Com conflitos no Oriente Médio, dólar e Bolsa fecham em alta
O movimento de valorização da moeda americana foi global. Já a Bolsa foi impulsionada pela disparada dos papéis da Petrobras
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terça-feira, 01 de outubro de 2024
O movimento de valorização da moeda americana foi global. Já a Bolsa foi impulsionada pela disparada dos papéis da Petrobras
Folhapress
São Paulo - O dólar fechou em alta de 0,27% nesta terça-feira (1º), a R$ 5,462, com investidores repercutindo a escalada de conflitos no Oriente Médio.
, impulsionado pela procura por ativos seguros e pelo aumento da aversão ao risco, em meio, também, a projeções de cortes menores nos juros dos Estados Unidos.
Já a Bolsa avançou 0,51%, a 132.495 pontos, amparada pela disparada dos papéis da Petrobras.
A escalada de tensões no Oriente Médio se tornou o foco da sessão desta terça-feira. Por volta das 14h (horário de Brasília), o Irã disparou mísseis contra Israel em resposta à ofensiva de Tel Aviv contra a Faixa de Gaza e o Líbano.
O presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, disse que ação é "apenas parte de nossa capacidade", instando Israel a "não entrar em confronto com o Irã". Mas Tel Aviv já prometeu uma resposta.
"Estamos em alerta máximo na defesa e na ofensiva, protegeremos os cidadãos de Israel. Este ataque terá consequências. Temos planos e agiremos no tempo e no lugar que escolhermos", afirmou o porta-voz militar Daniel Hagari.
Foram empregados de 180 a 200 mísseis, e a grande maioria foi abatida.
Temores de uma guerra generalizada na região afetaram os preços do petróleo, que pode ter a oferta reduzida a depender do desenrolar do conflito.
Clay Seigle, um estrategista de risco político independente, disse que Israel "não hesitará em ampliar sua ofensiva militar para atingir o Irã diretamente, e os ativos de petróleo do Irã estão muito provavelmente na lista de alvos".
Um ataque israelense às instalações de produção ou exportação de petróleo iraniano poderia causar uma interrupção material, potencialmente mais de um milhão de barris por dia, disse Seigle.
O barril do tipo Brent, referência de cotações no exterior, disparou 5% quando o ataque foi confirmado, mas desacelerou para 3% no final da tarde, a US$ 74. Na esteira, a Petrobras teve ganhos de quase 3% na Bolsa brasileira, e, na máxima do dia, chegou a bater alta de 4%.
"Quando surgem episódios bélicos, os investidores acabam procurando mercados mais protegidos, mais seguros. Aí a tendência é que haja fuga para o mercado norte-americano", disse Thiago Avallone, especialista em câmbio da Manchester Investimentos.
O ataque iraniano ofuscou parte da expectativa por relatórios do mercado de trabalho dos EUA.
Nesta terça, foi publicado o relatório Jolts (pesquisa de vagas de emprego e rotatividade de trabalho, em inglês) de agosto. As vagas em aberto subiram em 329.000, atingindo 8,04 milhões. A expectativa era por 7,66 milhões, em sinal de recuperação do mercado de trabalho.
Amanhã, o ADP trará o número de vagas criadas no setor privado no mês passado. A grande divulgação da semana, porém, acontece na sexta-feira, quando será publicado o "payroll" (folha de pagamento, em tradução literal), o indicador mais amplo de desemprego do país.
A atenção dos operadores ao mercado de trabalho americano acompanha a mudança de foco do Fed, que baliza as decisões de política monetária a partir dos dados de emprego e de inflação -dinâmica chamada de "mandato duplo" no jargão econômico.
Nos últimos meses, os indicadores inflacionários têm mostrado uma convergência gradual à meta de 2%, ao passo que os números de emprego têm desacelerado a cada nova leitura.
Na última decisão de política monetária, no dia 18 de setembro, a autoridade americana fez o primeiro corte nos juros em mais de quatro anos sob a justificativa de desaceleração do mercado de trabalho. A taxa foi reduzida em 0,50 ponto percentual e agora está na faixa de 4,75% e 5%.
A dúvida dos investidores é sobre o ritmo dos próximos cortes. Em discurso na segunda-feira, Jerome Powell, presidente do Fed, disse prever mais duas reduções na taxa de juros, de 0,25 ponto cada, "se a economia tiver o desempenho esperado".
Já no Brasil, os olhos também estão voltados para a política monetária. O presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto, afirmou que o país precisará de algum programa que gere a percepção de um choque fiscal positivo se quiser conviver com juros mais baixos.
"Quando a gente vê que o mercado começa a ter questionamentos sobre a trajetória da dívida fica muito mais difícil conviver com juros baixos, a curva de juros longa sobe rapidamente", disse em evento promovido pela gestora Crescera Capital, em São Paulo.
Os comentários seguem um momento de preocupações renovadas dos investidores com o compromisso do governo em equilibrar as contas públicas.
O governo vem sendo alvo de críticas pelo uso de soluções criativas para ampliar a contabilização de receitas fiscais ou implementar programas que não gerem pressão no Orçamento, diante das limitações impostas pelas regras fiscais.
Na prática, uma política de gastos expansionista costuma aquecer a atividade econômica, o que, no médio e longo prazo, tende a se traduzir em mais inflação.
O BC trabalha com uma meta de inflação em 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Isso significa que o objetivo é considerado cumprido se oscilar entre 1,5% (piso) e 4,5% (teto). A taxa Selic é o principal instrumento da autarquia para controlar a subida de preços.
Na semana passada, o IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15), uma espécie de prévia do indicador oficial do país, mostrou alta de 0,13% do custo de vida em setembro, ante expectativa de 0,28% de analistas.
Com o resultado, o índice desacelerou a 4,12% no acumulado de 12 meses. O patamar era de 4,35% na divulgação anterior. Os dirigentes do BC, porém, têm reiterado que o comitê irá buscar o centro da meta, e não as bandas de tolerância.
A perspectiva de aperto na Selic costuma favorecer o real, ainda que penalize o mercado acionário. Isso porque o aumento do diferencial de juros entre Brasil e Estado Unidos atrai investidores da modalidade "carry trade", isto é, quando tomam empréstimos a taxas baixas e aplicam esses recursos em moedas de países de taxas baixas.