A Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) aprovou na terça-feira (22) o reajuste tarifário da Copel, distribuidora que atende a 4,8 milhões de unidades consumidoras localizadas em 394 municípios do Paraná. A Copel justificou o aumento pela falta de chuvas que obriga o acionamento das usinas térmicas, mais caras, somada à variação do dólar e à alta da inflação, encareceram a energia em 9,89% no Paraná. É que para empresa de baixa tensão em média o aumento será de 10,04% e para empresas de alta tensão em média o aumento será de 9,57%. O aumento para os consumidores residenciais, que representam 81% dos clientes da Companhia, foi menor, de 8,97%. Os reajustes entraram em vigor nesta quinta-feira (24).

Imagem ilustrativa da imagem Conta de luz da Copel está 8,97% mais cara
| Foto: Anderson Coelho/27-02-2017

A empresa diz que um dos principais motivos do aumento foi o acionamento de usinas térmicas, grande parte delas movidas a gás, que são mais caras e impactadas pela variação do dólar. Além disso, a Copel é obrigada a comprar parte da energia de Itaipu, que também é comercializada em dólar.

A falta de chuvas que assola o Sul e Sudeste do Brasil foi um dos principais fatores na composição do reajuste. Isso porque a maior parte da matriz de energia do Brasil é hidrelétrica, que utiliza a força das águas para gerar eletricidade. Em 2020, o Paraná viveu a pior seca desde 1931, quando foi iniciado o monitoramento do nível de chuvas.

A inflação foi outro fator que encareceu a conta de luz. Nos últimos 12 meses, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA), que é utilizado pela Aneel para determinar a tarifa, subiu 8,06%.

As famílias de baixa renda que consomem até 120 kWh por mês continuam a fazer parte do programa Luz Fraterna e não precisam pagar a conta de luz. No Paraná, 370 mil clientes estão cadastrados na tarifa social e possuem descontos. Desse total de clientes, apenas em maio deste ano, 162,6 mil tiveram suas contas pagas pelo governo do Estado – o número pode variar a cada mês, conforme o consumo dos clientes.

DESCONTO EM 2020

A Copel disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que em 2020, sob outro cenário macroeconômico, os clientes da Copel tiveram duas reduções na tarifa de energia: 0,95% para os clientes residenciais em junho e 3,8% médios na tarifa de energia para todas as classes de consumo. Esta última redução ocorreu porque a companhia venceu uma ação judicial que a desobrigou a continuar recolhendo PIS e Cofins sobre o ICMS que incide na tarifa de energia elétrica.

A assessoria reforça que a ação foi uma iniciativa da Copel, que buscou a defesa do direito dos seus clientes. A Companhia defendeu, no processo, que o ICMS não é receita da empresa, mas sim do Estado. Como o PIS e a Cofins são calculados sobre a receita da companhia, o ICMS não poderia estar nesta base de cálculo.

RACIONAMENTO VIA PREÇO

O economista e professor da UTFPR, Marcos Rambalducci, afirma que que a alta está associada tanto ao estresse hídrico que obrigou a utilização de geração a combustível fóssil como a uma recomposição tarifária em decorrência da inflação. “Mas já é um componente implícito neste aumento que é o racionamento via preço. Não tenho dúvidas que um dos motivos para a aplicação deste aumento tem muito a ver com o controle no consumo por parte das famílias, diante de um aumento de quase 10%.”, afirmou.

Segundo ele, ao adotar tal medida o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico ) está prevendo uma redução na pressão de demanda, seja de consumidores residenciais, seja na indústria. “Agora, também não há dúvida que este aumento vai se traduzir em mais um impulso sobre a inflação, visto que energia elétrica é insumo para tudo”, projetou.

Rambalducci diz que a adoção de sistemas de geração solar também é uma alternativa tanto para residências quanto para a indústria, desde que se tenha em conta que o tempo mínimo de retorno do capital investido é próximo a seis anos. “Quem tem possibilidade de sair do mercado cativo e ir para o mercado livre, consegue sim, boa economia na negociação. Há alternativas, mas somente aquelas medidas paliativas focadas na redução temporária do consumo, junto com mudanças culturais e substituição de equipamentos obsoletos por outros mais modernos.”

FONTES ALTERNATIVAS

O presidente da ACP (Associação Comercial do Paraná), Camilo Turmina, afirma que faz mais de um ano que a entidade está orientando empresas a adotarem uso de energia alternativa de baixa tensão para homologarem suas contas para obter um desconto na faixa de 10% na fatura. “Pela associação, já estamos há mais de um ano agregando nas contas de energia essa alternativa de contratar energia de pequenos PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas). Firmamos uma parceria com a Cogecom (Cooperativa de Geração de Energia), que é uma cooperativa que vem do Mato Grosso do Sul, passa pelo Paraná, Santa Catarina e vai para o Rio Grande do Sul. Eles comercializam energia de 70 PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas) para pequenos comércios. Só em Curitiba temos mil empresas que aderiram a esse processo. É um belo benefício, com essas altas isso se tornou quase prioritário. Nós gostamos tanto da parceria que nos tornamos vendedores dessa energia no Paraná”, destacou.

OBSTÁCULOS

O economista do Sistema Fiep (Sistema Federação das Indústrias do Estado do Paraná), Evânio Felippe, explicou que esse aumento representa mais um obstáculo para a retomada da atividade econômica. “Considerando esse momento atípico de pandemia e que vem desde o do ano passado vai impactar nessa busca da plena recuperação da atividade industrial. Se olharmos o indicador do segundo semestre do ano passado para cá, a produção industrial tem crescido mês a mês, mas não significa que não houve obstáculos e barreiras a serem superados.” Ele explicou que o Paraná continua acertando o ritmo de produção. “Nós temos a questão do acesso à matéria prima e do aumento de seus custos que continuam pressionando a atividade industrial. Tem também a questão da taxa de câmbio, que afeta os preços de insumos e matérias primas importados”, apontou.

Esses problemas somados a esse reajuste irão influenciar nos custos de produção da atividade industrial. “O aumento é geral desde o consumidor final. Temos que ver como esses setores vão reagir a esse aumento da energia elétrica. Têm atividades que conseguem absorver, mas têm outras que não”, apontou.