De olho no potencial que o acordo entre União Europeia e Mercosul deve propiciar para as exportações brasileiras, a fábrica de cafés Cacique, de Londrina, vai investir cerca de R$ 240 milhões em uma nova planta em Linhares, no Espírito Santo, maior produtor do café conilon do País. A nova planta vai propiciar um aumento de 33% na produção da companhia, que exporta praticamente 95% dos produtos.

Fábrica da Cacique, em Londrina: empresa londrinense investe R$ 240 milhões em nova unidade em Linhares (ES)
Fábrica da Cacique, em Londrina: empresa londrinense investe R$ 240 milhões em nova unidade em Linhares (ES) | Foto: Divulgação

A nova fábrica será levantada em uma área de 500 metros quadrados e todo o projeto será executado por outra empresa londrinense, a construtora Plaenge. A engenharia levará em conta a tecnologia conhecida como indústria 4.0. Será usada a moderna tecnologia BIM, uma ferramenta que permite a construção virtual antecipada do empreendimento, reduzindo assim as interferências em campo e o prazo de execução de obra. “Será uma fábrica muito mais automatizada que a de Londrina, em uma área muito menor. Aqui temos em torno de 45 mil m² construído, lá será em torno de 19 mil m²", explica o diretor industrial Júlio Grassano.

O investimento em Linhares vem depois de uma aplicação de R$ 35 milhões para ampliar a produção da planta de Londrina, com capacidade para 36 mil toneladas ao ano. A unidade capixaba terá capacidade de produção de 12 mil toneladas de café spray dried ao ano. Com início de operação previsto para o primeiro trimestre de 2021, deve gerar 800 empregos na região, dos quais 200 serão diretos. “Mas Londrina continuará sendo o centro de nossa atividade, porque concentra todas as nossas pesquisas e projetos”, explica o diretor adjunto de produção da Cacique, Valderi Cristiano.

A Cacique decidiu construir uma nova fábrica devido às dificuldades de ampliar a planta atual, que afetaria a produção, e pelas limitações de recursos naturais como extração de água potável do solo, necessário no processo de produção do café solúvel, e de corpos d’água para receber os efluentes tratados.

Ao buscar alternativas, foram cogitados o Paraguai, devido aos incentivos fiscais e menores custos trabalhistas, o Estado de Rondônia, grande produtor de café conilon, e o Espírito Santo, que acabou sendo escolhido com a implantação em Linhares porque está localizada em outra grande região produtora, numa cidade a 140 quilômetros da capital.

O diretor de controladoria da Cacique, Paulo Roberto Ferro, explica que a nova unidade vai ajudar a racionalizar a cadeia de suprimentos, logística e de impostos da empresa. “Hoje, todo o café que nós compramos do Espírito Santo, viaja 2,5 mil km da origem até Londrina, para o processamento, e, depois, para o porto de Santos. Isso gera um alto custo de frete. Com a fábrica de Linhares, calculamos que, no máximo, em 200 km, o café seja comprado do fornecedor, processado e entregue no porto. Pode ver que o ganho logístico é enorme”, descreve.

A unidade londrinense continuará processando as plantas de café cru do Paraná e vindas de Rondônia e do Espírito Santo, porque o Paraná não tem a produção que supra toda a necessidade da Cacique. Entretanto, a aquisição de outros Estados também encarece o produto, já que há uma taxação de 12% de ICMS referente ao ICMS (Imposto por Circulação de Mercadorias e Serviços).

Como é uma empresa exportadora, a Cacique não recolhe ICMS na saída dos produtos, o que gera acúmulo de créditos de ICMS, que devem ser devolvidos à companhia pelo governo estadual. "Mas o governo demora cerca de cinco anos para devolver esse imposto, e isso vai tirando nosso capital de giro ao longo do tempo. Então, o foco da nova unidade é comprar todo o café consumido no Espírito Santo dentro daquele Estado e o que conseguirmos [comprar] no Paraná, que seja por aqui, Porque, cada vez que compra café na matéria-prima do Estado, ele não tem ICMS gravado. Então, estamos tentando racionalizar todos esses custos, aumentando nosso poder de negociação”, diz Ferro.

INCREMENTOS

O momento do investimento da Cacique tem motivações econômicas e cronológicas. A primeira delas é a proposta de redução das taxas de exportação de 9% para 0%, prometida para ocorrer gradualmente, em quatro anos, resultado do acordo EU-Mercosul. A expectativa é que o mercado de exportação de café solúvel para a Europa cresça 35%

O Brasil é o segundo maior exportador de café solúvel do mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. O café solúvel é o 12º negócio do agronegócio brasileiro e gera US$ 600 milhões (cerca de R$ 2,45 bilhões) em divisas para o país, segundo a Abics (Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel). Somente em 2019, a exportação do produto cresceu 9,95% e chegava, até setembro de 2019, a 104 países, com crescimento do interesse por países orientais. A Indonésia é o terceiro maior comprador, atrás dos Estados Unidos e da Rússia, e fica à frente do Japão e da Argentina. Mianmar também se destaca na sexta posição.

Segundo Cristiano, a nova unidade também vai permitir otimizações em relação a produtos para os diversos mercados que a Cacique atende. "Nós exportamos atualmente para mais de 70 países, diversos produtos diferentes. Hoje trabalhamos principalmente com café conilon (85%) e uma parte de café arábica (15%)”, conta. A maior parte da exportação ainda demanda derivados do conilon, considerado um produto neutro e de menos nuances que o café arábica.

Dependendo do mercado, é necessário um blend para atender às expectativas de aromas e, em outros mercados, a exigência é de um café mais encorpado, propiciado produtos exclusivamente oriundos do arábica.

A extensa variedade de mercadorias exige da Cacique uma série de programações de produção para acomodar tudo e atender a cadeia de logística, para que tudo chegue ao destino final dentro do prazo acordado. “Isso significa que, com essa nova planta, teremos a possibilidade de otimizar essa cadeia, utilizando de aspecto de produtividade e, naturalmente, a eficiência de todo o sistema produtivo”, explica.