Washington - Para as autoridades econômicas brasileiras, a visita do secretário do Tesouro americano, Paul O'Neill, a Brasília e São Paulo, esta semana semana, é um gesto bem-vindo de reafirmação de apoio e confiança dos Estados Unidos nos fundamentos da economia brasileira e na capacidade do País de preservar a estabilidade durante a campanha presidencial e a transição ao próximo governo.
Nos Estados Unidos, porém, a viagem de O'Neill ao Brasil e à Argentina e os longos périplos que ele fez recentemente pela África, Europa e Ásia Central são vistos por um coro crescente de republicanos e democratas como sintoma da incompetência do chefe da equipe econômica americana para lidar com a crise de confiança dos investidores. O abalo, provocado pela onda de corrupção nas empresas de capital aberto, derrubou a Bolsa de Nova York a seu ponto mais baixo em quase quatro anos, na semana passada, e se tornou uma ameaça real para uma economia real em plena recuperação.
''Com o mercado de ações em queda e as pesquisas mostrando os americanos cada vez mais preocupados com a maneira que a administração Bush está lidando com a economia e as fraudes corporativas, O'Neill, a principal voz da administração em temas econômicos, estava no Quirguistão'', observou neste domingo o jornal The New York Times. ''A ausência de O'Neill - depois de uma visita à África no final de maio e antes de uma viagem à América do Sul, no fim do mês - reforçou a percepção em Wall Street e nos círculos políticos de que a equipe econômica do presidente Bush não está respondendo às crescentes pressões econômicas e políticas.''
Diante dos efeitos políticos da crise econômica, já evidentes nas pesquisas de opinião, e com o presidente George W. Bush e os republicanos sob risco de serem punidos pelos eleitores na eleições legislativas de 5 de novembro (ver página 6), já se debate abertamente a substituição de O'Neill - um ex-empresário do setor industrial que não esconde seu desprezo pelo capital financeiro e notabilizou-se pela franqueza de suas declarações, que nem sempre refletem as posições do governo.
''Precisamos desesperadamente de alguém que explique diariamente as questões que a economia está enfrentando e a política da administração'', disse ao New York Times Robert D. Hormats, vice-presidente do Goldman Sachs International.
Leon Panetta, um ex-congressista democrata que comandou o Ministério da Gestão e Orçamento da Casa Branca e foi chefe de gabinete do ex-presidente Bill Clinton, afirmou na semana passada que ''Bush precisa ter na área econômica o mesmo tipo de liderança que sua administração exibe nos Departamentos de Estado e de Defesa''.
Robert E. Rubin, o ex-secretário do Tesouro de Clinton, que é considerado o mais bem-sucedido ocupante do posto no século passado, sublinhou a importância da liderança no Tesouro em artigo que publicou ontem no The Washington Post.
O'Neill é apenas parte do problema. O principal assessor econômico de Bush na Casa Branca, Lawrence Lindsey, um economista conservador que já foi membro da diretoria do Federal Reserve, é visto com um conselheiro excessivamente ideológico cuja influência está em queda.