RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - O comércio brasileiro manteve em agosto o vigor registrado nos três meses anteriores e fechou com alta de 3,4%, informou nesta quinta (8) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Após crescimento de 5% em julho, o volume de vendas do varejo atingiu o maior patamar da série histórica da pesquisa.

O indicador, que já havia retomado em julho as perdas da pandemia, vem se recuperando à medida em que são eliminadas as restrições à abertura de lojas no país. O auxílio emergencial de R$ 600, que em agosto estava em uma de suas parcelas finais, vem impulsionando as vendas no varejo. Mesmo assim, no acumulado do ano, o setor registra queda de 0,9%. Nos últimos 12 meses, a alta é de 0,5%.

Em abril, o comércio brasileiro havia despencado 16,8% diante dos impactos da pandemia da Covid-19 no país, no que foi o primeiro mês que começou e terminou com medidas de distanciamento social em todo o país. Depois, com a flexibilização, iniciou trajetória de alta e já está 2,6% acima do recorde anterior da pesquisa do IBGE, de outubro de 2014.

De acordo com o gerente da pesquisa Cristiano Santos, o comércio já está 8,9% acima do patamar de fevereiro, superando totalmente as perdas da pandemia.

“O varejo em abril teve o pior momento, com o indicador se situando 18,7% abaixo do nível de fevereiro, período pré-pandemia. Esses números foram sendo rebatidos nos meses seguintes", disse Cristiano Santos.

O maior crescimento foi do setor de tecidos, vestuários e calçados, com alta de 30,5%. Também mostraram índice positivo os segmentos de outros artigos de uso pessoal e doméstico (10,4%), móveis e eletrodomésticos (4,6%), equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (1,5%) e combustíveis e lubrificantes (1,3%).

De acordo com o IBGE, o crescimento nas vendas de móveis e eletrodomésticos pode ser consequência da renda extra do auxílio emergencial de R$ 600, que vem sendo utilizada pelas famílias para reposição de produtos antigos.

Porém, especialistas temem que o ritmo de retomada seja afetado com a redução pela metade do valor do auxílio emergencial pago pelo governo, que será de R$ 300 até o fim do ano.

Na comparação com agosto do ano passado, a alta no varejo foi de 6,1%, impulsionada principalmente pelas vendas de móveis e eletrodomésticos, que exerceram influência de 3,3 pontos percentuais no índice.

Por outro lado, o setor de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo recuou 2,2%, influenciado pela inflação nos alimentos. Ainda caíram os ramos de artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (-1,2%) e livros, jornais, revistas e papelaria (-24,7%).

Segundo o gerente da pesquisa, a queda nos mercados não foi tão sentida porque os produtos têm elasticidade alta.

"Um arroz mais caro é substituído por outro mais barato, mas o consumidor continua comprando. Os supermercados continuam próximos da margem, mesmo em queda, não sentem tanta diferença quanto em outras atividades”, disse Santos.

No varejo ampliado, a alta foi de 4,6%. O segmento de Veículos, motos, partes e peças cresceu 8,8% e Material de construção registrou aumento de 3,6%. Os dois setores vinham de resultado positivo em julho, com 12,3% e 5,9%, respectivamente.

Segundo o IBGE, o resultado bimestral é um recorde também no varejo ampliado. O crescimento foi de 11,3%, a mais elevada de toda a série histórica, superando os 6,9% de maio e junho. Em março e abril, auge do isolamento social, a queda foi de 10,3%.

O volume de vendas ainda foi positivo em 25 das 27 unidades da federação. Apenas Tocantins (-2,4%) e Rio Grande do Sul (-0,2%) registraram resultado negativo. No varejo ampliado, apenas Roraima (01,4%) teve queda.

Na semana passada, o IBGE divulgou em outra pesquisa que a maioria (72,8%) das empresas do comércio varejista declarou sentir dificuldades em obter acesso aos fornecedores de insumos, matérias primas ou mercadorias na segunda quinzena de agosto, mesmo após cinco meses de pandemia e com a flexibilização do distanciamento social.

O número caiu com relação aos 15 dias anteriores (78,5%), mas ainda segue o mais alto entre todos os segmentos de atuação no país. O comércio é o ramo de atividade que encontra mais dificuldades na obtenção de mercadorias. Em todo o setor, contando também atacado (53,6%) e veículos (42,2%), a percepção fica em 66,7% das empresas.

Apesar dos dados positivos, a retomada não tem sido igual em todos os setores. A indústria, por exemplo, apesar do quarto crescimento seguido em agosto, ainda continua abaixo do patamar pré-pandemia. Nos quatro meses de recuperação, o setor não compensou a perda de 27% entre março e abril, quando a pandemia atingiu o auge do isolamento social.

No pico da Covid-19, com tombos de 9,1% em março e 18,8% em abril, a produção industrial brasileira atingiu o pior patamar da história. O setor ainda continua 2,6% abaixo do nível de fevereiro, período pré-pandemia. No acumulado do ano, a indústria brasileira recuou 8,6%.

A pandemia também segue deteriorando o mercado de trabalho no Brasil. A taxa de desemprego atingiu o patamar inédito de 13,8% no trimestre encerrado em julho.

É recorde também o número de brasileiros que se declararam desalentados, ou seja, que desistiram de procurar emprego por acreditarem que não vão encontrar uma vaga: 5,8 milhões. Igualmente inédito é o número de trabalhadores que se consideram subutilizados –trabalham menos horas do que gostariam. Esse contingente reunia 32, 9 milhões de pessoas.

No total, em julho, eram 52 milhões atingidos pela crise no emprego causada pela Covid-19 e seus efeitos.

Assim, diante desse cenário, e com o iminente fim do auxílio, o país ainda terá desafios pela frente para manter um ritmo de recuperação do setor econômico. No segundo trimestre, período mais crítico da pandemia, o PIB (Produto Interno Bruto) do país despencou 9,7%.