Inflação negativa em julho deve puxar juros para baixo
Economistas apostam que preços em queda farão Copom reduzir a taxa Selic em, pelo menos, 0,25%
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quinta-feira, 27 de julho de 2023
Economistas apostam que preços em queda farão Copom reduzir a taxa Selic em, pelo menos, 0,25%
Simoni Saris - Grupo Folha
A alta de preços está menos distribuída entre os produtos
acompanhados pelo IPCA-15. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística), o índice de difusão da inflação neste mês foi o mais baixo dos
últimos três anos, chegando a 48%, o que significa que um número menor de itens sofreu variação positiva de preços. Os alimentos e as tarifas de energia elétrica
residencial tiveram o maior impacto na composição do índice, que registrou deflação de 0,07%.
Especialistas avaliam que esse é o início de uma queda de
preços que deverá se manter até o final do ano e, além do impacto no orçamento
das famílias, especialmente as de baixa renda, o indicador deve influenciar também
na decisão do Copom (Comitê de Política Monetária), que na semana que vem irá
se reunir para definir a taxa básica de juros, mantida em 13,75% desde agosto de 2022. A expectativa é de uma queda de,
pelo menos, 0,25%.
Em julho, os alimentos básicos consumidos pela população,
como feijão carioca, óleo de soja, leite longa vida e carne registraram queda nos
preços. Entre os grupos analisados pela pesquisa, Alimentação e bebidas teve grande
influência sobre o índice geral, com queda de 0,40%. O resultado é relacionado
à deflação de alimentação no domicílio (-0,72%).
O feijão carioca, que já chegou a custar quase R$ 10 o
quilo, caiu -10,20% e passou a ser vendido a menos de R$ 7 neste mês. O óleo de
soja baixou 6,14%, o leite longa vida, 2,50%, e as carnes, 2,42%. Por outro
lado, a batata-inglesa e o alho ficaram mais caros neste mês, com altas de
10,25% e 3,74%, respectivamente.
Além dos alimentos, as tarifas de energia elétrica
residencial ficaram 3,45% mais baixas. Dentro do grupo Habitação, essa foi a
variação mais significativa, mas chama atenção também a redução no preço do
botijão de gás, que ficou 2,10% mais barato.
Nos últimos nove meses, essa é a primeira vez que o IPCA-15
teve deflação. A redução média nos preços dos produtos e serviços que compõem o
índice foi de 0,07% neste mês. No ano, a inflação acumula alta de 3,09% e, em
12 meses, de 3,19%.
O levantamento do IBGE mostra que além da desaceleração dos
preços de itens essenciais, a inflação está menos espalhada pelos produtos. O
índice de difusão medido em julho apontou queda, chegando a 48%. Isso significa
que menos da metade dos produtos e serviços medidos pelo IPCA-15 sofreram
aumento. Em junho, esse índice havia ficado em 50,7%.
O IPCA-15 é considerado uma prévia do IPCA, o índice oficial da inflação, que em junho ficou negativo em 0,08%. Pelo INPC, a queda no mês passado foi ainda maior, de 0,1%. “Enquanto o IPCA considera o consumo de
famílias que ganham até 40 salários mínimos, o INPC foca em famílias que ganham
de um a cinco salários mínimos, ou seja, os produtos consumidos pelas famílias
de renda mais baixa sofreram uma queda de preço mais significativa que os
produtos consumidos pelas famílias de renda mais elevada”, avaliou o economista Marcos Rambalducci. “Uma queda
nos preços significa aumento do poder de compra da população e quando esta
queda é maior pelo INPC que pelo IPCA, significa um benefício maior também para
as famílias de renda menor.”
Esse cenário, disse Rambalducci, mostra que a política do
Banco Central de elevar os juros para conter a inflação está dando resultado e
agora será preciso fazer um “ajuste para baixo”. “Se inflação é ruim, deflação
também o é. Então, a próxima reunião do Copom, na próxima semana, deve trazer,
sim, uma redução na taxa básica de juros, muito possivelmente de 0,25%.”(Com agências)