A robotização da economia assusta os sindicatos, que terão de encontrar uma nova forma de representar os trabalhadores. Nesta quarta-feira (4), a CUT (Central Única dos Trabalhadores) realiza um seminário nacional para discutir as novas tecnologias e o futuro da organização sindical. "Temos ciência que existem categorias que, por conta das novas tecnologias e das novas formas de organização do trabalho, podem desaparecer ou diminuir bastante, como é o caso dos bancários, que é uma das mais fortes filiadas à nossa central", afirma Graça Costa, secretária de Relações do Trabalho da entidade.
As novas tecnologias também devem impactar o trabalho dos servidores públicos, categoria na qual a central também tem ampla representação. "A prefeitura de Ribeirão Preto mandou um projeto de lei para a Câmara para fazer contratação de professores por aplicativo", afirma a secretária sobre a proposta da cidade paulista conhecida como "Uber do professor". "Vemos com muita preocupação, não só para o sindicato, mas para o futuro da classe trabalhadora."
Segundo Graça, a automação é um desafio enorme do ponto de vista da organização sindical. "Como fazer a filiação de quem está no teletrabalho e discutir com essa pessoa a saúde e a segurança, sendo que ela é responsável por fazer seu próprio horário e quanto mais trabalha mais ganha?", questiona.
Organizar os motoristas do Uber é outro desafio para os sindicatos, segundo ela. "Quanto mais trabalham mais pontuam. Como fazer com que essas pessoas compreendam que não são proprietários de si próprio? Eles têm um aplicativo que manda neles, que bota eles para trabalhar mais e que não tem qualquer responsabilidade pela saúde deles. O patrão neste caso é invisível", afirma.
Para a sindicalista, a desregulamentação do trabalho, que teve início no Brasil com a recente reforma trabalhista, não trará benefício aos brasileiros. "Nenhum país do mundo que fez ajuste desregulamentando as relações de trabalho teve desenvolvimento", declara.
O trabalho intermitente, aprovado na reforma, segundo a secretária da CUT, já representou um grande prejuízo à classe. "Mais de 50% dos empregos intermitentes criados de novembro para cá são de mulheres e jovens, que são os que mais sofrem com o emprego precário. Trabalham em três empregos e não conseguem um salário mínimo", conta. (N.B.)