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Economia 5m de leitura

De olho em acordo internacional, Cacique investe R$ 240 mi em nova fábrica no ES

Empresa londrinense vai inaugurar planta próxima dos portos no maior produtor de café conilon do Brasil

ATUALIZAÇÃO
19 de novembro de 2019

Luis Fernando Wiltemburg - Grupo Folha
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 De olho no potencial que o acordo entre União Europeia e Mercosul deve propiciar para as exportações brasileiras, a fábrica de cafés Cacique, de Londrina, vai investir cerca de R$ 240 milhões em uma nova planta em Linhares, no Espírito Santo, maior produtor do café conilon do País. A nova planta vai propiciar um aumento de 33% na produção da companhia, que exporta praticamente 95% dos produtos. 

Fábrica da Cacique, em Londrina: empresa londrinense investe R$ 240 milhões em nova unidade em Linhares (ES)
 

A nova fábrica será levantada em uma área de 500 metros quadrados e todo o projeto será executado por outra empresa londrinense, a construtora Plaenge. A engenharia levará em conta a tecnologia conhecida como indústria 4.0. Será usada a moderna tecnologia BIM, uma ferramenta que permite a construção virtual antecipada do empreendimento, reduzindo assim as interferências em campo e o prazo de execução de obra. “Será uma fábrica muito mais automatizada que a de Londrina, em uma área muito menor. Aqui temos em torno de 45 mil m² construído, lá será em torno de 19 mil m²", explica o diretor industrial Júlio Grassano. 

O investimento em Linhares vem depois de uma aplicação de R$ 35 milhões para ampliar a produção da planta de Londrina, com capacidade para 36 mil toneladas ao ano. A unidade capixaba terá capacidade de produção de 12 mil toneladas de café spray dried ao ano. Com início de operação previsto para o primeiro trimestre de 2021, deve gerar 800 empregos na região, dos quais 200 serão diretos. “Mas Londrina continuará sendo o centro de nossa atividade, porque concentra todas as nossas pesquisas e projetos”, explica o diretor adjunto de produção da Cacique, Valderi Cristiano. 

A Cacique decidiu construir uma nova fábrica devido às dificuldades de ampliar a planta atual, que afetaria a produção, e pelas limitações de recursos naturais como extração de água potável do solo, necessário no processo de produção do café solúvel, e de corpos d’água para receber os efluentes tratados. 

Ao buscar alternativas, foram cogitados o Paraguai, devido aos incentivos fiscais e menores custos trabalhistas, o Estado de Rondônia, grande produtor de café conilon, e o Espírito Santo, que acabou sendo escolhido com a implantação em Linhares porque está localizada em outra grande região produtora, numa cidade a 140 quilômetros da capital. 

O diretor de controladoria da Cacique, Paulo Roberto Ferro, explica que a nova unidade vai ajudar a racionalizar a cadeia de suprimentos, logística e de impostos da empresa. “Hoje, todo o café que nós compramos do Espírito Santo, viaja 2,5 mil km da origem até Londrina, para o processamento, e, depois, para o porto de Santos. Isso gera um alto custo de frete. Com a fábrica de Linhares, calculamos que, no máximo, em 200 km, o café seja comprado do fornecedor, processado e entregue no porto. Pode ver que o ganho logístico é enorme”, descreve. 

A unidade londrinense continuará processando as plantas de café cru do Paraná e vindas de Rondônia e do Espírito Santo, porque o Paraná não tem a produção que supra toda a necessidade da Cacique. Entretanto, a aquisição de outros Estados também encarece o produto, já que há uma taxação de 12% de ICMS referente ao ICMS (Imposto por Circulação de Mercadorias e Serviços).  

Como é uma empresa exportadora, a Cacique não recolhe ICMS na saída dos produtos, o que gera acúmulo de créditos de ICMS, que devem ser devolvidos à companhia pelo governo estadual. "Mas o governo demora cerca de cinco anos para devolver esse imposto, e isso vai tirando nosso capital de giro ao longo do tempo. Então, o foco da nova unidade é comprar todo o café consumido no Espírito Santo dentro daquele Estado e o que conseguirmos [comprar] no Paraná, que seja por aqui, Porque, cada vez que compra café na matéria-prima do Estado, ele não tem ICMS gravado. Então, estamos tentando racionalizar todos esses custos, aumentando nosso poder de negociação”, diz Ferro. 

INCREMENTOS 

O momento do investimento da Cacique tem motivações econômicas e cronológicas. A primeira delas é a proposta de redução das taxas de exportação de 9% para 0%, prometida para ocorrer gradualmente, em quatro anos, resultado do acordo EU-Mercosul. A expectativa é que o mercado de exportação de café solúvel para a Europa cresça 35% 

O Brasil é o segundo maior exportador de café solúvel do mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. O café solúvel é o 12º negócio do agronegócio brasileiro e gera US$ 600 milhões (cerca de R$ 2,45 bilhões) em divisas para o país, segundo a Abics (Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel). Somente em 2019, a exportação do produto cresceu 9,95% e chegava, até setembro de 2019, a 104 países, com crescimento do interesse por países orientais. A Indonésia é o terceiro maior comprador, atrás dos Estados Unidos e da Rússia, e fica à frente do Japão e da Argentina. Mianmar também se destaca na sexta posição. 

Segundo Cristiano, a nova unidade também vai permitir otimizações em relação a produtos para os diversos mercados que a Cacique atende. "Nós exportamos atualmente para mais de 70 países, diversos produtos diferentes. Hoje trabalhamos principalmente com café conilon (85%) e uma parte de café arábica (15%)”, conta. A maior parte da exportação ainda demanda derivados do conilon, considerado um produto neutro e de menos nuances que o café arábica.   

Dependendo do mercado, é necessário um blend para atender às expectativas de aromas e, em outros mercados, a exigência é de um café mais encorpado, propiciado produtos exclusivamente oriundos do arábica. 

A extensa variedade de mercadorias exige da Cacique uma série de programações de produção para acomodar tudo e atender a cadeia de logística, para que tudo chegue ao destino final dentro do prazo acordado. “Isso significa que, com essa nova planta, teremos a possibilidade de otimizar essa cadeia, utilizando de aspecto de produtividade e, naturalmente, a eficiência de todo o sistema produtivo”, explica. 

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