Ao contrário de outras atividades econômicas, a construção civil não sofreu impacto negativo no primeiro ano da pandemia. Este setor da indústria gerou R$ 325,1 bilhões em valor de incorporações, obras e serviços em 2020. Na comparação com 2019, os resultados dos segmentos do setor não apontam grandes avanços nem expressivas retrações em valores gerados. As obras de infraestrutura tiveram aumento de 0,7% no valor gerado no período, passando de 32,0% para 32,7%. A construção de edifícios cresceu de 44,7% para 45,3% e serviços especializados para construção caiu de 23,3% para 22,0%.

Os dados são da PAIC (Pesquisa Anual da Indústria da Construção), realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O estudo mostra também resultado positivo na geração de empregos pelo setor. Em 2020, houve alta de 3,8% no número de trabalhadores da construção civil na comparação com o ano anterior. O percentual corresponde a 71,8 mil profissionais absorvidos pelo mercado, totalizando dois milhões de empregados.

A maior parte deles (35,3%) atuava na construção de edifícios, que teve um crescimento de 4,9% no número de ocupados sobre 2019. O segmento que teve o maior aumento percentual, no entanto, foi o de obras de infraestrutura, com alta de 10,9%. Já no segmento de serviços especializados houve mais demissões do que contratações, com redução de 3,3% no número de empregados.

Na contramão dos bons resultados da construção civil, porém, estão os salários pagos aos trabalhadores do setor, segundo apurou o IBGE. A despeito da estabilidade nos valores gerados e da alta no número de postos de trabalho, houve queda na média salarial de 2019 para 2020. Os salários caíram ao menor nível da série, iniciada em 2007.

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O salário médio mensal da indústria da construção baixou de 2,3 para 2,2 salários mínimos de 2019 para 2020. “O ano de 2020 teve os menores salários da série histórica”, avaliou o analista da pesquisa, Marcelo Miranda. As empresas do setor pagaram R$ 58,7 bilhões em salários, retiradas e outras remunerações, sendo o maior percentual, 37,1%, em obras de infraestrutura. Neste segmento, a remuneração foi um pouco maior, alcançando os 2,6 salários mínimos. Os trabalhadores contratados para trabalhar na construção de edifícios e serviços especializados ficaram com a pior remuneração, com média de 2,0 salários mínimos.

“O que se percebe é que de um ano para outro houve estabilidade na quantidade de contratações, o que indica que o setor ainda não havia tirado seus projetos do papel”, analisou o economista Marcos Rambalducci, lembrando que foi de 2020 para 2021 que os lançamentos novos “criaram corpo” e o número de empregados no setor registrou um aumento expressivo de 12%.

O economista destacou, no entanto, que a alta na demanda por trabalhadores não deveria vir acompanhada de redução de salários. “Mas isso é uma análise considerando 2020 para 2021. Em relação a 2019 para 2020 (período analisado pela PAIC), a explicação para a queda nos salários certamente está ligada a uma demanda baixa de mão de obra e aumento na oferta de trabalhadores.”

A entrada de 3,8% a mais de profissionais no mercado de trabalho da construção civil, disse Rambalducci, deixa claro que o número de pessoas disponíveis no setor aumentou mais que a oferta de vagas. “Dá para projetar que o contingente de trabalhadores no setor subiu algo como 4,5% e a demanda subiu 3,8%. Daí se explica a queda nos rendimentos pagos.”

Presidente do Sinduscon Paraná Norte, Sandro Nóbrega esclareceu que cada categoria de atividade profissional dentro da construção civil tem um salário mínimo estabelecido, o que torna “improvável” a redução na média salarial. Mas como existem, dentro deste setor, vários patamares profissionais, salientou ele, a queda no nível salarial poderia acontecer com um funcionário iniciante em um serviço básico no qual não seja utilizada mão de obra altamente especializada. “Isso pode ocorrer no momento em que a empresa está iniciando um projeto, mas certamente, no conjunto geral da obra, a média salarial tende a ser maior.”

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Ainda que possa ser justificada por uma particularidade do setor, Nóbrega destacou que na Região Norte do Paraná não houve redução na média salarial. “Aqui, há muitos anos, em cada convenção coletiva, é garantida a reposição da inflação, o que se manteve mesmo durante a pandemia. Existe também o aumento salarial ligado à produtividade.”

O levantamento do IBGE acompanha a evolução do mercado formal de trabalho e o presidente do Sinduscon considera importante lembrar que a informalidade existe e é um fator “extremamente prejudicial” para o trabalhador e o setor como um todo. “Nós, do Sinduscon, fazemos parte de um comitê de combate à informalidade. Não aceitamos, não admitimos a informalidade em nosso segmento”, enfatizou.

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