Comerciantes contestam números da Acil em ano 'suado'
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terça-feira, 20 de dezembro de 2011
Douglas Lopes/ Redação FolhaWeb
"Abaixo do esperado". A resposta dada pelos comerciantes ouvidos pela FOLHA quando questionados a respeito das vendas foi unânime. Para eles, 2011 deixou a desejar e para muitos, o ano só começou a "engrenar" no segundo semestre.
Mesmo assim, de acordo com a Associação Comercial e Industrial de Londrina (Acil), as projeções para 2011 são de que as vendas fechem com um aumento entre 7% e 10% em relação ao ano passado. Isso levando em conta que 2010 foi um ano de "crescimento extraordinário nas vendas e quase impossível de ser superado", de acordo com o presidente da Acil, Nivaldo Benvenho.
Apesar das expectativas da Associação serem as melhores, Benvenho reconhece que a crise que se alastrou no cenário econômico mundial atingiu, sim, Londrina em 2011. "Mas o cenário londrinense é diferente dos de outras cidades do mesmo porte porque o primeiro setor a ser afetado pela crise foi o da indústria e como temos os setores de serviços e comércio fortes, estes conseguiram amortecer o impacto negativo do primeiro. Quando a crise atingiu os serviços e o comércio, a indústria já estava se recuperando. Um tripé que não deixa a economia cair", avalia Benvenho.
Para Cleiton Gouveia, proprietário de uma rede de óticas em Londrina, 2011 foi um "ano suado". "Foram muitas mudanças na região central", diz ele, citando a reforma no Calçadão e a ampliação da Rua Sergipe que, para o empresário, apesar de positivas, também causaram transtornos para os lojistas.
"O ano foi razoavelmente bom. As vendas só começaram a reagir no segundo semestre. Esperava um pouco mais desse ano, mas não deu", afirma Wilson Lopes, que administra uma confecção na Avenida Rio de Janeiro. "O ano de 2011 ficou abaixo das expectativas, mas melhorou em novembro e dezembro", ameniza Josiê Cristina Babujia, que gerencia duas lojas, uma na Rua Sergipe e outra no Royal Plaza Shopping.
Segundo Josiê, as vendas no shopping foram um "pouco melhores". Para ela, este modelo de centro de compras é mais atraente do que as lojas de rua. Além disso, a Região Central não dispõe de vagas de estacionamento suficientes para a quantidade de clientes e nem sanitários.
Falta de infraestrutura que incomoda lojistas como Simone Trindade, proprietária de uma loja de roupas. "Tinha uma loja na Rua Professor João Cândido onde hoje não é mais possível estacionar por causa da faixa exclusiva. Naquela época, os clientes estacionavam ali para comprar alguma peça que viam na vitrine. Só o fato de não ter mais essas vagas, sentimos uma queda nas vendas", conta a empresária, que se mudou para a Avenida Rio de Janeiro, onde ainda é possível estacionar na Zona Azul.
Para o presidente da Acil, a falta de vagas para veículos não é um problema do setor público, mas sim de ordem privada. De acordo com Nivaldo Benvenho, os empresários ainda "não descobriram" o potencial desse mercado no Centro de Londrina. "É possível construir estacionamentos subterrâneos ou em prédios, mas isso quase não se vê ainda em Londrina", explica.
Quanto à falta de banheiros públicos, ele afirmou que existem projetos futuros para a construção, mas não soube detalhar onde e quando seriam construídos. Uma solução, segundo Benvenho, seria a instalação dos sanitários onde atualmente funciona a Galeria Cine Augustus, no Calçadão.
Horário flexível
Benvenho acredita que falta flexibilidade no horário de funcionamento do comércio. "Cada tipo de estabelecimento tem uma necessidade e isso precisa ser levado em conta. Mas isso não é possível porque sindicatos como o dos comerciários não contribuem para que isso aconteça", afirma o presidente da Acil, em alusão ao episódio em que foi votado o Código de Posturas do Município, quando ficaram estabelecidos os horários de abertura e fechamento do comércio.
Para o diretor do Sindicato dos Comerciários de Londrina, José Lima do Nascimento, a flexibilização do horário comercial existe, mas nos moldes que beneficia mais o trabalhador do que o proprietário do estabelecimento, por isso da reclamação da Acil. "Hoje o estabelecimento pode funcionar além do horário comercial desde que exista um acordo prévio entre o funcionário e a empresa, de modo que ele possa ser beneficiado seja com bônus ou hora extra", argumenta. "Existem diversas lojas que trabalham até às 19h durante a semana e até as 18h aos sábados", completa Nascimento.
A empolgação com que a associação e o sindicato defendem o horário estendido não parece condizer com o que pensa parte dos comerciantes da cidade, em especial os microempresários. Para Wilson Lopes, proprietário de uma confecção na Área Central há 29 anos, o comércio em horário estendido "não funciona". Thiago Martinez, dono de uma loja de bolsas na Rua Sergipe, afirma que quando as lojas funcionam até às 21h ou 22h devido à alguma data especial, o movimento na loja vai até "umas oito da noite, no máximo".
Agora no Natal, a expectativa não é das piores. Os lojistas consultados pela reportagem estão animados com o mês de dezembro, mas a animação, no entanto, costuma ter hora para acabar: "Depois das 18h você ainda consegue ver uma movimentação grande de pessoas nas ruas, mas dizer que por causa disso estamos vendendo bem, é uma falsa ideia. Você vê muita gente, mas as mãos das pessoas estão vazias, sem sacolas. Muitas vem à passeio", conclui a lojista Simone Trindade.