Na tarde desta quinta-feira (23), o Coesp (Centro de Operações de Emergências em Saúde Pública) vai definir se as feiras livres de Londrina podem ou não retornar às atividades. O impasse surgiu após os feirantes indicarem que não há determinação específica para as feiras livres no decreto municipal. Ainda assim, eles acompanharam a suspensão do comércio, ficando 30 dias paralisados, com retorno nesta semana. A intenção é que essa reunião defina e regularize a situação dos feirantes.

Imagem ilustrativa da imagem Coesp decide futuro das feiras livres de Londrina nesta quinta-feira
| Foto: Lais Taine - Grupo Folha

Silvio Costa, presidente da Associação dos Feirantes de Londrina, apontou que a categoria foi orientada pela CMTU (Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização) sobre a suspensão das atividades no mês de março. “O decreto não preconizou, em momento algum, as feiras livres, mas na reunião com a CMTU fomos avisados de que não poderíamos continuar a partir do dia 22 de março”, explica.

Obedecendo a indicação, as atividades foram suspensas pelo mesmo período do comércio. “Nós fechamos junto com o comércio, nesse novo decreto de reabertura, não se falou novamente sobre as feiras livres, o que a gente entendeu? Se fechamos junto com o comércio, voltamos junto com o comércio”, afirma. No entanto, Costa indica que eles foram avisados de que o Coesp não havia autorizado o retorno das feiras livres.

O presidente da CMTU, Marcelo Cortez, explica que o Coesp deliberou pela não abertura das feiras livres de Londrina e que a companhia, com o Município, tem proposto alternativas para que haja possibilidade do retorno dessa atividade. “Nessa reunião com o Coesp, a CMTU vai apresentar soluções para possível encaminhamento e possibilidade para que nossos feirantes e comerciantes possam voltar às suas atividades regulares”, afirma.

FEIRA DA LUA

Segundo Costa, na noite anterior (22), houve abordagem dos agentes da CMTU para que os feirantes recolhessem as barracas da feira da lua, que é realizada todas as quartas-feiras, próxima ao Ginásio Moringão. “Eu estive lá com o advogado, nós pedimos para que o agente municipal apresentasse o documento que embasasse o pedido”, aponta.

O presidente da associação argumenta que a feira livre é atividade essencial, indicando o Decreto 10.282/20, que regulamenta a lei federal 13.979, de 6 de fevereiro de 2020. Com base nessa lei, o próprio Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento emitiu documento com as recomendações para a comercialização de produtos alimentícios em feiras livres, sacolões e varejistas.

Diante dessa questão, nenhum feirante precisou recolher seus produtos.

FEIRANTES

O presidente da associação pede bom senso por parte dos membros do Coesp. Ele afirma que Londrina conta com aproximadamente 300 feirantes que dependem do serviço. “Desses, uns 30% precisam voltar imediatamente, porque a paralisação começou a pesar no bolso, e uns 20% estão sofrendo mais, eles não voltaram porque não têm nem dinheiro para ir à Ceasa (Central de Abastecimento) fazer a compra dos produtos”, aponta.

No início da paralisação, os feirantes tinham protocolado um plano de retomada das atividades, o que estão colocando em prática agora, como uso de máscaras, luvas, álcool em gel, distanciamento entre bancas e determinação para que feirantes do grupo de risco não voltem ao trabalho. As barracas de alimentação também só funcionam com entrega.

Silvio Costa vai defender o retorno das atividades dos feirantes na reunião com o Coesp
Silvio Costa vai defender o retorno das atividades dos feirantes na reunião com o Coesp | Foto: Laís Taine - Grupo Folha

Mesmo com as orientações, Costa pede conscientização de toda população. “Contamos com a colaboração de todos para que não haja aglomeração e a gente possa voltar a trabalhar”, afirma. O representante vai participar da reunião para defender o retorno das feiras em Londrina.

‘A gente compra mercadoria e não sabe se pode trabalhar’

Mario César Ramos, 50, é feirante há 30 anos e retomou as atividades com os colegas na segunda-feira (20). Na manhã de quinta-feira (23), ele vendia seus produtos de hortifruti na feira localizada próxima ao Cemitério São Pedro, no Centro. “Foi difícil ficar 30 dias parado, a gente depende disso”, comenta.

Ele afirma que há muita incerteza de todas as partes sobre essa situação. “É ruim, porque a gente compra mercadoria e não sabe se pode trabalhar”, afirma. “A CMTU está perdida também, porque na segunda-feira eles fizeram a chamada normal, na terça eles nos avisaram que não podia, que a feira está na categoria de eventos e que por isso estaria proibida”, explica.

O feirante Mario César Ramos adotou estratégias de prevenção, como uso de máscara e distanciamento entre bancas
O feirante Mario César Ramos adotou estratégias de prevenção, como uso de máscara e distanciamento entre bancas | Foto: Laís Taine - Grupo Folha

Ramos conta que alguns colegas estão com dificuldades para retornar e com essa incerteza é ainda mais arriscado comprar produtos que não sabe se vai poder vender ou não. Apesar do fraco movimento, ele avalia a necessidade do retorno. “Acho que tem uma queda de uns 70% das vendas, mas a gente precisa começar para voltar ao normal, todo mundo saber que a gente está aqui”, argumenta.

José Antônio Baltazar, 68, é cliente fiel das feiras. Antes da pandemia, ele frequentava as barracas duas vezes por semana e comemora o retorno. “Não acho certo que proíbam, se supermercado, que é um negócio fechado, em que as pessoas se esbarram, pode funcionar, aqui também deveria, que é muito mais saudável”, afirma. O psicólogo aposentado também considera o fato de se tratar de produtores locais e pessoas que necessitam do trabalho.

José Antônio Baltazar se sente mais seguro ao fazer as compras na feira que nos supermercados
José Antônio Baltazar se sente mais seguro ao fazer as compras na feira que nos supermercados | Foto: Laís Taine - Grupo Folha

Depois de 30 dias afastados, Baltazar comenta que a retomada dos produtores pode ser alternativa para evitar aglomerações em ambientes fechados. “Eu me sinto muito mais seguro na feira, que no supermercado. Por mais que os estabelecimentos tomem os cuidados, lá ficamos mais próximos uns dos outros”, defende. “Fez muita falta, gosto do produto da feira, é mais saudável, tem mais qualidade, além de sustentar uma relação amigável com os feirantes”, sorri.

A fisioterapeuta Rita Obara, 48, menciona que está saindo o menos possível de casa, mas que sente muita falta de alimentos frescos, como frutas, verduras e legumes. Para evitar aglomeração, ela foi na feira do meio da semana. “Acho que domingo vai estar cheia, eu não viria”, acrescenta.

Ela aponta que os feirantes estão tomando medidas de prevenção. “Todo mundo de máscara, eles falam afastados da gente, estão cuidando”, afirma. Com saídas raras de casa, ela prefere ter a alternativa para realizar as compras. “Eu acho melhor vir à feira, que é ao ar livre, que ir ao supermercado”, compara.