De la Rúa anuncia pacote e pede apoio
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sexta-feira, 16 de março de 2001
Agência Folha De Buenos Aires
O ministro da Economia da Argentina, Ricardo López Murphy, anunciou ontem à noite o plano de medidas que prevêem cortes nos gastos públicos até 2003. Antes do anúncio oficial do pacote, o presidente Fernando de la Rúa, fez um discurso em rede de rádio e TV e disse que a situação do país é crítica. Ele convocou a classe política, os sindicalistas e os argentinos a apoiar o novo pacote econômico, que, segundo ele, será muito duro.
Este ano os cortes totalizarão US$ 1,962 bilhão. No próximo ano, o tamanho do arrocho sobe para US$ 2,485 bilhões. Em 2003, chegaria a US$ 3,5 bilhões. Os cortes serão divididos praticamente pela metade entre União e Províncias. O plano divulgado ontem detalhava todas as ações no biênio 2001 e 2002.
Entre as medidas anunciadas estão a redução das transferências às universidades os cortes serão de US$ 361 milhões este ano e de US$ 541 milhões, em 2002. As outras medidas são: eliminação dos subsídios ao gás e combustíveis produzidos na Patagônia; redução de repasses feitos pelo Tesouro Nacional às Províncias; e eliminação de isenções e taxas como o IVA (Imposto sobre Valor Agregado) às TVs a cabo e espetáculos artísticos e esportivos.
O chamado fundo de incentivo docente, que paga uma espécie de complemento aos salários dos professores, deixará de ser responsabilidade da União e passará a ser das Províncias. Somente este ano, o repasse seria de US$ 770 milhões.
Antes mesmo de anunciadas as medidas deflagraram repúdio e críticas por parte de membros da própria coalizão, que sustenta o governo do presidente Fernando de la Rúa, de sindicalistas, que já anunciaram greves e, claro, da oposição. Horas antes do anúncio do plano, Hugo Moyano, líder da CGT dissidente, uma das principais centrais sindicais da Argentina, anunciou uma greve geral em 5 de abril.
A função imediata do arrocho seria garantir o cumprimento das metas de déficit fiscal estabelecidas com o Fundo Monetário Internacional. Com iniciativas de tamanho impacto, as rejeições aconteceram em proporção semelhante.
Ainda ontem, o governador do Chaco, Angel Rozas, que é vice-presidente da UCR (União Cívica Radical), do presidente Fernando de la Rúa e à qual está ligado o próprio ministro López Murphy, informou ao governo que o partido não vai apoiar nenhuma medida que vá contra o povo.
RenúnciasO ministro do Desenvolvimento Social, Marcos Makón, e o secretário-geral da Presidência, Ricardo Mitre, ambos membros da Frepaso (esquerda) na Aliança de Governo com a social-democrata UCR, renunciaram ontem por causa do pacote, informou o chefe de governo da cidade de Buenos Aires, Aníbal Ibarra. A rede de TV a cabo TN anunciou antecipadamente a renúncia do ministro do Interior, Federico Storani (UCR), também discordante das medidas econômicas do governo De La Rúa.