As perspectivas para a economia brasileira em 2022 não são muito animadoras. Mesmo com a retomada gradual das atividades pós-pandemia a partir de 2021, o cenário econômico reúne uma série de fatores que apontam para uma realidade desafiadora em um futuro próximo. Nível de desemprego elevado com forte impacto na renda da população, juros altos e inflação em ascensão são elementos que contribuem para a redução no consumo e têm impacto nos investimentos. Para completar, a taxa do PIB (Produto Interno Bruto) nacional está abaixo da média global.

Diante de tantos indicativos de desaceleração econômica, empresas e indústrias são obrigadas a procurar alternativas para compensar a baixa demanda interna e a solução pode estar no comércio exterior. Países como os Estados Unidos, que ensaiam uma retomada da economia, estão abertos aos produtos estrangeiros. No ano passado, o Brasil comercializou um volume recorde de US$ 31 bilhões para os EUA, o segundo maior parceiro brasileiro nas exportações, atrás apenas da China.

Atualmente, o Paraná ocupa o sétimo lugar na lista dos estados brasileiros que mais exportam ao mercado norte-americano. Em 2021, o Estado vendeu US$ 1,5 bilhão aos EUA, mas esse ranking pode melhorar. Para isso, é essencial conhecer as expectativas do mercado, identificar as oportunidades, estar atento às exigências impostas pelos países importadores e se preparar para atendê-las. As chances de negócios abrangem todos os setores e todos os portes de empresa, das pequenas às grandes.

“Tivemos um recorde de importação de alimentos no ano passado. Nos mercados dos EUA, faltam produtos nas prateleiras. Temos vários polos de produção no Paraná, não só de alimentos, mas na indústria têxtil, madeireira, moveleira. O Brasil tem a possibilidade de comercializar produtos industrializados e o país busca aumentar essa presença na indústria de transformação, não só no fornecimento de commodities, mas trabalhar com produtos de maior valor agregado”, destacou Degoncir Gonçalves, londrinense radicado no estado americano da Flórida, CEO e fundador da DG4Business, empresa especializada em estratégias para negócios internacionais.

POTENCIAIS COMPRADORES

Abrir os olhos para o mercado externo pode representar um fio de esperança para o empresariado brasileiro em um período de tantas incertezas econômicas. Além dos EUA, Gonçalves cita os 22 países árabes, potenciais compradores de alimentos produzidos em abundância no Paraná. “Não é só a oportunidade, como um todo. Mas fazer de uma forma muito responsável, entrar no mercado de uma forma adequada, alinhar muito bem as expectativas para que a empresa esteja preparada para atender a demanda e o nível de compliance”, reforçou o consultor.

Os empresários que quiserem iniciar as negociações com o mercado externo devem se adequar às certificações e licenças exigidas e contornar as barreiras não tarifárias. “Tudo isso para que o empresário do Paraná, ao vir para cá, não se exponha e faça um processo de entrada no país de forma adequada e confortável, o que chamamos de soft landing (pouso suave, em tradução literal para o português).”

O processo de entrada em um novo mercado, especialmente estrangeiro, ressaltou Gonçalves, deve acontecer de forma gradual, sempre com foco na conquista da credibilidade, fundamental para garantir a longevidade das transações comerciais com os países estrangeiros. “Pode fazer um projeto piloto, começar com as pequenas oportunidades e vai aprendendo melhor o sistema de fornecimento externo”, orientou o consultor. “É possível fazer de uma forma que possa atender as demandas do mercado externo, sem atrapalhar nem fazer muitas adaptações em sua planta fabril.”

icon-aspas Empresários devem abrir a mente para novos horizontes comerciais

Participar de feiras, congressos e workshops, mesmo que de forma virtual, integrar missões empresarias e investir em viagens internacionais podem ser meios de abrir a mente dos empresários para novos horizontes comerciais. “Para quem está interessado, não faltam oportunidades e condições de se informar e conhecer as novas oportunidades.”

Na próxima terça-feira (15), Degoncir Gonçalves, que também é membro e responsável pela área de desenvolvimento de negócios da Central Florida Brazilian American Chamber of Commerce, estará em Londrina para a palestra “Estados Unidos em modo prático”. O evento, gratuito, acontece às 9 horas, na sede da Acil (Associação Comercial e Industrial de Londrina), na rua Minas Gerais, 297, 1º andar. A palestra é voltada a empresários dos mais variados segmentos e, para participar, basta preencher o formulário disponível no link https://bit.ly/3pzrteH.

Guerra demanda cautela

Do ponto de vista macroeconômico, qualquer possibilidade de venda de produto ou serviço no mercado internacional é bastante positiva para as economias brasileira e paranaense. No Estado, a indústria madeireira tem apresentado grande crescimento, impulsionada pelas vendas aos países estrangeiros. Mas a guerra entre Rússia e Ucrânia, neste momento, impõe cautela aos países fornecedores e compradores porque a instabilidade geopolítica pode impactar as exportações neste momento. A avaliação é do economista da Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná), Evânio Felippe. “Se houver a piora dos conflitos, vai impactar a economia mundial”, disse ele. “Os EUA fecharam (o acumulado de 12 meses até fevereiro) com a inflação mais alta em 40 anos (7,9%). A economia americana dificilmente vai sair ilesa.”

Na medida em que a guerra no Leste Europeu se prolonga, outros países irão aplicar sanções econômicas que contribuem para aumentar a instabilidade mundial e podem afetar as expectativas dos empresários. “O conflito tende a diminuir o apelo e os compradores e vendedores estão cautelosos”, afirmou Felippe. “O cenário é complexo porque não conseguimos mensurar, nesse momento, o desdobramento desse conflito.”

Uma das consequências das tensões entre Rússia e Ucrânia que já pode ser sentida no Brasil e em outros países do mundo é a alta dos combustíveis, que afeta toda a cadeia produtiva e impacta a economia como um todo. “Se olharmos o período da pandemia para cá, houve um crescimento muito grande da venda de madeira para os Estados Unidos. Isso é muito positivo e continua sendo. Para os EUA, os produtos derivados de madeira lideram o total de vendas até o ano passado. Agora, com a instabilidade, fica mais difícil. A gente tem que analisar que o preço para produzir qualquer mercadoria está caro”, destacou Felippe.

O economista lembrou ainda que o câmbio segue tendência de apreciação, o que estimula uma queda na venda de produtos e serviços no mercado internacional. “Mesmo que houvesse uma alta de custo na produção, a queda na taxa de câmbio poderia aumentar as vendas. Agora, com tendência de apreciação. Tudo neste momento está muito volátil.”

Atualmente o Paraná ocupa o sétimo lugar na lista de estados que mais exportam ao mercado norte-americano, mas é preciso estar atento a possibilidades de todos os setores
Atualmente o Paraná ocupa o sétimo lugar na lista de estados que mais exportam ao mercado norte-americano, mas é preciso estar atento a possibilidades de todos os setores | Foto: Sérgio Ranalli

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