Comprando produtos da marca ou cotas, consumidores apoiam projeto de cervejaria
Comprando produtos da marca ou cotas, consumidores apoiam projeto de cervejaria | Foto: Bodebrown/Divulgação



Em qual outro momento do capitalismo haveria sentido uma empresa realizar campanha para pedir aos clientes que a financiem? Somente agora. O crowdfunding (financiamento coletivo) vem sendo usado principalmente por startups na arrecadação de recursos para desenvolverem produtos inovadores. O consumidor se encanta com a ideia e aposta para ver o projeto sair do papel.
Em Curitiba, a Cervejaria Bodebrown, estabelecida em 2009, deu um passo além. Juntou o crowdfunding a uma campanha promocional para pedir aos consumidores que financiem a construção de uma nova sede para a fábrica. Os fãs, como os clientes são chamados, podem participar adquirindo produtos como camisetas, bonés e luminosos da marca, ou mesmo comprando cotas do projeto.
A campanha é feita pelo site e redes sociais da cervejaria e também por outdoors espalhados pela capital. Desde o final de março, 20% dos R$ 3 milhões necessários para a construção da nova fábrica já foram arrecadados com essa operação.
O empresário Samuel Cavalcanti diz que, após a obra,vai transformar os fãs e apoiadores em acionistas. "Queremos dividir os nossos ganhos com aqueles que blindam o jeito que queremos crescer, independentes e preservando nossa liberdade artística e criativa", assegura o cervejeiro.
A expansão da capacidade instalada da empresa, que também conta com uma escola para cervejeiros, visa atender todo o Estado em parcerias com empreendedores das principais cidades de cada região. Londrina, Maringá, Cascavel, Foz do Iguaçu e Guarapuava despontam no radar da cervejaria."Muitos ex-alunos e apoiadores estão espalhados pelo Paraná e estão diretamente envolvidos com nosso projeto de expansão. Quem estiver alinhado à nossa filosofia de trabalho em prol da cultura cervejeira é bem-vindo para ser parceiro dessa expansão", alega.
O gerente de Economia, Fomento e Desenvolvimento da Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná), Marcelo Percicotti, ressalta a importância da economia colaborativa e a originalidade da ação da cervejaria. "O mundo está mudando e há todo um mercado a ser explorado. São formatos que só passaram a ser possíveis com o advento da internet e das redes sociais", afirma.
Na avaliação dele, o modelo adotado pela empresa curitibana para financiar a nova fábrica avança sobre o conceito original de crowdfunding. "É um híbrido de crowdfunding com campanha promocional, algo extremamente inovador e que faz muito sentido dentro da concepção dessa cervejaria", declara.

REGULAMENTAÇÃO
A força do crowdfunding no Brasil chamou atenção, inclusive, da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), que em julho deste ano editou a Instrução Normativa 588 estabelecendo regras para a modalidade tratada como crowdfunding equity ou de investimento. O objetivo do órgão é dar segurança jurídica aos participantes da modalidade. "É fato que essa nova economia está pressionando o sistema tradicional de financiamento das empresas, o que é extremamente saudável em um país cujo ambiente de negócios padece com altas taxas de juros e muita burocracia", diz Percicotti.
O economista e professor de Cenários Econômicos do Centro Universitário Internacional Uninter, Cleverson Pereira, afirma que o financiamento coletivo é praticado em centenas de países e a projeção é de que sejam movimente US$ 90 bilhões no mundo até 2025. O Brasil responderá por 10% desse fluxo. "O brasileiro gosta de fazer parte e é uma das principais forças no uso de redes sociais no mundo, isso explica a adesão", avalia.
O crowdfunding passou a ser praticada em 2005, nos Estados Unidos. No Brasil, também é conhecido como "vaquinha virtual" e ganhou escala a partir de 2011.