Consumidor já sente 'festival de aumentos'
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segunda-feira, 25 de junho de 2001
Benê BianchiDe Londrina
O primeiro semestre de 2001 termina inflacionado e projeta orçamentos apertados para a segunda metade do ano. Os efeitos da alta do dólar, da crise argentina, do aumento dos juros e da crise de energia elétrica já são sentidos no bolso pelos paranaenses. Um dos primeiros produtos a refletir as altas, este mês, foi o pão francês, que subiu, no início do mês 33% em média, puxado pelo racionamento de energia e necessidade da indústria investir em novos fornos a gás; e também em razão do preço do trigo, cotado em dólar.
A gasolina tem subido. Em Londrina, as altas têm sido pequenas, mas diárias. Os postos alegam que as distribuidoras retiraram os descontos. Para a semana que vem, está sendo aguardado um novo reajuste de cerca de 10% no preço da gasolina. Quem usa o transporte coletivo também já está pagando mais caro pela tarifa. Em Londrina, subiu de R$ 1,00 para R$ 1,15.
A semana começou recheada de aumentos. Os que comemoraram a redução no consumo de energia e, consequentemente, do valor da fatura, não podem mais contar com essa economia no próximo mês. A Copel reajustou em 17,31% a tarifa de energia no Paraná. O impacto será sentido pelos consumidores na próxima conta.
No mês que vem, consumidores menos avisados podem se surpreender com a conta de telefone. A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) autorizou reajustes de até 10,44% na cesta de tarifas. A Telepar já anunciou os novos valores, que entraram em vigor no domingo. A Sercomtel está aguardando a homologação dos novos valores e a expectativa é de que a tabela seja conhecida até o final da semana.
Mas não foram só serviços que tiveram majoração. De acordo com levantamente da Fipe Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da Universidade de São Paulo, os principais grupos de alimentos que entram na composição das refeições registraram aumentos bem superiores à inflação nos últimos 12 meses.
Nesse levantamento, destacam-se os cereais, que subiram em média 40%, frutas com 28,6%, hortigranjeiros com 20,1%, peixes com 15,1%, laticínios com 14,4% e carne bovina com 11,7%. Por produtos, o campeão de alta no período foi o feijão, que em doze meses subiu 80%.
Quem trabalha no ramo, tem sentido a pressão. A proprietária do Restaurante La Francines, de Londrina, Laura Missaka, acrescenta à lista de aumentos as verduras, que sofreram com o frio e chegaram à banca mais caras nas últimas semanas. A farinha e todos os seus derivados também subiram bastante, diz.
Mesmo quem não trabalha no ramo está preocupado com os constantes aumentos dos alimentos e taxas de serviços. Na minha casa não tem quase nada e já acho que o preço da energia está muito alto. Só deixo ligada a geladeira e pago R$ 55,00 por mês, diz Maria de Fátima de Oliveira, funcionária da Frente de Trabalho da prefeitura. Ela conta que tem cortado o que pode para economizar. No mercado, só compro o que é necessário mesmo e não tenho nada estocado em casa.
O aposentado e vendedor Honório Pasqualeto faz as contas e fica indignado com o preço do pão francês. Passou de R$ 0,15 para R$ 0,20. É um aumento de 33%. Um absurdo, diz ele. Para economizar, ele relata que tem saído menos para comer fora e comprado menos enlatados, inclusive cerveja.
Para a dona de casa Elizabeth Rodrigues, administrar o que o marido ganha como pedreiro está cada vez mais difícil. Na casa dela, o corte de despesas tem atingido o básico. Fruta foi um dos itens reduzidos na cesta de compras. Calçados e roupas para o filho adolescente também só são comprados quando realmente necessários. Se não fizer assim, não dá nem para comer.