Uma pesquisa realizada pelo instituto Kantar em junho de 2020, ano do início da pandemia de Covid-19, mostrou que 76% dos consumidores brasileiros passaram a preferir comércios de bairro desde que o vírus chegou ao país. Dentre as principais razões levantadas pela pesquisa está a busca por evitar aglomerações ao dar preferência a empresas menores e mais próximas de casa.

Imagem ilustrativa da imagem Comércios de bairro veem demanda aumentar com a pandemia
| Foto: Gustavo Carneiro

Sergipe, Saul Elkind, Duque de Caxias, Inglaterra, Arthur Thomas, Maringá, Souza Naves, JK, Higienópolis, Madre Leônia, Ayrton Senna são algumas vias de Londrina que abrigam um comércio forte e que dão suporte aos moradores dos bairros no entorno. "A grande maioria dos bairros de Londrina tem uma avenida ou rua com comércio consolidado. Conforme vão surgindo novos bairros, o comércio vai, aos poucos, se instalando por perto", diz Márcia Manfrin, presidente da Acil (Associação Comercial e Industrial de Londrina).

Esses estabelecimentos contribuíram para que a economia local continuasse a girar e a gerar renda em meio a uma grande crise sanitária, observa Alessandra Almeida, consultora do Sebrae/PR.

Comércio e serviços sustentam 67% do PIB (Produto Interno Bruto) de Londrina, ressalta a presidente da Acil. E as micro e pequenas constituem a maioria absoluta dessas empresas. "Trabalhamos muito para proteger e apoiar esses empresários na pandemia, pois eles são os mais propensos a sofrer com fechamentos e restrições de horário."

Segundo a presidente da Acil, a pandemia fortaleceu quem mantinha uma relação próxima com os clientes e, nisso, o comércio de bairro foi beneficiado. "Essas lojas são prestigiadas porque conhecem os seus clientes e consolidaram uma confiança ao longo dos anos. Quando a pandemia chegou, as pessoas preferiram comprar com quem elas conhecem para se sentirem mais seguras. Mesmo durante o lockdown, muitos comércios de bairros atenderam pelo telefone ou WhatsApp, porque os clientes continuaram procurando essas empresas", explica Manfrin. "O comércio de bairro é muito importante, a Acil estimula o consumo em empresas locais para que o investimento gire dentro da cidade, gerando emprego e renda", ela continua.

Para a consultora do Sebrae/PR, os consumidores passaram a procurar o comércio local dos seus bairros por comodidade e segurança. "O consumidor passou a se preocupar muito com essa questão na pandemia e passou a evitar lugares que geram grande aglomeração. Isso fez com que eles buscassem opções perto das suas casas. Aspectos como não ter fila para enfrentar, o comércio local cumprir as medidas sanitárias estabelecidas devido à pandemia, preços acessíveis, ser perto da casa do consumidor e também ter poucas pessoas no local sem sombra de dúvidas foram os aspectos que mais impactaram na decisão de compra dos consumidores nos últimos meses", afirma Almeida.

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De fato, proprietários de comércios do segmento da alimentação observam que a busca por locais menos lotados e mais perto de casa acabou movimentando ainda mais os mercadinhos de bairro. É o que conta o casal Elisângela e Edson Carvalho, donos do Sacolão Cinturão Verde, no Jardim Santa Rita, na zona oeste de Londrina. “O Sacolão entrou como segmento essencial. Então, mesmo com as pessoas ficando mais em casa, continuaram consumindo normalmente, não teve nenhum prejuízo de paralisação de clientes”, afirmam.

O casal descreve que, conforme o vírus começou a se espalhar, muitos clientes tiveram medo de continuar frequentando a loja presencialmente. “Muitos, então, ao invés de comprar os produtos aqui, passaram a ligar para entregarmos em casa”, explicam. “Assim, acabamos não tendo muitos problemas com perda de clientes, porque o pessoal estando em casa acabou consumindo até mais produtos”, informam.

Eles contam que, principalmente no começo da pandemia e em períodos de lockdown, quando outras lojas precisaram ficar fechadas, eles tiveram até um aumento no número de fregueses. “Depois que outras lojas voltaram a abrir, as pessoas se espalharam um pouquinho mais. Mas não temos tido muito prejuízo não, tem mantido uma linha de clientes fiel”, ressaltam.

O dono do box Expressa Frutas, no Ceasa/PR (Centrais de Abastecimento do Paraná S/A) de Londrina, João da Silva, afirma que a venda de alimentos apresentaram crescimento. “Apesar da mudança de horário em que fica aberto o Ceasa, as vendas até cresceram no início da pandemia”, relata. “Esse ano teve uma pequena queda, mas já está quase normal de novo”, conta.(colaborou Mie Francine Chiba/Reportagem Local)

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Prejuízo atingiu alguns segmentos do comércio

O impacto da pandemia, porém, não foi o mesmo para todos os segmentos do comércio de bairro, principalmente no começo da disseminação da doença. É o que contam os proprietários da PlasticTop Embalagens e Festas, localizada no Conjunto Lindóia, na zona leste de Londrina, Emanuele Costa e o pai Antonio Alecsandro Costa. “A pandemia afetou de maneira negativa em todos os setores da loja, tanto na parte de embalagens quanto de festas e decoração”, relatam.

Os donos descrevem que os períodos em que a loja precisou ser fechada foram particularmente difíceis. “O faturamento mensal chegou a diminuir 60, 70%, nos meses em que foi decretado ‘lockdown’ e algumas limitações no horário de funcionamento”, explicam. “Apesar dos prejuízos, entendemos os motivos e a importância das medidas restritivas para diminuição na propagação do vírus”, ressaltam.

Por se tratar de uma empresa que vende artigos para festas e embalagens, eles relatam que, especialmente no início da pandemia, a procura pelos produtos sofreu uma queda. “O número de clientes não baixou, mas sim suas compras de maneira significativa em 2020”, informam. “Hoje, apesar de ainda apresentar instabilidade, o faturamento tem aumentado de maneira lenta quando comparado ao último ano.” Eles esperam que o avanço na vacinação traga uma retomada mais expressiva nos negócios da loja.

VACINAÇÃO

Independentemente do estabelecimento, os proprietários constataram que o avanço da vacinação é o que trará um alívio para os que foram mais afetados. “Acredito que conforme as pessoas forem sendo vacinadas, vão perdendo o medo e, automaticamente, vai voltar tudo ao normal”, avalia Edson Carvalho, dono do Sacolão Cinturão Verde. Já para Emanuele Costa, dona da loja de embalagens e artigos de festa, as vacinas representam não só uma retomada no ritmo de vendas, mas, também, uma recuperação dos prejuízos que tiveram. “Acreditamos que a vacinação em massa é a principal forma de controlar a pandemia”, afirma.(Débora Mantovani - Estagiária)

Gestão e marketing para manter cliente próximo

Mesmo após o fim da pandemia, os negócios de bairro deverão manter o seu protagonismo. "O consumidor hoje em dia procura esse contato pessoal, quase familiar. (O empresário local) É um empresário que está entrosado com a comunidade e ganha respeito por conta disso. Claro, é preciso estar atento à tecnologia e às inovações, mas acho que essa experiência de comprar olho no olho, com alguém que você confia, é tão importante quanto o comércio virtual. É preciso manter o atendimento personalizado nos dois ambientes", opina a presidente da Acil, Marcia Manfrin.

A proximidade dos consumidores com os pequenos negócios, na visão da consultora do Sebrae/PR, Alessandra Almeida, deve perdurar. "Então essa questão de tornar esse atendimento personalizado, de ter acompanhamento durante a venda, no pós-venda também, eu acredito que faz total diferença", acrescenta a consultora.

Com a vacinação voltando a aquecer os negócios, é essencial que o empresário mantenha o cliente próximo investindo na gestão de sua empresa, principalmente na área de marketing, orienta Almeida. "É essencial o pequeno negócio fazer o uso de ferramentas de marketing para estar sempre presente, junto do seu cliente."(Mie Francine Chiba/Reportagem Local)

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