"O solo está rachado e o que estou produzindo é quase um milagre", lamenta o produtor Geraldo Casaroto
"O solo está rachado e o que estou produzindo é quase um milagre", lamenta o produtor Geraldo Casaroto | Foto: Gina Mardones/02-05-2018



Os produtores estavam na expectativa, mas a chuva registrada na madrugada de terça-feira (31) na região de Londrina não deve amenizar os prejuízos de quem plantou milho e trigo. Segundo dados do Iapar (Instituto Agronômico do Paraná), choveu 4,8 mm, nem 10% da média esperada para o mês (73 mm). A estiagem já provocou perdas significativas nas lavouras.

O produtor Marcos Pereira, do distrito de Lerroville, disse que a chuva chegou de repente, mas não deve melhorar a situação de sua área de 21 alqueires de trigo. Ele contou que na semana passada até aplicou fungicida em parte da propriedade, já que estava na expectativa, mas deve acionar o seguro rural ainda esta semana. "O trigo até nasceu bonito, mas não desenvolveu. Deu essa chuvinha, mas não acho que vá salvar a situação. O que acabou segurando um pouco foi a palha, mas acho que já perdi (a área)."

Geraldo Casaroto planta aproximadamente 500 alqueires de grãos divididos pelos municípios de Londrina, Cambé, Ibiporã e Sertanópolis. Na área de milho, já colhida quase 70%, os resultados estão bem ruins. "Plantei entre 10 e 12 de março, veio uma chuva no dia 2 de abril, e depois são 45 dias de seca. O solo está rachado e o que estou produzindo é quase um milagre. O milho deve fechar com produtividade baixa, de 60 a 80 sacas por alqueire. Ano passado, a média ficou em 260 sacas por alqueire."

O analista de milho do Deral (Departamento de Economia Rural) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná, Edmar Gervásio, afirmou que o milho safrinha sofreu principalmente com a estiagem dos meses de abril e maio. Por causa disso, a previsão de produtividade caiu de 12 milhões de toneladas para 9,3 milhões, perda de 23%. Mais de 30% da safra do Estado foi colhida e a estimativa é de que até 15 de agosto atinja 50%.

Apesar da redução da safra, o preço do grão está atrativo. A saca está sendo comercializada a R$ 30. "Esta safra está com uma excelente lucratividade, mas não significa que o produtor não terá perdas", explicou Gervásio. A produtividade nacional também deve cair. A expectativa era de colher mais de 90 milhões de toneladas, mas deve ficar em torno de 80 milhões de toneladas do grão.

O trigo, além de sofrer com a estiagem, também enfrenta as altas temperaturas para o período. As máximas estão oscilando na casa dos 30ºC, bem acima dos 23,5ºC previstos para o mês de julho. As regiões Norte e Norte Pioneiro são as mais prejudicadas pela seca e pelo calor.

A previsão é de queda de 9% da safra. O Estado pretendia colher 3,4 milhões de toneladas de trigo. Boa parte das lavouras está na fase vegetativa, mas na região Norte o grão está mais precoce e já atingiu a fase de frutificação e floração, período em que a planta mais precisa de água.

Por enquanto, segundo Carlos Hugo Godinho, analista de trigo do Deral, o preço está bem acima da safra passada, em torno de R$ 50/saca. Mas pode despencar com a entrada do trigo argentino. "Eles tiveram aumento de área plantada e boas condições climáticas", comentou Godinho.