Todo começo de ano a garotada fica ansiosa para comprar materiais novos e dar início a mais um ano letivo. Mesmo com as férias escolares ainda no início, os cadernos, bolsas e lápis já tomam conta das prateleiras e vitrines das lojas especializadas em material escolar. Apesar do movimento ainda fraco, os lojistas apostam em boas vendas para 2024 e, por isso, vêm inovando no formato de vender.

Entre tantas opções de canetas coloridas, cadernos de personagens ou super heróis famosos das telinhas e bolsas de todos os formatos e tamanhos, as papelarias podem ser o paraíso para muitas crianças - e adultos. Por conta disso, a cirurgiã-dentista Camila Souza, que foi comprar mochilas para as duas filhas, de 4 e 8 anos, em uma loja no Calçadão de Londrina conta que prefere não trazer as filhas para esse momento pelo fato de que é mais fácil escolher qual mochila levar para casa quando está sozinha.

A cirurgiã-dentista Camila Souza conta que prefere deixar as filhas em casa na hora das compras: “é mais fácil”
A cirurgiã-dentista Camila Souza conta que prefere deixar as filhas em casa na hora das compras: “é mais fácil” | Foto: Jéssica Sabbadini

Segundo ela, as meninas costumam ficar em dúvida sobre quais bolsas elas querem: “então é mais fácil a mãe escolher”. A mais jovem está no Infantil 4 e a mais velha no 3° ano do ensino fundamental.

Ela afirma que prefere sempre comprar os materiais já no início do ano do que deixar para a última hora, já que as papelarias costumam lotar. Em relação aos preços, Souza relata que tem para todos os bolsos, do mais caro ao mais barato. “Aí vai da qualidade que você quer comprar”, ressalta, acrescentando que é possível comprar bolsas boas por um preço bom também.

Moradora de Cambé, a cirurgiã-dentista afirma que, neste ano, está em busca apenas de mochilas para as filhas, já que elas estudam na rede municipal e a Prefeitura de Cambé vai passar a fornecer os materiais para os alunos. Segundo ela, a bolsa não faz parte do kit para 2024 e só deve ser entregue no ano que vem. “É ótimo porque assim a gente consegue investir em outras coisas para as crianças”, afirma, complementando que no ano passado desembolsou cerca de R$ 500 com materiais escolares para as filhas.

Gerente de uma loja que vende material escolar no Calçadão de Londrina, Amélia Torres, 23, afirmou que o movimento de pais e alunos ainda está bem fraco, mas acredita que seja por conta do início do ano, já que muitas pessoas ainda estão viajando. Segundo ela, na loja, eles esperam que o movimento seja mais intenso no final de janeiro e início de fevereiro. A respeito do perfil do consumidor, ela garante que a maioria dos pais deixa o filho em casa na hora de comprar o material, já que é uma forma de seguir o orçamento e evitar gastos extras.

Se comparado ao mesmo período do ano passado, ela garante que o movimento está mais fraco neste ano, mas não sabe apontar algum motivo que possa ter ocasionado essa redução. Assim como Cambé, Londrina também está ofertando um kit de materiais escolares para todos os alunos da rede municipal, incluindo as mochilas. “Eu acho que isso vai impactar nas vendas”, afirma a gerente, complementando que os produtos escolares que mais saem são os cadernos, lápis, canetas e mochilas.

Com diversos outros produtos à disposição, as vendas com materiais escolares, segundo Torres, representam pelo menos 80% do faturamento da loja no início do ano. Ela aponta que as expectativas são de boas vendas, mas que o cenário ainda é incerto: “a gente torce para que venda bem”.

Andando pelo Calçadão com três sacolas repletas de materiais escolares, uma mãe, que preferiu não se identificar, de dois meninos, de 7 e 12 anos, conta que gastou cerca de R$ 650 com os materiais dos filhos, que estudam em uma escola particular. Ela afirma que, se comparado ao ano passado, os preços estão mais ‘salgados’: “tudo está subindo [de preço], então não tem muito o que fazer”.

Assim como muitas outras famílias, ela conta que preferiu deixar os filhos em casa, já que assim é possível segurar um pouco mais os gastos, que, segundo ela, são pesados nesse início de ano. “Aí eles veem caderno com a capa de algo que eles gostam e já querem levar, então eu evito”, afirma, acrescentando que, apesar disso, sempre compra os materiais baseado nos gostos dos filhos.

Dona de uma papelaria no centro, Kátia Santos diz que o movimento está razoável, mas um pouco abaixo que os anos anteriores
Dona de uma papelaria no centro, Kátia Santos diz que o movimento está razoável, mas um pouco abaixo que os anos anteriores | Foto: Jéssica Sabbadini

Dona de uma papelaria na Rua Pará, Kátia Santos, 55, afirma que, na loja, o ano foi atípico, já que eles começaram a vender os materiais no mês de setembro, com um pico de vendas entre novembro e dezembro. Janeiro, que também é um mês bom para o setor, começou com um movimento razoável, segundo ela, mas que não está um “fervo” como em outros anos.

Ela afirma que muitas pessoas optam por comprar mais cedo os materiais pelo fato de o preço ser mais em conta, assim como pela disponibilidade de produtos e marcas, que vão acabando conforme o início do ano letivo se aproxima.

A respeito do anúncio do fornecimento de materiais escolares pelo município, Santos avalia que a decisão não deve impactar com força as vendas e o faturamento da loja porque o público que eles mais atendem é de escolas particulares. “Não vou dizer que não afeta, mas nem tanto quanto outras papelarias que trabalham justamente com esse público [das escolas municipais]”, opina.

Uma mudança que ela vem percebendo nos últimos anos, principalmente após o início da pandemia, é o de pais que mandam as listas de materiais por WhatsApp. Segundo ela, eles já deixam todos os materiais separados e os pais só fazem a troca de algum produto, facilitando para ambos os lados. Apesar de facilitar a logística, ela garante que o formato tem seus contras, como o fato de os pais ficarem mais focados em comprar só o que as listas pedem. “Hoje, se você for ver em nível de papelaria o que tem de lançamento e de coisa diferente, é muita novidade. Então os pais que acabam fazendo esse tipo de coisa [compras à distância] não tem a oportunidade [de ver]”, finaliza.

O que pode e o que não pode aparecer na lista

Thiago Mota Romero, diretor-executivo do Procon-LD (Núcleo de Proteção e Defesa do Consumidor em Londrina), detalhou à Folha o que as escolas podem ou não pedir nas listas de materiais, assim como trouxe algumas dicas de como economizar e não comprometer a renda familiar logo no início do ano.

Em relação às listas de materiais, ele afirma que as escolas só podem solicitar materiais de uso individual dos alunos, como cadernos, lápis e canetas. Já materiais de uso coletivo ou de higiene, como balões, copos, talheres, grampeadores, giz, material de limpeza ou fita dupla face, não podem aparecer nas listas. Além disso, também não é permitido que os colégios exijam uma marca ou estabelecimento específico para que os materiais sejam adquiridos.

Sobre a reposição dos materiais ao longo do ano, ele explica que as listas fornecidas pelas instituições contam com a relação de todos os materiais que o aluno vai utilizar ao longo do ano letivo. “Portanto, em regra, não há necessidade de complementação”, afirma.

Como economizar é algo que muita gente gosta, Romero ressaltou que deixar os filhos em casa pode ser mais econômico e cômodo, mas que levá-los às compras também pode ser uma oportunidade para falar sobre responsabilidade financeira. “É importante mostrar os preços e fazer a criança ter consciência de que o material que ela quer é muito caro e pode ser substituído por outro mais barato e da mesma qualidade”, orienta.

Pensando em garantir os melhores preços, o diretor destaca que a sugestão do PROCON-LD é que o consumidor faça uma pesquisa em vários estabelecimentos e lojas. “É possível solicitar o orçamento completo nestes locais para facilitar a comparação dos valores”, sugere. Outra forma de economizar, segundo ele, é optar pela compra em atacado, em que grupos de pais e responsáveis se unem para comprarem juntos materiais em maior quantidade: “isso reflete em um preço mais baixo para todos”.

Sobre os uniformes escolares, Thiago Mota Romero pontua que o estabelecimento de ensino só pode exigir que a compra do uniforme seja feita na própria unidade ou em locais pré-determinados - caso possua marca registrada do produto. “Além disso, a Lei Federal N° 8.907/94 estabelece que a escola deve adotar critérios para a escolha do uniforme levando em conta a situação econômica do estudante e de sua família, bem como as condições do clima da cidade em que a escola funciona”, detalha, complementando que o modelo do uniforme não pode ser alterado antes de transcorridos cinco anos desde a sua adoção.

Para denúncias, dúvidas ou reclamações sobre descumprimento da legislação, o consumidor pode entrar em contato com o Procon de Londrina, que fica na Rua Piauí, nº 1.117, no centro da cidade. Além da forma presencial, as denúncias também podem ser feitas pelo e-mail [email protected] e pelos telefones 3372-4823, 3372-4824 e 3372-4825. O órgão funciona de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h.