Com produtos em falta, um depósito de material de construções de Londrina está tendo que agendar com fornecedores a compra de itens básicos, como cimento, tijolo e ferragens. "Estamos com falta de tudo, e o que pedimos não vem", conta Sônia Martins, proprietária do depósito Casa Grande, que considera esta uma situação sem precedentes.

Imagem ilustrativa da imagem Construção civil sofre com escassez e alta de materiais
| Foto: Gustavo Carneiro

"Ferragem, mesmo cimento que é um produto em abundância com vários fornecedores, não estamos com a mesma facilidade para conseguir. Tem que fazer agendamento porque quando precisa não consegue pedir nada fora", ela acrescenta. A falta de materiais de construção, conforme a proprietária, perdura há cerca de três meses.

Pedidos que demoravam cerca de 14 a 20 dias para serem entregues por fornecedores agora chegam após 60 a 90 dias, pontua Carlos Galetti, presidente da Acomac (Associação dos Comerciantes de Material de Construção). "O que for pedir hoje, provavelmente vai entregar só no próximo ano."

Em paralelo, a construção civil sofre com alta de preços. "Ferragem, aço subiu. Cimento teve uma alta girando acima de 40%, tijolos e algumas cerâmicas já subiram 50%. Quem subiu pouco não entrega", acrescenta Galetti.

A demanda por tijolos, segundo Arildo Prado, dono da Cerâmica Prado, aumentou 70%. Os pedidos, que antes demoravam cerca de 10 dias para serem entregues, agora precisam ser feitos com três meses de antecedência. "Não estamos dando conta de atender."

Para Sandro Nóbrega, presidente do Sinduscon Paraná Norte (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Norte do Paraná), a escassez de material de construção é decorrente da parada abrupta da indústria no início da pandemia. "A economia estava paralisada e vindo em uma rota suave de retomada. Quando veio a crise da pandemia, paralisou de repente e o governo teve que fazer alguma coisa para salvar as pessoas. Mas o governo injetou dinheiro no mercado e isso deu um ânimo para os investidores para construir. Quando houve a retomada, a indústria estava paralisada há alguns anos."

Como em março as indústrias tiveram de parar em virtude das medidas de controle da pandemia, todo o estoque de segurança foi vendido. "Até as indústrias começarem a fabricar novamente, não tinha estoque e nem como regularizar o estoque de segurança", explica Galetti.

O presidente do Sinduscon Paraná Norte explica que a retomada da indústria não é tão simples e exige tempo. "A indústria quando está parada precisa realinhar os fornos, fazer os líquidos passarem pelas tubulações, contratar pessoas para repor os demitidos. Quando alguém é recontratado você precisa dar treinamento para manusear o ferramental, ir no médico. Só o processo de admissão leva mais de mês, a indústria não estava preparada para a retomada. Precisa ter estoque de matéria-prima, energia ligada, é muito complexo."

A escassez de material afeta toda a cadeia da construção civil e atrapalha os cronogramas das construtoras. "Tem casos de construtoras em Londrina que comprou em maio, junho, e não recebeu mercadoria ainda", conta Nóbrega. "A construtora luta para manter o cronograma em dia, mas de forma geral a gente teme por atrasos se a cadeia produtiva não se estabilizar e voltar ao normal."

No final, os atrasos podem refletir no custo dos imóveis, ressalta o presidente do Sinduscon. "Evidentemente que quando começa a ter procura por imóveis novos e estes não estão sendo entregues, ocorre um aumento de preços com o aumento de demanda."