Tanto o Paraná quanto o Brasil devem ter ampliação da área plantada de soja de até 4%na próxima safra, em relação à anterior, que começa a ser plantada em setembro
Tanto o Paraná quanto o Brasil devem ter ampliação da área plantada de soja de até 4%na próxima safra, em relação à anterior, que começa a ser plantada em setembro | Foto: Anderson Coelho/27-02-2017



A demanda chinesa pela soja brasileira, causada pela guerra comercial com os Estados Unidos, deve levar a um aumento na área plantada do grão e a uma produção recorde no mundo na safra 2018/19. Mesmo assim, a rentabilidade deve continuar alta, ainda que possa afetar a expectativa para a produção de outro grão de verão, o milho, que também acabaria com cotações acima da média histórica. A análise é de estudos da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) e foi divulgada na segunda-feira (20), com base em números do Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, na sigla em inglês).

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A previsão é de que os EUA colham 124 milhões de t (toneladas) de soja e o Brasil, 120 milhões de t. Assim, a safra mundial chegaria ao recorde de 367 milhões de t. Contudo, as disputas comerciais promovidas pelo governo de Donald Trump levaram os chineses a anunciar uma taxação de 25% sobre o grão norte-americano, o que deve manter em alta a demanda e levar ao pagamento de bons prêmios nos portos pelo produto brasileiro.

Com isso, há uma tendência entre analistas de apontar o aumento da área plantada de soja, tanto no Paraná quanto no Brasil. Por consequência, deve impactar na redução da quantidade de terras destinadas ao milho, que vem de quebra nesta colheita que apenas não causou dano maior às atividades dependentes de rações porque os estoques nacionais do produto estavam relativamente altos. Porém, não está claro sobre como ficará a situação ao fim da colheita de primeira safra em 2019.

"Há 15 anos a safra de soja vem aumentando e a de milho primeira safra, diminuindo", diz o professor de economia Eugenio Stefanelo, da UFPR (Universidade Federal do Paraná) e da FAE. Ele considera que, tanto Paraná quanto Brasil, devem ter ampliação da área plantada de soja de até 4% na próxima safra, que começa a ser plantada em setembro, em relação à anterior. "O produtor tem preferido plantar soja porque há maior liquidez e menor custo de produção, deixando o milho para a segunda safra. Assim, a área para o milho deve cair até 2%", completa.

Stefanelo afirma que os EUA estão com a soja já em florescimento e sem ter enfrentado problema climático relevante, o que deve confirmar os números da Usda. No entanto, diz que não é nesse cenário que o agricultor está de olho, mas na variação do câmbio no País e na demanda chinesa nos portos nacionais.

Os dois fatores levaram a saca a um preço em torno de R$ 92, no Porto de Paranaguá, e a prêmios de US$ 2 por bushel - a saca de 60 kg corresponde a 2,2 bushels, medida usada para exportações. "Os produtores estão animados porque os contratos de venda antecipados giram em torno de R$ 85 por saca, o que induz a escolha pela soja, apesar de o milho também estar com cotação alta, de até R$ 42, em Paranaguá", conta Stefanelo.

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Para o analista de desenvolvimento técnico de mercado da Ocepar (Organização das Cooperativas do Estado do Paraná), Maiko Zanella, apenas o Brasil tem capacidade de absorver a demanda chinesa. "Da soja exportada no mundo, 48% vêm do Brasil e 36% vêm dos EUA, o que dá 84% do total", diz.

No entanto, Zanella considera que há pressão em relação ao milho. "Também vai valer a pena plantar milho, porque a safra 2017/18 deve ficar em 12 milhões de t, quebra de 33% em relação aos 18,2 milhões de 2016/17."

De acordo com o Deral (Departamento de Economia Rural) da Seab (Secretaria de Estado de Agricultura e Abastecimento), a estimativa para a próxima safra no Paraná sairá somente após o próximo dia 28. Questões como a greve dos caminhoneiros e o aumento dos custos de produção fizeram com que nem todos os agricultores tivessem em mãos os insumos, o que fez com que o trabalho de levantamento de dados em campo precisasse ser mais detalhado.