Entre os dias 20 de julho e 16 de agosto, o preço da gasolina no país teve três reduções seguidas, mas mesmo com as quedas, o litro do combustível nas bombas atualmente ainda está quase 14% maior em relação ao final de dezembro de 2021. Isso porque antes de anunciar as últimas baixas nos valores, a Petrobras aplicou três aumentos em 2022 que, acumulados, ficaram em 31,18%. No acumulado do ano, as reduções chegaram a apenas 13,05%. No final de dezembro do ano passado, o litro da gasolina nas refinarias custava R$ 3,09. Atualmente, o produto é vendido a R$ 3,52, em média, 13,91% mais caro do que oito meses atrás.

No preço do diesel, as duas reduções aplicadas pela Petrobras neste mês tiveram ainda menos impacto no bolso dos motoristas. As baixas de 4,07% e de 3,57% que entraram em vigor nos dias 5 e 12 de agosto, respectivamente, significaram uma queda acumulada de 7,50%, enquanto a alta acumulada com os quatro reajustes realizados anteriormente - em janeiro, março, maio e junho - foi de 67,69%.

As recentes quedas no preço dos combustíveis são apontadas como um dos fatores que levaram o país a registrar deflação em julho. O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), medido pelo IBGE, caiu 0,68% no mês passado. Esse recuo, no entanto, ainda não foi sentido pelos consumidores. “A gente vê o governo anunciando que vai baixar o preço dos combustíveis, mas a impressão que a gente tem é que essa redução só chega no posto de combustível e ainda assim, são só alguns centavos. A gente não vê baixar o preço do arroz, do feijão, do leite, da carne. Ao contrário de quando tem alta, que tudo sobe praticamente no dia seguinte”, disse a professora Rosemeire Luiz.

O servidor público Jonas Cabral tem observado um aumento constante no seu custo de vida, independente do preço dos combustíveis. “Tudo só aumenta e os salários não acompanham mais. Está cada vez mais difícil manter o tanque do carro e a geladeira cheios. O governo tinha que pensar mais globalmente. Reduzir uma gasolina aqui, uma tarifa de energia ali não está mais fazendo diferença no nosso orçamento do mês.”

Para quem utiliza o veículo como instrumento de trabalho, o valor do combustível nos custos da profissão continua tendo um peso considerável. O óleo diesel é o principal insumo da planilha de custos do transporte de cargas e mesmo com o preço em queda, é ele o maior responsável pela diminuição dos lucros dos caminhoneiros. Os trabalhadores se queixam que as medidas econômicas adotadas pelo governo recentemente para tentar conter a elevação de custos da categoria ainda estão longe de satisfazer as necessidades dos profissionais, especialmente os autônomos. Os ganhos, dizem eles, estão cada vez menores, o que desanima a permanência na atividade.

“Esses 7% de redução não representam quase nada devido às altas, e o frete não vem acompanhando essa diminuição. Todos os insumos subiram de preço, menos o frete. O empresário do agronegócio faz a planilha dele e se você quiser ir por aquele valor, vai. Se não, outro caminhoneiro faz o transporte”, disse o presidente do Sindicato dos Transportes Rodoviários Autônomos de Bens de Londrina e Região, Carlos Roberto Dellarosa.

O excesso de caminhões em circulação, disse o sindicalista, acaba com o poder de negociação e os motoristas não conseguem impor o valor que consideram justo. “Os caminhoneiros vão levando, empurrando, sobrevivendo, mas não recebem o frete adequado.”

Segundo Dellarosa, mesmo pequenas, as recentes reduções no preço do diesel ainda não foram integralmente repassadas pelos revendedores. “Quando há aumento, no dia seguinte os postos sobem os preços. Quando diminui, eles falam que estão com os reservatórios cheios e que vai demorar para repassar a baixa. No fim, o maior prejudicado é sempre o consumidor.”

“Muitas vezes, tal redução (dos custos) não acompanha a queda nos preços do insumo principal”, disse o economista Marcos Rambalducci. Isso acontece, segundo ele, porque uma elevação nos preços dos combustíveis impacta toda a cadeia produtiva, dos produtos acabados aos produtos intermediários, que são aqueles utilizados para a manufatura de outros produtos. “Mas quando o preço deste mesmo combustível cai, toda uma cadeia produtiva precisa reduzir seus preços para que retornem ao patamar antigo. Então, agora não é só o combustível que precisa cair de preço, mas todos os demais insumos que foram afetados anteriormente pelo aumento. Isso leva mais tempo”, explicou.

Nesse contexto, há que se considerar ainda outros fatores. Um exemplo seria a possibilidade de ter ocorrido aumento nos salários em função da inflação. Então, mesmo se houver uma redução nos preços, os valores dos salários não irão retroagir, destacou Rambalducci. “Isso nos ajuda a entender por que a velocidade da redução é menor e nem sempre na mesma proporção.”

A Paranapetro (Sindicato dos Revendedores de Combustíveis e Lojas de Conveniência do Estado do Paraná), informou que os postos não podem comprar os combustíveis diretamente das refinarias, sendo obrigados a adquirir o produto das distribuidoras. Por isso, os repasses das reduções e elevações praticadas nas refinarias dependem, principalmente, das distribuidoras. “Conforme informações disponíveis no mercado, as reduções anteriores foram repassadas gradativamente para os postos”, disse a entidade, em nota encaminhada por sua assessoria de imprensa.

Receba nossas notícias direto no seu celular! Envie também suas fotos para a seção 'A cidade fala'. Adicione o WhatsApp da FOLHA por meio do número (43) 99869-0068 ou pelo link wa.me/message/6WMTNSJARGMLL1.