O retorno das restrições às atividades econômicas em sete Regionais de Saúde do Estado - Cornélio Procópio, Cianorte, Londrina, Toledo, Cascavel, Foz do Iguaçu e Curitiba - por 14 dias (prorrogáveis por mais sete) deverá intensificar a retração da economia já prevista com a paralisação ocorrida anteriormente e dificultar mais a retomada da economia. Em Londrina, as atividades não essenciais ficaram fechadas por mais de um mês, do dia 23 de março a 3 de maio.

Imagem ilustrativa da imagem Com novo fechamento, queda no PIB pode chegar a 7% em Londrina
| Foto: Roberto Custódio/15-1-2020

O economista Umberto Antônio Sesso Filho, professor do Departamento de Economia da UEL (Universidade Estadual de Londrina), calcula que com o prolongamento do rigor sobre as medidas de isolamento social, a queda do PIB (Produto Interno Bruto), antes prevista para 4,5% na cidade, pode chegar a 6,5% ou 7%, e a mais de 10% até o final do ano. “Se começar esse abre e fecha, mesmo que abra, não vai abrir na mesma situação.”

A paralisação das atividades também reflete no fechamento de empresas e no desemprego. Em conjunto com outros pesquisadores, Sesso Filho realizou um estudo que estimou que, para o período de um mês, 7,8 mil micro e pequenas empresas e apenas 124 médias e grandes fechariam as portas devido à paralisação das atividades. Agora, o professor prevê que as empresas de maior porte poderão ser afetadas em maior número.

Para esse mesmo período, a previsão era que 6 mil trabalhadores ficassem desempregados em Londrina, Com a extensão do tempo de paralisação das atividades econômicas, esse número também deverá aumentar.

Mesmo supermercados, que estavam sendo menos afetados pela pandemia, agora poderão sofrer mais intensamente os efeitos do coronavírus na economia. Se no início da pandemia esses estabelecimentos chegaram até mesmo a contratar porque houve uma corrida dos consumidores aos supermercados, agora a ida às compras será menos intensa devido ao medo do desemprego. “Em vez de correr para os supermercados, as pessoas estão com medo. O emprego diminuiu, a renda e o consumo caíram”, explica Sesso Filho.

O consumo de bens duráveis, como automóveis e eletrônicos, será duramente afetado. E até o agronegócio, que vai bem, não será suficiente para impedir a queda da produção e da renda, diz o professor. “Alguns municípios estão em uma situação melhor porque estão ligados ao agronegócio. No Porto de Paranaguá aumentou a circulação de mercadorias, inclusive de exportação. A China está comprando bastante, mas ainda assim. O agronegócio vai ajudar, mas não vai impedir uma queda de produção e renda.”

Paraná

No Paraná, a estimativa é que a paralisação das atividades não essenciais por três meses traga uma queda de 6,5% no PIB, segundo estimativa do Nedur (Núcleo de Estudos em desenvolvimento Urbano e Regional), da UFPR (Universidade Federal do Paraná). Em um cenário de seis meses, a queda aumentaria para 14%. Considerando as medidas governamentais para mitigar os efeitos da pandemia na economia, no entanto, a queda é reduzida para cerca de 11%.

Para Alexandre Porsse, um dos pesquisadores do Núcleo, a cada duas semanas de paralisação, a queda do PIB no Estado pode ser estimada em cerca de 0,6%. Como a paralisação atinge apenas algumas regiões do Estado, esse índice deverá ser menor, observa o pesquisador. O impacto também deve considerar a participação das regiões afetadas no PIB do Paraná. “Mas ainda assim a paralisação deve ter um efeito relevante.”

Adaptação

Por outro lado, o pesquisador também estima que o impacto das restrições às atividades econômicas deve ter impacto menor, nesse segundo momento, que no início da pandemia, quando as empresas foram pegas de surpresa.

“As atividades vão se adaptando à medida que tem essas restrições mais intensas. Do início da pandemia para cá bares e restaurantes já ampliaram sua prestação de serviço com tele entregas. Uma vez que houve uma certa adaptação, os efeitos tendem a ser pouco mais mitigados que no início da pandemia. Acredito que os setores estão um pouco mais preparados para lidar com um cenário mais restritivo. Mas se isso prolonga muito, aí os impactos tendem a ser mais significativos”, alerta Porsse.

Incentivos

Em termos de auxílio econômico nesse período de pandemia, o governo falhou com as micro e pequenas empresas, opina Sesso Filho, da UEL. “O governo está fazendo algum esforço, a ajuda emergencial está chegando, mas por outro lado o microcrédito não conseguiu chegar às pequenas e micro empresas.”

De qualquer maneira, as medidas de incentivo à economia implantadas pelo governo são vistas como essenciais pelo pesquisador da UFPR. Por isso, ele defende a manutenção delas enquanto durar a pandemia.

Abre e fecha

Ambos os pesquisadores defendem que o isolamento tivesse sido realizado de forma mais intensa no início da pandemia. “Se tivesse feito o isolamento mais intenso, concentrado no começo do processo, talvez o controle tivesse sido mais efetivo e a gente não teria que entrar nesses períodos de lockdown ou aumento da restrição do isolamento. Mas como não foi o que aconteceu, tem essas novas ondas de efeitos que vão surgindo à medida que o cenário de transmissão e de leitos de UTI ficam mais críticos”, pondera Porsse.

Para Sesso Filho, da UEL, o isolamento intermitente gera medo nas pessoas. “Pela experiência dos outros países, o melhor é fechar. Chegou o vírus, contaminou, fecha tudo por um tempo e aí volta. O Brasil não fez isso. O abre e fecha cria medo nas pessoas”, critica Sesso Filho.