Agência Estado
De Brasília
O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Edward Amadeo, acredita que 1999 foi ‘‘o ano dos choques de oferta’’. Entre esses choques, ele citou a elevação dos preços do petróleo e derivados, dos produtos agrícolas, da carne, do álcool, dos automóveis e das tarifas públicas.
A inflação provocada pela alta desses produtos não resultou de um excesso de consumo, mas da escassez dessas mercadorias ou por questões que independem dos consumidores, como no caso da energia elétrica e dos telefones, cujas tarifas foram reajustas com base em um índice de preços definido nos contratos de concessão. Essa inflação é classificada como de ‘‘oferta’’ para diferenciá-la da inflação de ‘‘demanda’’.
Os choques de oferta intensificaram-se por volta de setembro e alguns ainda não foram totalmente superados. Por causa deles, a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) não deverá fechar o ano nos 8% fixados como meta pelo governo, mas deverá ficar perto de 8,9%.
A inflação esteve entre os principais itens de preocupação do governo no fim do ano passado. Paradoxalmente, no entanto, foi justamente da área de preços que veio a melhor notícia do ano para a equipe econômica: mesmo com a maxidesvalorização do real, promovida em janeiro, a inflação não disparou, ao contrário do que a maioria dos economistas esperava. ‘‘O grande dividendo do ano passado foi a consolidação da estabilidade no Brasil’’, comentou o secretário de Política Econômica.
A primeira fonte de pressão sobre a inflação surgida no ano passado foi justamente a queda do valor do real ante o dólar. Ela fez subir os preços de produtos importados, o que foi captado principalmente pelos índices de inflação que levam em conta os preços no atacado. Nem todo o efeito foi repassado para o varejo porque não havia mecanismos de indexação dos preços, e a atividade econômica estava em baixa. Um grande trunfo para o governo foi a ausência de mecanismos de indexação salarial. Os preços no atacado subiram, mas não houve expansão da renda do consumidor na mesma proporção. Por isso, os aumentos não chegaram ao varejo.