Comércio adere em massa ao cartão
PUBLICAÇÃO
sábado, 22 de fevereiro de 1997
Bete Fagundes
Warren NabucoO comércio de Londrina está aderindo em massa ao cartão de crédito, especialmente porque no cenário da estabilidade econômica o comerciante se sente seguro para abraçar o sistema. Automaticamente, ele incentiva o uso do dinheiro de plástico junto a clientela. No Banco do Brasil, o número de estabelecimentos credenciados na cidade subiu 36% de abril de 95 a setembro de 96.
Esse movimento em alta é nacional. Hoje, a indústria do cartão trabalha com uma estimativa para 1997 de R$ 34 bilhões em transações e 20 milhões de cartões. A taxa de crescimento é algo entre 30% e 40% no País, informa Juarez de Souza Santana, gestor de cartão de crédito do Bamerindus, banco que trabalhou o ano passado com 520 mil cartões em trânsito e que pretende dobrar este volume em 97 com um programa especial, o bônus vivo.
Profissionais que atuam na área, como Santana, dizem que um dos fatores determinantes para a valorização do dinheiro de plástico foi a mudança das regras da economia desde a instalação do Plano Real. Em tempo de inflação suicida, ninguém do comércio suportava esperar em média 27 dias para receber o volume comercializado em cartão, como acontece agora. Um índice de inflação civilizado, portanto, influencia tanto o comerciante quanto o consumidor na hora de comprar um serviço desse.
Um segundo fator é o surgimento de uma classe emergente no mercado consumidor, ou seja, quem comprava comida, hoje compra comida, geladeira, fogão, aparelho de tevê. Essas pessoas também vêem o cartão como uma boa alternativa para pagamento, de fácil utilização e seguro. O item segurança, aliás, é o que mais atrai o comércio. O banco cobre todo e qualquer prejuízo com clientes inadimplentes, por exemplo.
Lineu Carlos Rocchi, do Banco do Brasil, fala que a adesão é generalizada. Vai muito além dos estabelecimentos tradicionais em matéria de cartão - hotéis, restaurantes, butiques e transporte aéreo. Quase todas as farmácias se credenciaram, como também postos de combustíveis, concessionárias de veículos e supermercados. A Santa Casa de Londrina já trabalha com cartão. A Viação Garcia, idem.
Para enfrentar esse mercado altamente competitivo, que exige qualidade nos serviços, o Bamerindus tirou do bolso do colete um programa de recompensa. O cliente vai acumulando pontos no uso do cartão e tem prêmios a escolher: ou um desconto na anuidade, ou mercadorias, ou dinheiro vivo. É o que o banco chama de bônus vivo.
O clima é tão propício para a venda de cartões que o BB já tem o Class-Card para quem ganha até dez salários mínimos. O assalariado é o grande filão, afirma Rocchi, dizendo ainda que o lançamento representa a volta do cartão doméstico. Um tempo atrás o banco só tinha o internacional Ouro-Card, que sempre custou mais e fazia as vezes do outro no mercado interno. O Ouro-Card sai por R$ 105,00 em três prestações, enquanto o cartão doméstico não passa de R$ 42,00, parcelados, também.
A Caixa Econômica Federal atesta a popularidade dos cartões. Hoje a instituição tem 1,2 milhão de cartões no País e 8 mil em Londrina. Vende cerca de 50 cartões por mês, segundo a assessoria local. As anuidades variam muito no mercado. Os juros também. A CEF cobra taxa de 10,5% ao mês. E para que o serviço seja ainda mais seguro estão instalando em estabelecimentos comerciais credenciados maquinetas que acusam na hora qualquer restrição ao uso do cartão, como inadimplência ou roubo.
Mês fortePesquisa da CardSystem Upsi aponta para um volume de transações com cartões, em janeiro, de aproximadamente US$ 2,6 bilhões. Cerca de 10% inferior ao registrado em dezembro. Apesar dessa pequena queda, foi um mês forte: marcou um crescimento de 20% para o setor se comparado com janeiro de 96. A empresa é a maior administradora do País de cartões de crédito e meios de pagamentos eletrônicos para terceiros.
Para o presidente da CardSystem, Marcos Ribeiro Leite, trata-se de um desempenho normal. A queda registrada em janeiro não costuma ser muito acentuada, pois boa parte das transações efetuadas no final de dezembro é processada só em janeiro. Além disso - comenta - os cartões de crédito se beneficiaram de uma conjuntura favorável do comércio varejista e do setor turístico, que apresentaram um excelente desempenho durante o mês.