Chuva atrasa início da colheita de soja no Norte do Paraná

O excesso de chuva começa a preocupar os agricultores do Norte do Paraná. Com uma parte da soja já em fase de maturação, os produtores da região esperam só uma trégua no tempo instável para entrar com o maquinário no campo e iniciar a colheita. Produtores que não sofreram com a falta nem com a abundância de chuva em nenhuma das fases da cultura, agora, na reta final, temem o excesso de umidade que além de atrasar a retirada dos grãos do solo, propicia o surgimento de pragas e ainda ode prejudicar o início da cultura do milho safrinha.

Produtor rural de Rolândia, Odair Trevizan tem 600 hectares de soja cultivados na propriedade que administra com a família. Desde o plantio, entre setembro e outubro, não sofreu com problemas climáticos, mas agora, próximo do início da colheita, o sentimento é de apreensão. Uma parte da soja já está pronta para ser colhida. A expectativa é que ele pudesse entrar com as máquinas na lavoura a partir desta segunda-feira (20), mas a chuva atrapalhou os planos. “Essa soja que já está para ser colhida é a menor parte. A outra que eu tenho, que teve o plantio mais atrasado, aguenta um pouco mais. Nessa safra, esperamos colher umas 50 sacas por hectare, mas se chover muito, pode diminuir a produtividade”, afirmou o agricultor.

Outra preocupação de Trevizan é com o milho safrinha, que tem um prazo curto para ser semeado. “Estamos com tudo pronto para plantar o milho, mas se começar a atrasar a colheita da soja, atrasa o plantio do milho. E se demorar muito, a gente corre muito risco. A janela do milho safrinha é curta.”

Ricardo Amano está com a soja em fase de enchimento de grãos e ainda tem um pouco de milho da safra de verão nas terras que ele cultiva em Cambé e em Ventania. O atraso no plantio da soja acabou favorecendo o agricultor, que ainda depende de água para que as plantas cheguem bem na fase de maturação. “Mas mesmo tendo que chover para terminar de encher os grãos, a chuva já pode atrapalhar porque precisa de chuva, mas precisa de sol também. Muitos dias nublados não é muito bom para a plantação. Atrapalha quando começam a amarelar as folhas. Para a gente, o ideal é que pare de chover daqui a uns dez dias”, comentou.

ALTA DOS CUSTOS

O produtor acredita que dentro de 20 dias será possível iniciar a colheita. Ele mantém 160 alqueires de área de cultivo e a expectativa é colher cerca de 180 sacas por alqueire. “O que a umidade tem feito é aumentar um pouco o nosso custo de produção porque quando o ar fica mais tempo úmido, com menos períodos de sol, as doenças vêm com mais força. Como veio chovendo bem desde o início do ciclo, gastamos mais com fungicidas nas aplicações preventivas. O foco da ferrugem asiática está presente, não pode descuidar.”

A Cooperativa Integrada tem uma área de extensão bastante significativa, que vai desde o Oeste paranaense até o Sudoeste paulista, o que leva a uma diversificação no volume hídrico entre as lavouras. Em cada região, os agricultores trabalham com uma realidade climática.

Assim como o plantio começa no Oeste paranaense e vai subindo em direção ao Norte, o período da colheita também se inicia primeiro nos municípios do Oeste. Por enquanto, o que se tem são áreas de quebra de produtividade, entre 20% e 25% abaixo do esperado, em razão da falta de chuva em algumas cidades da região. Quem realizou o plantio em setembro, sentiu os efeitos da estiagem na fase de enchimento dos grãos.

A seca, no entanto, não comprometeu todas as lavouras daquela região. As culturas de soja em Ubiratã e Guaíra, por exemplo, não sofreram o impacto da falta de chuva. Por outro lado, os relatos dos agricultores próximos a esses municípios são de aumento de pragas e doenças de final de ciclo, sendo a ferrugem, a cercosporiose, a mancha alvo e o oídio as principais delas.

“Os agricultores que optaram pelo manejo fitossanitário mais econômico, reduzindo investimento em tecnologia, a gente já começa a visualizar alguns danos ocasionados por doença devido à alta umidade relativa e às chuvas”, disse o gerente técnico da Cooperativa Integrada, Wellington Xavier Furlaneti.

No Norte, o excesso de chuvas, principalmente nos últimos dias, ainda não deu sinais de que irá prejudicar a produtividade nas lavouras de soja, mas se o tempo chuvoso continuar por muitos dias, a colheita pode atrasar. “Tivemos bastante chuva nos últimos dias. Em algumas regiões, passou de 200 milímetros. A umidade vai segurar uma boa produtividade, mas não pode chover mais pelas próximas semanas”, observou Furlaneti.

METEOROLOGIA

Segundo o Simepar (Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná), o clima mais chuvoso deve se manter pelos próximos dias na Região Norte do Estado. Para esta terça-feira (21), a precipitação deve ficar em 16,8 milímetros. Até o dia 4 de março, a previsão é de instabilidade climática com temperaturas mais amenas, oscilando entre 18 e 27 graus.

Deral não registra impactos negativos nas culturas agrícolas

O último boletim emitido pelo Deral (Departamento de Economia Rural), da Seab (Secretaria da Agricultura e do Abastecimento), informava que no período de 7 a 13 de fevereiro as chuvas causaram danos às estradas rurais do Norte e Centro-Oeste paranaense, com a interdição de alguns trechos da BR-369, mas ainda não havia registros de impactos negativos nas culturas agrícolas.

De acordo com o informativo do Deral, a colheita nessas duas regiões começou de forma lenta, mas com produtividade dentro do esperado, com certa apreensão pela retração de preços.

O café, na fase de frutificação e enchimento de grãos, tem respondido bem aos tratos culturais e as condições climáticas estão favoráveis ao desenvolvimento da cultura. Também segue “a contento” o plantio das culturas da segunda safra de feijão e de milho, com bom desenvolvimento das lavouras já implantadas, avaliou o Deral. “Graças às chuvas recentes, os rios e mananciais da região apresentam boa quantidade de água e as pastagens estão em boas condições para os rebanhos”, afirmou o boletim.(S.S.)

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