Déficit na balança será maior este mês
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quinta-feira, 13 de fevereiro de 1997
Agência Estado de Brasília
Os técnicos da área de comércio exterior trabalham com a hipótese de um déficit na balança comercial este mês superior aos US$ 413 milhões apurados em janeiro. As dificuldades de implantação do Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex-Importação) contribuirão para o agravamento da estatística do saldo comercial do País, já que são fortes as indicações de que um grande número de empresas adiou para fevereiro importações que não lançaram em janeiro porque tiveram dificuldade para operar com o Sistema.
Ontem, por exemplo, funcionários da Receita se detiveram no trabalho de tentar identificar empresas petroquímicas que teriam deixado de registrar compras no mês passado. Na prática, segundo os técnicos, estavam adotando o mesmo procedimento da Petrobrás. Em janeiro, a Petrobrás gastou US$ 534 milhões na importação de petróleo, mas deixou de fora o lançamento de US$ 473 milhões. As suspeitas, agora, recaem sobre um grupo de 10 importadoras de petroquímicos, que não lançaram compras da órdem de US$ 50 milhões. Os técnicos passaram o dia checando empresa por empresa e por produto.
O problema não é o valor da operação destas empresas, mas o fato de que o sistema ainda não oferece o controle necessário ao governo. O pior já passou, tentou aliviar assessor. Assim, o efeito da implantação do Siscomex-Importação seria neutralizado este mês. E tudo volta ao normal em março, sustentam. A atenção está concentrada no comportamento da Petrobrás. Os técnicos asseguraram que a empresa passou a operar normalmente no Siscomex, pondo fim ao comportamento atípico adotado no mês passado. O episódio foi constrangedor porque o governo foi obrigado a anunciar um déficit de US$ 413 milhões quando todos os indicativos eram de um superávit de cerca de US$ 60 milhões. Mas teve um lado positivo, sustentou um assessor.
Uma série de detalhes operacionais da Petrobrás ficaram expostos, evidenciando o peso da empresa no momento do fechamento das contas da balança comercial. Os técnicos constataram, por exemplo, que era um hábito comum da empresa concentrar lançamentos no final de cada mês, algumas vezes adiando lançamentos com o objetivo de preservar seu próprio caixa.
Agora, a empresa já não dispõe de prazo para lançar as importações de petróleo. Está submetida a um controle especial, que garante ao governo o acompanhamento diário de suas operações. Além disso, suas contas estão integradas à chamada conta única do Tesouro Nacional. Isto significa que o Ministério da Fazenda sabe de cada centavo que entrou ou saiu do caixa da empresa.
Déficits continuam - A última edição da Sinopse Econômica do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), divulgada ontem, admite que o déficit da balança comercial brasileira poderá ser de US$ 8 bilhões este ano, confirmando as projeções da maior parte dos especialistas em comércio exterior.
Pelas contas do BNDES, as exportações deverão ficar em US$ 49,8 bilhões em 1997 e as importações poderão atingir US$ 58,5 bilhões. O resultado seria um déficit US$ 8,7 bilhões, porém os economistas do banco acham que o número final deverá ficar em cerca de US$ 8 bilhões, já que as projeções da Sinopse ainda não levam em conta dois fatores: o efeito positivo de incentivos, como a introdução de novas linhas de financiamento às exportações poderão ter sobre as vendas externas; e uma possível superestimação das importações.