O financiamento imobiliário com recursos da poupança - o chamado SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo)- atingiu R$ 25,29 bilhões nos seis primeiros meses do ano, alta de 23% ante igual período de 2017, informou a Abecip (Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança) nesta quarta-feira (25).
É a primeira vez em quatro anos que a modalidade registra crescimento em um primeiro semestre em relação ao ano anterior. "Tradicionalmente, o primeiro semestre é de saldo negativo para a poupança. Neste ano, tivemos captação líquida de R$ 2,5 bilhões, o que sinaliza uma reversão de tendência, com mais dinheiro entrando, e gera uma expectativa positiva", diz Gilberto Duarte de Abreu Filho, presidente da Abecip.
Só para a aquisição de imóvel pela pessoa física foram R$ 20,2 bilhões financiados, sendo R$ 11,3 bilhões para imóveis novos. O presidente do Sindicato dos Corretores de Imóveis de Londrina, Marco Antonio Bacarin, considera esta disponibilidade de recursos importante para o setor, mas afirmou que ainda não se reflete em aquecimento de vendas. "É um aspecto positivo, mas ainda há uma retração, principalmente pela capacidade de endividamento do cidadão", disse.
De acordo com Bacarin, o mercado imobiliário registra movimento de crescimento. Em algumas regiões, como a zona sul, a alta gira, em média, entre 2% a 2,2% em relação ao primeiro semestre do ano passado.
O presidente do Sinduscon Norte (Sindicato da Indústria da Construção Civil), Rodrigo Zacarias, a construção precisava deste retorno dos recursos da poupança para fomentar o mercado. "Os imóveis que não são Minha Casa, Minha Vida são financiados com recursos da poupança. A construção precisava desta volta", afirmou Zacarias.
O incremento dos recursos SBPE, na avaliação de Zacarias, mostra que o brasileiro está conseguindo equilibrar as contas e voltando a guardar dinheiro. A queda da taxa Selic também favoreceu os investimentos na poupança. A Selic está em 6,5%. Em julho do ano passado estava em 9,25%. "Com a Selic em baixa, a poupança é um bom investimento e sem impostos", avaliou o presidente do Sinduscon Norte.
Para ele, está se formando o cenário ideal para o setor. "Temos a retomada da construção civil, juros abaixo dos dois dígitos e recursos abundantes que atendem a demanda", ressaltou. Em abril, a Caixa Econômica reduziu a taxa de juros em até 1,25% e elevou a cota de financiamento de imóveis usados de 50% para 70% e retomou as operações de interveniente quitante (imóveis com produção financiada por outros bancos), também com cota de até 70%.
O banco fechou o primeiro semestre com crescimento de 2,2% em comparação com o mesmo período do ano passado. Foram aplicados R$ 38,3 bilhões do total de R$ 85,01 bilhões disponíveis para financiamento este ano. Deste total, foram financiados R$ 4,62 bilhões pelo SBPE, e R$ 32,81 bilhões com recursos do FGTS.
O crédito imobiliário com recursos do FGTS, fonte para financiamento dentro do programa Minha Casa Minha Vida, por outro lado, recuou 6,8%, na primeira queda semestral desde 2014, de acordo com a Abecip. Em Londrina, a Caixa concedeu R$ 41.851.344,59 em crédito pelo SBPE, uma queda de 38,2% em relação ao primeiro semestre de 2017, mas apresentou um incremento de 52,1% nos recursos do FGTS.
O professor Sidnei Pereira do Nascimento, chefe do Departamento de Economia da UEL (Universidade Estadual de Londrina), afirmou que a situação econômica atual é o melhor cenário dos últimos anos para compra da casa própria, principalmente pelo valor dos imóveis. "A bolha que existia se ajustou, com ligeiro crescimento e perspectivas de melhora, mas os preços ainda são baixos e é um bom momento para quem tem condições reais e segurança para aquisição da casa própria", comentou.
Segundo a Abecip, a aquisição para construção, no entanto, cresceu menos, 14,5%, somando apenas R$ 5,1 bilhões. "Os empresários ainda estão comedidos, começando a acelerar o negócio em ritmo diferente do consumidor."

PROJEÇÃO
A Abecip elevou suas projeções de crescimento do crédito com recursos da poupança de 10% para 16% em 2018. "Hoje, nós vemos os bancos com apetite para emprestar. O que está difícil é encontrar projetos de incorporadoras para esse dinheiro e consumidor com apetite consistente para comprar", diz Abreu Filho.
Ele observa que, apesar do otimismo dos bancos, o viés de alta nas taxas de juros futuras pode ser uma barreira. "Esse movimento depende muito do cenário eleitoral e da perspectiva da economia. Parece que os bancos viram a curva subir, mas estão apostando em uma queda. Se o patamar se mantiver alto, no entanto, em algum momento veremos uma reversão, com aumento de preços e queda na concessão."
Segundo a Abecip, com a recuperação da poupança, pode haver um excesso de recursos para financiamento disponíveis no mercado superior a R$ 100 bilhões pelos próximos 24 meses. Um maior volume de recursos disponíveis com uma demanda inferior pelo financiamento poderia levar a uma queda no custo do crédito. "Não vejo, no entanto, os preços caindo até agora, porque as curvas de juros não cedem. Se isso acontecesse, poderíamos para o próximo ano ver algo inédito, como taxas abaixo de 8,8%", diz Abreu Filho.(Com Folhapress)