cresceu mais de 1.200% só nos últimos dois anos.

Por que o interesse pelo tema cresceu tanto recentemente? Laurine Martins aponta dois principais fatores. O primeiro é a a grande preocupação com as mudanças climáticas que convoca o mundo inteiro - países, empresas e indivíduos – a adotarem medidas ambientais efetivas para a redução de emissão de gases de efeito estufa; e, o segundo, o engajamento gradativo das partes relacionadas à empresa (stakeholders): investidores que consideram a pauta ESG como base para decisões de investimento; clientes mais preocupados com a origem dos produtos que consomem, agentes reguladores mais efetivos na fiscalização das práticas sustentáveis das empresas, as instituições financeiras exigindo diligências socioambientais para a concessão de financiamentos. "Trata-se de uma questão de tempo para que as empresas decidam integrar as práticas ESG em seu DNA, sob pena de perderem mercado e, até mesmo, de não conseguirem se manter vivas, se assim não fizerem", destaca a advogada.

Implementando o ESG

O engajamento da alta liderança é questão fundamental para o sucesso da implementação do ESG numa empresa. Segundo Laurine Martins, a “questão tem que acontecer ‘top down’ – para que a agenda seja priorizada”.

O primeiro passo, diz ela, é compreender os riscos e as oportunidades relacionados ao ESG – conhecer as leis, normas, compromissos aplicáveis. Conhecer os stakeholders e seus interesses.

Depois disso, é preciso mapear o atual momento da empresa, ou seja, conhecer-se. “É preciso identificar os gaps e definir planos de ação, com cronograma, para que sejam implementados".

As práticas devem ser implementadas por meio da criação de políticas institucionais, procedimentos e governança para a tomada de decisões.

É fundamental que o projeto de integração das práticas ESG na empresa seja capitaneado por um PMO, que realize testes e monitoramento. “A adoção das práticas deve passar a fazer parte efetivamente do DNA da empresa”, diz ela.

Um terceiro passo é fazer a comunicação aos stakeholders sobre as práticas adotadas, trazer transparência e difundi-las.

Onde tudo começou

Laurine Martins relata que economistas trouxeram para debate o conceito de externalidades, que se refere aos efeitos sociais, econômicos e ambientais indiretamente causados pela venda de um produto ou serviço. Os investidores e outras partes interessadas começaram a se importar com as externalidades negativas que empresas, preocupadas tão somente em auferir lucro, dividia a conta com a sociedade ao prejudicar o meio ambiente ou ao se relacionar com fornecedores utilizadores de mão-de-obra análoga a escrava, por exemplo.

As empresas então foram (e estão sendo) chamadas a mudar a visão sobre como gerar resultados. Em 1970, a visão era gerar lucro pensando exclusivamente no bolso do acionista. Hoje não dá mais para ignorar que essa forma de conduzir o negócio está muito ultrapassada, dando lugar para uma economia de “stakeholders”, sem os quais a empresa não existe.

Para a advogada, hoje, é possível perceber essa mudança de paradigma. A empresa precisa se preocupar com a satisfação do cliente; precisa evitar que sua marca esteja vinculada a fatores negativos como o desmatamento, a corrupção, o trabalho degradante.

Segundo a advogada, hoje a adoção das práticas ESG pode alavancar os resultados da empresa, atraindo investimentos, captando novos clientes e fidelizando os antigos, diminuindo o número de reclamações e demandas judiciais, dentre outros.

Greenwashing

Outro alerta da especialista em Direito Ambiental é em relação a uma prática que não é difícil de se desvendar: o greenwahing, ou seja, a tentativa de empresas iludirem o mercado e se venderem na mídia com práticas não condizentes com o seu setor.

Ela exemplifica: imagine uma hidrelétrica brasileira que envia subsídio para vítimas de terremoto no Japão, mas não monitora suas barragens. “Os stakeholders estão cada vez mais atentos às práticas de greenwashing. Recentemente, a SEC (CVM dos EUA) ajuizou ação judicial contra a Vale, alegando falta de divulgação de dados sobre as barragens que violam as leis norte americanas. Sem contar que, essa prática pode representar um risco sério de imagem para a empresa”, adverte.

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