O primeiro semestre de 2001 termina inflacionado e projeta orçamentos apertados para a segunda metade do ano. Os efeitos da alta do dólar, da crise argentina, do aumento dos juros e da crise de energia elétrica já são sentidos no bolso pelos paranaenses. Um dos primeiros produtos a refletir as altas, este mês, foi o pão francês, que subiu, no início do mês 33% em média, puxado pelo racionamento de energia e necessidade da indústria investir em novos fornos a gás; e também em razão do preço do trigo, cotado em dólar.
A gasolina tem subido. Em Londrina, as altas têm sido pequenas, mas diárias. Os postos alegam que as distribuidoras retiraram os descontos. Para a semana que vem, está sendo aguardado um novo reajuste de cerca de 10% no preço da gasolina. Quem usa o transporte coletivo também já está pagando mais caro pela tarifa. Em Londrina, subiu de R$ 1,00 para R$ 1,15.
A semana começou recheada de aumentos. Os que comemoraram a redução no consumo de energia e, consequentemente, do valor da fatura, não podem mais contar com essa economia no próximo mês. A Copel reajustou em 17,31% a tarifa de energia no Paraná. O impacto será sentido pelos consumidores na próxima conta.
No mês que vem, consumidores menos avisados podem se surpreender com a conta de telefone. A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) autorizou reajustes de até 10,44% na cesta de tarifas. A Telepar já anunciou os novos valores, que entraram em vigor no domingo. A Sercomtel está aguardando a homologação dos novos valores e a expectativa é de que a tabela seja conhecida até o final da semana.
Mas não foram só serviços que tiveram majoração. De acordo com levantamente da Fipe – Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da Universidade de São Paulo, os principais grupos de alimentos que entram na composição das refeições registraram aumentos bem superiores à inflação nos últimos 12 meses.
Nesse levantamento, destacam-se os cereais, que subiram em média 40%, frutas com 28,6%, hortigranjeiros com 20,1%, peixes com 15,1%, laticínios com 14,4% e carne bovina com 11,7%. Por produtos, o campeão de alta no período foi o feijão, que em doze meses subiu 80%.
Quem trabalha no ramo, tem sentido a pressão. A proprietária do Restaurante La Francine’s, de Londrina, Laura Missaka, acrescenta à lista de aumentos as verduras, que sofreram com o frio e chegaram à banca mais caras nas últimas semanas. ‘‘A farinha e todos os seus derivados também subiram bastante’’, diz.
Mesmo quem não trabalha no ramo está preocupado com os constantes aumentos dos alimentos e taxas de serviços. ‘‘Na minha casa não tem quase nada e já acho que o preço da energia está muito alto. Só deixo ligada a geladeira e pago R$ 55,00 por mês’’, diz Maria de Fátima de Oliveira, funcionária da Frente de Trabalho da prefeitura. Ela conta que tem cortado o que pode para economizar. ‘‘No mercado, só compro o que é necessário mesmo e não tenho nada estocado em casa.’’
O aposentado e vendedor Honório Pasqualeto faz as contas e fica indignado com o preço do pão francês. ‘‘Passou de R$ 0,15 para R$ 0,20. É um aumento de 33%. Um absurdo’’, diz ele. Para economizar, ele relata que tem saído menos para comer fora e comprado menos enlatados, inclusive cerveja.
Para a dona de casa Elizabeth Rodrigues, administrar o que o marido ganha como pedreiro está cada vez mais difícil. Na casa dela, o corte de despesas tem atingido o básico. Fruta foi um dos itens reduzidos na cesta de compras. Calçados e roupas para o filho adolescente também só são comprados quando realmente necessários. ‘‘Se não fizer assim, não dá nem para comer.’’