O Grupo Folha promove, na próxima quarta-feira (10), o sexto e último debate das Rodadas de Conteúdos. Desta vez, o tema apresentado em questão serão as perspectivas do empreendedorismo para 2022. A transmissão será ao vivo pelas redes sociais da FOLHA e pelo YouTube, a partir das 19h.

A mediação ficará a cargo de Lucas Vieira de Araujo, professor do Departamento de Comunicação da UEL, pós-doutorando da USP e colunista de inovação e empreendedorismo da FOLHA.

O mediador destaca que a pandemia trouxe um novo cenário para o empreendedorismo, de maneira que os empreendedores agora necessitam ter consciência de que inovação não é mais somente um diferencial, mas se tornou uma maneira de sobreviver no mercado.

“Nada será como antes. A pandemia trouxe mudanças estruturais e os empreendedores terão de mudar o seu jeito, os negócios tradicionais terão de inovar”, pontuou.

O mediador destaca que uma das tendências dentro do empreendedorismo é o crescimento das startups. “2021 já foi um ano muito bom, com crescimento significativo nos investimentos. Para o ano que vem, a tendência mundial é que esse investimento siga crescendo, de maneira que o Brasil é um grande player nesse sentido”, destacou.

Araujo destaca, no entanto, que esse maior investimento traz consigo uma maior exigência. “O mercado está exigindo cada vez mais das startups. Enquanto em 2019 eram valorizadas as boas ideias, agora são valorizadas as startups em patamares mais elevados, com pelo menos um produto no mercado.”

INOVAÇÃO

O mediador destaca que o ecossistema de inovação no Norte do Paraná é muito bem estruturado sobretudo na área do agronegócio, com boas startups e o trabalho de instituições de pesquisa dando suporte em novas tecnologias. “Temos uma pós strictu sensu em agronomia na UEL que está entre as melhores do Brasil.”

No entanto, Araujo defende ser preciso haver um melhor suporte para outros segmentos, para que sejam tão bem estruturados quanto o agronegócio.

“No caso do empreendedorismo feminino, o percentual de startups lideradas ou criadas por mulheres está abaixo de 10% no Brasil. Isso deve ser estimulado, inclusive há necessidade de fomentar a atitude empreendedora entre as mães, com linhas de crédito específicas, por exemplo.”

Os painelistas do sexto debate das Rodadas de Conteúdos serão Liciana Pedroso, consultora de negócios do Sebrae; Nathan Terra do Amaral Bampi, diretor comercial e de operações da Pado; e João Américo Macori Barboza, fundador da startup agro Dioxd.

CRIATIVIDADE

A consultora de negócios do Sebrae, Liciana Pedroso, explica que a inovação dentro do empreendedorismo está intimamente relacionada à criatividade.

“Com o aumento da instabilidade no ambiente de negócios, o estímulo à criatividade será um processo essencial para gerar transformações e inovação no cenário econômico e social em um futuro próximo. As organizações modernas estão cada vez mais à procura de perfis profissionais curiosos e com repertório abrangente, indo além de capacidades técnicas.”

Outra tendência para o empreendedorismo é que, a partir de agora, os planos B devem sempre ser parte fixa nas estratégias dos negócios.

“Daqui para frente, a única previsão certa para o mercado é a sua imprevisibilidade. Adaptabilidade estratégica é fundamental para que os negócios sobrevivam a momentos de crise. Quanto menos os negócios precisarem contar com recursos do mundo presencial, mais financeiramente seguros eles estarão.”

Outra tendência é que a saúde e o bem-estar do consumidor serão grandes prioridades para ele a partir de agora.

“Discussões sobre assuntos relacionados a esse tema (especialmente saúde mental) ganharão os holofotes nos próximos anos, e o consumidor estará propenso a dar preferência às marcas que lhe proporcionam algum nível de conforto, auxiliando-o a se restabelecer emocionalmente.”

A consultora destaca ainda a tendência de crescimento dos movimentos do veganismo, vegetarianismo ou até mesmo o flexitarianismo (redução do consumo de produtos de origem animal). “A atenção do público está se voltando cada vez mais para produtos e serviços que reduzem os impactos ao meio ambiente”, conclui.

CONSTRUÇÃO

O diretor comercial e de operações da Pado, Nathan Terra do Amaral Bampi, destaca que o empreendedorismo no setor de materiais para construção foi favorecido durante a pandemia, e a perspectiva para 2022 segue muito positiva. “Com isso, fizemos diversos investimentos na área fabril, nos melhores softwares de gestão e também em inovação”, pontuou.

Na frente de inovação, a empresa lançou um Centro de Tecnologia e Inovação, o PadoTec. O produto pioneiro a ser lançado será a primeira fechadura eletrônica brasileira. O pré-lançamento ocorreu na semana passada e o lançamento será no início de 2022. A previsão é que sejam lançados nove modelos do tipo no ano que vem.

“Começamos com a fechadura eletrônica, mas hoje o PadoTec é um centro de inovação de desenvolvimento de produtos ou de melhoria de processos, com a utilização de inteligência artificial, blockchain, realidade aumentada e tecnologias que agregam aos processos. O objetivo final é o ganho no processo industrial ou administrativo”, pontuou.

O diretor acrescenta que a estreita conexão do centro de inovação com diversos setores da empresa, como engenharia, P&D metal-mecânico, automação industrial, times administrativos e comercial, marketing e inteligência de mercado trouxe uma velocidade de inovar muito rápida.

“Estamos lançando de 2 a 3 projetos por mês. Hoje o índice de inovação na Pado vem crescendo cada vez mais. Esse índice é o percentual do lançamento sobre o faturamento, que está numa crescente acima da média.”

O volume de canais de atendimento ofertados pela empresa quase triplicou hoje em comparação ao período pré-pandemia. “Saímos de três canais para oito hoje, abrangendo consumidor final e cliente varejista. Além disso, nos integramos a marketplaces como seller, em plataformas conceituadas e com grande relevância.”

A Pado é uma empresa que atua há 85 anos no mercado, sendo que o parque fabril está localizado há 23 anos em Cambé, após deixar São Paulo. “Foi em Cambé que conseguimos a nossa liderança de mercado em cadeados, há mais de 10 anos, sendo que hoje temos 75% de market share. Recentemente conseguimos a liderança em fechaduras de médio e de alto padrão no Brasil. E agora estamos em busca da liderança total de fechaduras – somos hoje o segundo player de maior produção”, conclui.

PRECOCE

João Américo Macori Barboza fundou a startup agro Dioxd aos 18 anos. As pesquisas para que seu sonho se tornasse realidade, no entanto, começaram cinco anos antes, quando ele ainda estava no colégio, aos 13 anos de idade.

A startup nascida em Londrina oferece tecnologia aos produtores para tratar sementes de soja e de feijão, com o intuito de ampliar a produtividade nas culturas e manter a qualidade das sementes empregadas no cultivo.

O embrião dessa tecnologia começou em 2013, quando João Américo iniciou o trabalho junto aos professores do ensino fundamental. “Participei de pelo menos 17 feiras de ciências no Brasil e fora do país, que me incentivaram a continuar a pesquisa.”

No final de 2017, a tecnologia foi levada a campo, para os produtores rurais e sementeiros. “Em setembro de 2018 a startup foi criada e já entrou em um programa de aceleração da Sociedade Rural do Paraná”, relembra.

Com muitas mentorias e apoio do Sebrae, o trabalho só evoluiu. No final de 2019, João se inscreveu em uma seleção de aceleradoras de startups de Luís Eduardo Magalhães (BA), dentro do evento AgroBit. “Eu passei e recebi, no ano passado, um investimento de R$ 200 mil. Foi quando comecei a atender grandes produtores e grandes sementeiros”.

Este ano, no entanto, foi ainda mais especial. Em agosto, dois fundos investiram na Dioxd, o que representou um aporte de R$ 1,3 milhão. “Hoje a startup atende 30 mil hectares de soja em todo o Brasil. A meta é chegar a 1 milhão de hectares em 6 anos”, projetou.

Aos 21 anos hoje, João Américo faz questão de desmistificar a visão de que empreendedor é alguém que sabe de tudo e nada o abala. “O verdadeiro empreendedor é o que assume que não conhece e tem coragem para buscar conhecimento, com muita persistência e força de vontade. Está sempre aprendendo com os próprios erros e com os erros dos outros”, resume.

Sobre as perspectivas para o empreendedorismo no período pós-pandemia, João acredita que o brasileiro sai em vantagem, já que tem uma veia empreendedora nata. “No entanto, faltam incentivo e estímulo. As estratégias devem partir principalmente dos governos estaduais”, destaca.