O Brasil passa por uma das piores crises econômicas das últimas décadas, com recorde histórico nos níveis de desemprego, inflação em escalada e altas taxas de endividamento da população. No país, há uma massa de mais de 14,4 milhões de pessoas fora do mercado de trabalho e, sem renda, cresce a inadimplência. Segundo a Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor), divulgada pela CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), no último mês de julho, 71,4% dos consumidores possuíam alguma dívida, o maior índice apurado pelo levantamento realizado desde 2010. Ante junho, a alta foi de 1,7 ponto percentual.

Imagem ilustrativa da imagem Crise faz aumentar adesão a serviços de parcelamento de contas

Em Londrina, segundo dados do NuPEA (Núcleo de Pesquisa Econômica Aplicada) da UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná), 67,9% da população tinha alguma dívida no terceiro trimestre de 2021.

Nesse cenário, agravado pela pandemia de Covid-19, cresce a adesão aos serviços que oferecem aos devedores meios de parcelar débitos em atraso, afastando o risco de perda de bens ou inserção do nome no cadastro de inadimplentes. As fintechs de pagamentos e serviços financeiros encontram no Brasil atual um terreno fértil para a expansão de seus negócios.

Em atividade desde o final de 2019, a Parça Serviços Financeiros disponibiliza totens nos quais os usuários podem realizar diversos tipos de serviços, dispensando a ida às agências bancárias e casas lotéricas. A startup brasileira de soluções na área financeira disponibiliza recarga de celular, consulta de cadastro positivo, pagamento de impostos e taxas, como o IPVA e licenciamento de veículos, solicitação de crédito pessoal e consignado, mas também oferece a possibilidade de parcelamento de contas em até 12 vezes, com a possibilidade de usar o limite de até quatro cartões de crédito.

A empresa conta com 57 franqueados e 200 totens em operação espalhados por 20 estados e mais o Distrito Federal. No primeiro semestre deste ano, foram 26 mil transações, totalizando R$ 12 milhões. O diretor executivo da Parça, Antonio Brizoti Junior, vê um bom potencial de mercado e projeta um crescimento expressivo em um curto período de tempo. Com um planejamento estratégico já desenhado, a empresa prevê somar 110 franquias até o final de janeiro de 2022, uma expansão de 93% nos próximos quatro meses.

A empresa foi criada para atender à classe CD, mas Brizoti disse ter ficado surpreso com a grande procura pela classe B menos. Esse novo público foi identificado pelos valores dos boletos pagos nos totens de autoatendimento. “As contas da classe CD ficam em R$ 480, R$ 500. Contas acima de R$ 2 mil já são de outra classe social. A classe B menos está usando bastante os nossos serviços porque uma boa fatia das famílias está endividada, na iminência de perder o carro, com o financiamento do imóvel aberto. A pessoa tem renda comprometida e precisa ganhar fôlego”, analisou o diretor. Segundo ele, 60% das operações realizadas nos totens da empresa são parcelamentos de dívidas.

Franqueado da empresa na cidade, onde há quatro totens da Parça instalados, Gabriel Romão, afirmou que o município comportaria o dobro de postos de atendimento. Ele iniciou o negócio há quatro meses e observa um crescimento no número de usuários. Apenas em setembro, foram realizadas mais de 200 operações nos terminais, somando R$ 140 mil em transações. “A aceitação está sendo muito boa. O nosso público alvo é justamente a pessoa que não está muito voltada para o digital. Depois da pandemia, estão fechando muitas agências bancárias e as agências e lotéricas estão ficando sobrecarregadas e não oferecem a possibilidade de parcelamento de contas, por exemplo. Os totens são uma alternativa.”

Um dos mais populares aplicativos de pagamento do país, com 55 milhões de usuários cadastrados, o PicPay também vem registrando um crescimento das operações realizadas na plataforma. Um dos serviços disponibilizados pela empresa é o parcelamento de boletos em até 12 prestações. O aplicativo não revela se esse é o modelo de pagamento mais utilizado, mas afirma que o número de usuários cresceu 119% neste ano. Em um período de 12 meses, encerrado em junho, a carteira digital movimentou R$ 51,7 bilhões em volume total de pagamentos.

O economista Marcos Rambalducci orienta a analisar cada situação individualmente antes de parcelar uma dívida. Uma taxa de juros de mais de 2% ao mês significa mais de 30% ao ano, o que só compensaria caso a dívida seja calculada a uma taxa superior a esta. “Não dá para pegar dinheiro emprestado a esta taxa para tentar investir em qualquer coisa, pois é prejuízo na certa.”

Utilizar vários cartões para compor um limite e conseguir o parcelamento das dívidas também pode ser um risco em alguns casos, avaliou o economista. “Você está criando o mesmo problema e não saindo das dívidas.”

Essa é uma estratégia interessante quando o devedor possui uma grande quantidade de pequenas contas em atraso e, assim, concentra suas dívidas em poucas contas, o que torna o processo de administração financeira bem mais fácil, ressaltou Rambalducci. Ele lembrou ainda que geralmente a inadimplência é consequência da falta de controle nos gastos. “Essa possibilidade (uso de vários cartões no parcelamento), permite que a pessoa tenha mais claro onde está devendo e o quanto deve pagar.”