O assessor de investimentos Eduardo Guergoleti confirma que as opções estão se tornando uma modalidade de investimento menos rara e mais acessível
O assessor de investimentos Eduardo Guergoleti confirma que as opções estão se tornando uma modalidade de investimento menos rara e mais acessível | Foto: Marcos Zanutto

Collar, fence, call spread, put spread. Desconhecidas da maioria das pessoas, essas são palavras comuns nas mesas de operação das corretoras de investimento. E, se depender do mercado financeiro, a cada dia vão soar menos estranhas aos ouvidos dos brasileiros. A intenção é oferecer o maior número de produtos para diversificação das cestas dos investidores, entre eles, alguns derivativos. Derivativo é um papel que tem valor relacionado diretamente com o do ativo principal, do qual deriva.

As opções são um tipo de derivativo. No caso das citadas no parágrafo anterior, derivam de ações de companhias listadas na B3 (bolsa brasileira). Existem duas categorias delas: call e put. Quando se compra uma call, na verdade se está comprando o direito de comprar uma ação por determinado valor no vencimento do contrato. Quando se vende uma call, se está vendendo o direito da outra parte comprar uma ação por preço pré-determinado.

Já as put representam o direito de vender. O investidor pode comprar o direito de vender ou vender o direito de vender. Parece complicado, não é? Marcelo Missioneiro, head da mesa de operações estruturadas da Nova Futura Investimentos, garante que não. Para ele, o mercado criou um mito de que opção é algo complexo, que se vende apenas para pessoas muito experientes ou de perfil agressivo. “Não é assim. Você usa opção para fazer uma série de operações, seja para pessoas agressivas ou conservadoras. Você pode fazer um capital garantido via opção.

Você pode fazer uma operação especulativa, ou seja, com risco maior, também via opção”, conta.Vamos a um exemplo dos mais simples: o investidor compra uma call de ação de determinada empresa a R$ 26 para vencer daqui a seis meses. Se, no vencimento, a ação estiver valendo mais que isso no mercado, por exemplo, R$ 28, ele exerce seu direito de comprá-la Vai ganhar R$ 2 neste caso. Caso o papel tenha ficado abaixo de R$ 26, ele simplesmente não exerce seu direito. Mas, o que o mercado oferece são as operações estruturadas, nas quais são combinados dois ou mais ativos.

Há mais ou menos um ano e meio, de acordo com Missioneiro, as corretoras passaram a oferecer as opções ao investidor comum. Antes, eram um produto exclusivo para os “tubarões” do mercado. Segundo o head, não há valor mínimo para se investir nelas. “Pode ser R$ 1 mil. Mas, se tivesse que fazer uma média, diria que são R$ 10 mil”, declara.

Apesar de ser “totalmente compatível” com pessoas conservadoras, segundo ele, as opções são um “caminho maravilhoso” para quem está disposto a correr risco. “Nenhum outro produto vai poder competir com elas em termos de rentabilidade.”

Mas não é corriqueiro o investidor comum usar opções para altas alavancagens. “Nós usamos opção como mais um produto numa cesta que deve ser diversificada. Nessa cesta, tem espaço para renda fixa, fundos, opções”, explica. “Se o cliente tiver R$ 10 mil de patrimônio e deseja especular, não vamos deixar que ele invista R$ 5 mil numa operação arriscada de opções. Vamos sugerir que use uma parte pequena para dar uma 'pimenta' na cesta dele. Algo que não faça muita diferença se perder.”

ATENÇÃO

Em Londrina, Eduardo Guergoleti confirma que as opções estão se tornando uma modalidade de investimento menos rara e mais acessível. Ele é assessor de investimentos e sócio proprietário da youp! Financial Group, empresa credenciada à Guide Investimentos. E recomenda que o investidor preste muita atenção ao comprar uma opção, de preferência com o auxílio de um assessor ou uma corretora de confiança, caso tenha qualquer dúvida.

“Quando vamos oferecer uma estrutura de investimento com opção para um cliente, muitas vezes nós pedimos para quem está na mesa da operação da corretora montá-la e executá-la, pois exigem conhecimento técnico. Geralmente, a corretora não cobra nada por isso. Tem que ter cuidado, mas não é um bicho de sete cabeças”, declara.

Ele ressalta que, com a taxa de juros atual muito baixa, os produtos de renda fixa têm pouca rentabilidade e, por isso, cresce o interesse dos investidores pela renda variável.

“As opções vão ganhar espaço junto com as ações, o que é extremamente saudável e recomendável como diversificação de investimentos. Não precisa ter medo da bolsa de valores. Pelo contrário, é cada dia mais essencial usá-la.”Guergoleti concorda com Missioneiro sobre o fato de não haver um perfil único para o investidor deste tipo de estrutura. Pode ser conservador ou agressivo, já que é possível montar uma operação das mais simples, na qual a pessoa opta por proteger 100% de seu patrimônio, até a mais arriscada, na qual todo o investimento pode “virar pó”.

O sócio da youp! lembra que o mais importante é ter em mente quanto se quer arriscar para ganhar mais ou ser conservador para proteger o capital. “É importante ter alguém do lado para auxiliar nesse processo de tomada de decisão.”Guergoleti considera que “investir é para todos” e ressalta que o acesso às estruturas está cada vez mais fácil e barato. “Podemos investir com menos dinheiro do que se imagina e ser mais crítico ao guardar de maneira mais rentável nosso suado dinheirinho.”

“Melhor investir em ações”

Sócio da londrinense Real Investor, Alexandre Mantovani tem uma “visão negativa” das opções. “São muitas vezes operações difíceis de entender e que geralmente acabam sendo mais rentáveis para quem as estrutura. Manter as coisas simples é a melhor coisa a se fazer”, alega.

Em se tratando de renda variável, ele recomenda um “bom fundo de ações”, pois a tarefa de “selecionar e acompanhar as melhores companhias é trabalhosa e requer experiência”.

Na opinião de Mantovani, se o investidor deseja um produto de longo prazo com retornos superiores, o melhor é apostar diretamente em ações. “O importante é construir um portfólio de investimentos diversificado, adequado ao seus objetivos e com produtos financeiros eficientes”, afirma.

Para ele, o fato de as operações estruturadas oferecerem “capital protegido” já é uma perda. “Após três anos receber o mesmo dinheiro de volta (caso a operação dê errado) significa não ter investido a 6,4% ao ano ou 20% nos três anos”, diz ele, em referência à taxa do CDI (Certificado de Depósito Interbancário).

O aumento da procura por investimento em ações, segundo Mantovani, é positivo. “Com as quedas das taxas de juros no Brasil, é um caminho natural para o investidor de longo prazo, que está preocupado com sua aposentadoria ou demais projetos de vida. Ao investir na bolsa, a pessoa na verdade está se tornando sócio das principais empresas brasileiras, onde se gera riqueza, trabalho e melhoria para o País.”

Imagem ilustrativa da imagem Corretoras passam a oferecer novos produtos ao investidor comum